Matéria publicada no dia 03/10.
CANELA – A informação de que a Prefeitura deverá pagar R$ 10 milhões pela desapropriação do prédio da Rua Constantino Fernandes Raymundo, no Centro, onde funcionam a Escola de Educação Infantil Ingo Lied e a quadra de futebol society Ingool, caiu como uma bomba sobre famílias, professores e a própria direção da instituição de ensino. O espaço, que poderá ser transformado em uma escola-modelo de ensino fundamental em tempo integral, foi declarado de utilidade pública por decreto municipal publicado no dia 16 de setembro, mas até agora, segundo a mantenedora, não houve comunicação oficial da Prefeitura à comunidade escolar diretamente envolvida.
Soube pela imprensa
Entre as mães de alunos, o clima é de apreensão. Daiane Vacari, mãe de um menino de quatro anos matriculado na Ingo Lied desde o Berçário I, diz que ficou sabendo da notícia por meio da reportagem de jornal. “O sentimento nesse momento é de incertezas e medo, pois nossos filhos estão acostumados com a rotina escolar dessa escola, onde são muito bem acolhidos. A nossa busca de respostas nesse momento é para que tenhamos tempo hábil para encontrar outro local, para que a mudança ocorra com toda a escola — alunos, professores e colaboradores — e não realocar as crianças em outras escolas, separando todos”, afirmou.
Daiane reforçou a importância da instituição para sua família. “Amamos essa escola, todos os profissionais que lá atuam são extremamente cuidados, amorosos e muito dedicados, além da direção ser extraordinária. Um exemplo disso é ver as atividades elaboradas em datas comemorativas. A comunidade escolar da Ingo Lied merece uma resposta para continuar seu trabalho com êxito e tranquilidade, em saber que todos os empregos permanecerão e as crianças ficarão juntas até o final do ciclo da educação infantil.”
Escola referência e comunidade envolvida
Amanda Deon, mãe de uma menina de 4 anos matriculada na Ingo Lied, também relatou ter sido surpreendida com a informação da desapropriação pelas redes sociais. Ela destacou a dedicação da escola e o envolvimento das famílias nas atividades propostas.
“A escola ali é muito boa. Uma coisa que me chama atenção, que eu não vejo em outras escolas, é a dedicação. Sempre estão fazendo algo diferente. Agora, por exemplo, na Semana da Criança, já na entrada a porta está enfeitada, os professores e a diretora se fantasiam, decoram toda a escola. Isso acontece em todas as datas comemorativas: Dia das Mães, Dia dos Pais, sempre com atividades que envolvem as crianças de forma lúdica”, disse
Amanda ainda lembrou da Semana da Família, realizada em junho. “Foi uma coisa muito legal, porque passamos uma semana inteira indo na escola, no final do dia, para brincar com as crianças, participar de gincanas que valiam prêmios. É isso que eu gosto da Ingo: ela inclui até os familiares na escola. Eles não querem só ensinar teu filho, mas também ensinar os pais a participarem da vida escolar. Isso é muito bacana”, relatou
Para ela, esse vínculo transforma a escola em algo insubstituível. “Quem tem filhos ali sabe como é. E é por isso que a gente não quer que essa escola acabe. Muitas vezes, sem muitos recursos, eles conseguem transformar as atividades em algo magnífico. A gente não quer perder isso”.
Instabilidade na comunidade escolar
A Associação Educacional Cidade das Flores, mantenedora da escola, também se manifestou oficialmente. Em nota enviada à reportagem, a entidade afirmou que, assim como pais e professores, também foi pega de surpresa pela notícia.
“A Associação Educacional Cidade das Flores, mantenedora da Escola de Educação Infantil Ingo Lied, localizada na Ingool, teve conhecimento pela imprensa que o Município de Canela desapropriou o imóvel da Ingool, local em que temos instalada uma escola de educação infantil há mais de 11 anos, atendendo atualmente 145 alunos de creche e pré-escola, conveniados com o ente Municipal. Ainda não recebemos uma comunicação oficial da Prefeitura Municipal de Canela/RS sobre a desapropriação e o que a Secretaria de Educação pretende fazer em relação à unidade escolar estabelecida naquele local. A notícia gerou instabilidade na escola e na comunidade atendida.”
Diretora fala em “lar afetivo” e pede solução que considere as famílias
A diretora da escola, Rita Fabiani, também demonstrou preocupação com o futuro da instituição e da comunidade escolar. Segundo ela, a Ingo Lied não é apenas uma unidade de ensino, mas um espaço de acolhimento.
“Estamos há 11 anos construindo uma escola que se tornou referência, um verdadeiro modelo de educação e acolhimento. A Escola Ingo Lied não é apenas um espaço físico, é um lar afetivo para nossas crianças, um lugar onde cada detalhe é pensado com carinho e dedicação. Nossa maior preocupação é com as crianças e famílias que atendemos. A escola já faz parte da vida delas, é um espaço onde vínculos de confiança, segurança e afeto foram estabelecidos. O ato da desapropriação do imóvel não levou em consideração o impacto humano e social dessa mudança. Esperamos uma solução que atenda o interesse das crianças e da comunidade escolar.”
“Nada será imposto”
Diante da repercussão, a reportagem do Jornal Integração busco a Secretaria da Educação para falar sobre o assunto. O secretário-adjunto de Educação, Evandro Nunes, afirmou que a Prefeitura ainda está na fase de conversas e diálogos.
“Esse assunto é assim: quanto a essa questão de realocar vagas, se acontecer de fato toda essa tramitação… Nós estamos numa tramitação das possibilidades. Primeiro, temos que conversar com a dona da associação, a Adriana, que é a gestora da Associação das Flores. O primeiro diálogo acontece com ela, porque a gente não pode também invadir o espaço da escola sem conversar com a gestora. Lá tem uma diretora, mas eles são regidos por essa associação”, explicou
Segundo ele, nada será decidido sem debate. “O Município tem um planejamento, mas esse planejamento tem que ser debatido. Não é nada imposto. Há conversas e diálogos. Depois de falar com a associação, vamos às famílias, às diretoras e organizar isso. Seria basicamente essa a estrutura.”
O que está em jogo
O prédio da Ingool e da Ingo Lied tem 2.500 metros quadrados de área construída em terreno de 4.500 metros quadrados. A Prefeitura publicou decreto declarando o espaço de utilidade pública e apresentou avaliação técnica no valor de R$ 10 milhões, a serem pagos em três parcelas de outubro a dezembro de 2025. No mesmo local, além da escola, funciona a quadra esportiva Ingool, também atingida pela desapropriação.

Apesar do processo administrativo em andamento, o Município reforça que ainda busca acordo amigável com os proprietários e, em caso de impasse, poderá recorrer à via judicial para assegurar a posse. Enquanto isso, a comunidade escolar vive dias de incerteza.
Para as mães, professores e direção, a preocupação central é garantir que os 145 alunos da Ingo Lied e seus professores não sejam dispersados. “Queremos que nossos filhos sigam juntos, que os professores e colaboradores continuem, e que a escola possa ter tranquilidade para encerrar o ciclo da educação infantil”, resume Daiane Vacari.