Fernando Gusen
CANELA – A Secretaria da Saúde reuniu a imprensa e vereadores na tarde de terça-feira, para anunciar a renovação da intervenção Municipal no Hospital de Caridade de Canela. O decreto que declara estado de calamidade pública foi assinado pelo prefeito Constantino Orsolin no dia 24 de outubro e valerá por mais seis meses, até 24 de abril de 2020.
No encontro de terça-feira, o secretário de Saúde, Vilmar Santos, destacou a necessidade de realizar a intervenção na Casa de Saúde. De acordo com ele, não fosse essa medida o hospital já estaria fechado, tamanha era a gravidade financeira do HCC. Conforme os dados apresentados, desde o início da intervenção todas as contas criadas foram rigorosamente quitadas, além do pagamento de alguns compromissos firmados há mais tempo e que estavam pendentes. O grande desafio é equilibrar as contas, fazendo com que despesas e receitas se equalizem, o que historicamente sempre destoaram com despesas maiores que receitas.
A advogada Adriana Seibel, integrante da empresa responsável pela gestão hospitalar do HCC,reveloualguns dados pontuais. Ela explicou que estes seis primeiros meses de intervenção tiveram como um dos objetivos identificar dados sobre dívidas, custos e pagamentos. Ela também contou que foi possível cortar alguns gastos e, por outro lado, os aportes mensais do poder público – em média de R$ 300 mil mensais – impediram o aumento do déficit financeiro e proporcionaram a quitação de débitos trabalhistas dos funcionários e dos honorários dos médicos.
Mesmo com a dívida estancada com os recursos do Município, o Hospital de Caridade mantém pendentes débitos como do FGTS (mais de R$ 2 milhões) e 16 execuções fiscais da Receita Federal. Por causa de valores como esses, a dívida estimada é de R$ 25 milhões. “Está em torno disso, mas não tem como dizer precisamente quanto é o valor exato da dívida, porque ainda estamos encontrando documentos”, comentou, esclarecendo que pode, inclusive, ficar acima de R$ 25 milhões.
A expressiva cifra e o fato de a comunidade contar com o Hospital de Caridade de Canela fizeram a Prefeitura prorrogar a intervenção que completará um ano em abril. “Nós sabemos da gravidade da situação, mas a comunidade tem que continuar ajudando. Mudar alguns costumes da nossa cultura, que é procurar o hospital quando o problema pode ser resolvido na unidade de saúde. Só isso desafogaria o hospital e agilizaria o atendimento”, exemplifica o secretário de Saúde Vilmar Santos.
PAGAMENTOS–Nos gastos com folha de pagamento, energia elétrica, telefone, alimentação, médicos, limpeza, rescisões e outros custos, a conta do mês de setembro fechou em R$ 1.402.726,22. Este valor apresenta um decréscimo com relação aos últimos quatro meses. Em junho, por exemplo, o custo total pago foi de R$ 1.709.219,75.
A maior fatia é no pagamento para os médicos, que ficou em R$ 481 mil em setembro. A folha com os vencimentos dos demais colaboradores foi de R$ 303,7 mil. Com intuito informativo, destacam-se outros itens da planilha de custos como, por exemplo, R$ 19,6 mil de gasto em energia elétrica, R$ 26,9 mil em exames laboratoriais, R$ 129,9 mil em materiais e medicamentos. No caso da alimentação, em junho, houve um gasto de R$ 35 mil enquanto que em setembro fechou em R$ 10 mil.
73% dos atendimentos não têm urgência
Uma das principais reclamações das pessoas que procuram atendimento no HCC é quanto a demora no atendimento. O Hospital está utilizando uma classificação de risco recomendada pela Organização Mundial da Saúde e praticada em todo o mundo, fazendo um pré-atendimento que determina a urgência de cada caso. A situação de cada paciente é identificada por cores.
A cor vermelha é para emergências e devem receber atendimento imediato. A cor laranja define os casos considerados muito urgentes cujo atendimento deve acontecer em até 10 minutos. A cor amarela identifica os casos urgentes e o atendimento precisa ser feito em no máximo meia hora. A cor verde é para os casos com pouca urgência, que podem levar até duas horas e, por fim, a cor azul, para casos sem urgência e que determina que o atendimento ocorra em até quatro horas.
Nos últimos seis meses, de maio a outubro, o HCC atendeu um total de 21.054 pacientes. Conforme a classificação de risco, foram apenas 96 casos de emergência (vermelha) e 421 casos muito urgentes (laranja). A cor amarela, para casos urgentes, teve 5.234 pacientes. E foram 11.551 classificados com a cor verde e 3.752 com a cor azul. Ou seja, 73% das pessoas que procuraram atendimento no HCC durante este período foram de casos sem urgência (azul e verde) e que poderiam ter sido resolvidos nas Unidades Básicas de Saúde dos bairros.
Conforme os registros da sala de atendimento do HCC, em setembro, 268 pessoas esperaram mais de duas horas para ser atendido, o que representa 8% do total do mês. 778 pacientes tiveram que aguardar entre uma e duas horas e 892 usuários ficaram entre 30 e 60 minutos até serem chamados. Para os demais atendimentos o tempo de espera foi inferior a 30 minutos, sendo 1.482, ou seja, 43% dos atendimentos. Em outubro o número de atendimentos com menos de 30 minutos de espera foi ainda maior, chegando a 47% do total.