Coluna publicada no dia 14/10.
O Parque do Lago está mudando. E não é só a paisagem que está diferente — é o próprio espírito do lugar. Quem passa por ali agora vê a máquina em ação, tirando aquela camada espessa de vegetação que cobria a água há anos. É o lago voltando a respirar, voltando a se mostrar. E, junto com ele, parece que a cidade também respira um pouco melhor.
Há muito tempo se falava em fazer algo ali. Tinha projeto, tinha estudo, tinha vontade, mas faltava começar. E começou. E isso, por si só, já é uma notícia boa demais pra deixar passar batido. O que está acontecendo é o início de uma verdadeira revolução ambiental, que vai muito além de uma simples limpeza.
A ideia é transformar o Parque do Lago num espaço vivo, bonito, com estrutura, com propósito. Um lugar que una lazer, consciência ambiental e pertencimento. Como tivemos no último final de semana, por exemplo, com Feira Canela + Verde.
Mais do que limpeza
O que muita gente ainda não percebeu é que o trabalho que começou ali não se limita a tirar o mato de dentro da água, como já acontecia antes. O que está sendo feito é o começo de um novo ciclo. A limpeza é o primeiro passo de uma reorganização completa do lago, que envolve tecnologia, engenharia ambiental, cuidado ecológico e visão de futuro.
O plano é grande. E ambicioso. Além da limpeza da lâmina d’água e do roçado no entorno, o Parque do Lago vai receber equipamentos modernos para melhorar a qualidade da água — aeradores ascendentes com LED, que ajudam a oxigenar e dão um novo visual pro espaço, principalmente à noite.
A reforma do vertedouro vai permitir controlar melhor o nível da água e prevenir alagamentos, uma ação inteligente depois de tudo o que o Estado viveu nos últimos anos. E, no meio disso tudo, há uma preocupação que dá gosto de ver: o cuidado com a fauna, com as aves, com os pequenos seres que fazem parte daquele ecossistema.
A ideia é que o Lago volte a ser não só um cartão-postal, mas um organismo equilibrado — bonito, saudável e simbólico pra cidade.
Planos e futuro
Mas o que mais chama atenção é o que vem pela frente. O projeto deverá incluir a construção de uma ponte que vai atravessar o lago, ligando uma ponta à outra, e permitindo que as pessoas caminhem literalmente sobre a água. A ideia é que essa estrutura tenha um deck central, com bancos, espaço pra contemplar o lago e observadores com binóculos — daqueles que a gente vê em mirantes turísticos — pra olhar a paisagem e as aves que vivem ali.
Também estão previstos painéis informativos, com os nomes e características da avifauna local, pra que visitantes e moradores possam conhecer melhor as espécies que convivem naquele ambiente. Um jeito bonito e educativo de transformar o parque num espaço de lazer e aprendizado ao mesmo tempo.
E o mais importante: tudo isso está sendo feito com um olhar voltado pra comunidade. Porque não adianta nada revitalizar o espaço se o morador não se sentir parte dele. O Lago precisa ser da cidade — e a cidade precisa gostar dele.
A palavra comunidade
Talvez o que mais me chamou atenção, em toda a conversa que tive hoje no Parque, foi essa palavra: comunidade. Ela apareceu o tempo todo. A comunidade que vai aproveitar, a comunidade que precisa cuidar, a comunidade que precisa gostar do que está sendo feito.
E é exatamente aí que mora a beleza da coisa. Porque o Parque do Lago, assim como o Parque do Palácio, é um patrimônio coletivo. E se o canelense não tomar pra si esse sentimento de pertencimento, de cuidado, de amor pelo lugar, de nada vai adiantar a tecnologia, as luzes ou os aeradores.
A transformação só vai ser completa quando o povo sentir que o Lago também é dele. Quando cada morador entender que o parque é uma extensão da própria casa — e que cuidar dele é cuidar de si mesmo.
Máquina pública
Hoje de manhã, conversando com o Cláudio no Chimarrão & Atualidade, a gente comentava sobre a máquina pública. E chegamos à mesma conclusão: a prefeitura, como estrutura, é feita pra não dar certo. É um sistema tão cheio de etapas, papéis, autorizações e trâmites que, às vezes, destrói a energia de quem quer fazer as coisas acontecerem.
O cara entra cheio de vontade, cheio de ideias, e vai se desgastando, vai se perdendo na burocracia. É um desafio enorme conseguir transformar intenção em obra, desejo em realidade.
E é por isso que esse momento no Parque do Lago tem um valor ainda maior. Porque não é só a vegetação que está sendo tirada dali — é como se fosse arrancada também uma parte dessa inércia, dessa demora que trava os projetos públicos. O que está acontecendo ali mostra que, sim, é possível sair do papel.
Visionários
E quando a gente fala em sair do papel, é inevitável lembrar do prefeito Gilberto Cezar. Foi ele quem, tempos atrás, usou uma expressão que agora faz mais sentido do que nunca: a Revolução.
Eu me lembro bem de ter dito pra ele, numa das conversas que tivemos, que tomara que todas as ideias que ele tem saiam do papel. Porque ele é um cara que pensa à frente. Tem uma visão ampla da cidade, de cada espaço, de cada potencial. Ele imagina possibilidades onde muita gente só enxerga um terreno comum.
E não é exagero dizer que, se dentro da Prefeitura tivesse 10 ou 15 Gilbertos, muita coisa já estaria saindo do papel. Mas o curioso é que ele encontrou no secretário Carlos Frozi e no biólogo Alekos Elefthérios dois aliados que seguem o mesmo estilo: gente que não se acomoda, que pensa longe, que não mede esforço pra colocar uma ideia de pé.
Frozi é um caso à parte. Poderia estar tranquilo, aproveitando a vida depois de uma longa carreira, mas escolheu continuar trabalhando, servindo, acreditando que ainda dá pra fazer mais. E dá mesmo. É esse tipo de pessoa que faz diferença— aquelas que carregam uma mistura rara de experiência e inquietude.