MARTINA BELOTTO
GRAMADO – O olhar atento dos alunos à explicação dos professores dá lugar a uma nova dinâmica. Em meio ao clima de concentração, surge a vinheta que anuncia mais um programa da Maxicultura, rádio interna da Escola Municipal Maximiliano Hahn. A escuta dos estudantes se dirige aos recados passados pelas caixas de som, colocadas dentro de cada sala de aula. Ao menos duas vezes por semana, a programação da rádio invade as salas por dez minutos, período em que são realizadas atividades entre professores e alunos.
Toda a comunicação importante do colégio é realizada pela rádio. Divulgação de datas e informações são passadas pelas caixas de som. Em dias chuvosos, até mesmo a hora cívica (momento em que são executados os hinos nacional e estadual) é feita por meio da transmissão da rádio interna. Mas não é somente de avisos que é constituída a programação da Maxicultura. Momentos de descontração e diversão, com músicas e concursos, também são trazidos aos alunos.
Criada em 2010, a Maxicultura é dirigida pelos professores Erivelton Tomazoni e Thayse Ludwing Martins e pela vice-diretora Elisabete Hausmann. Somam-se ao time de professores cerca de dez alunos de turmas variadas, que auxiliam na criação da programação. A transmissão é feita por cabos, que passam internamente pelo colégio e chegam às caixas de som. “Ensinamos eles como montar uma programação e entender o funcionamento da rádio. Convidamos aqueles que tenham interesse em aprender. Esse treinamento é para que eles possam assumir a rádio”, explica Elisabete.
Para que os interessados não sejam prejudicados com o andamento das disciplinas, as atividades da rádio são realizadas em contraturno escolar. As transmissões para as salas de aula também são breves, com duração de no máximo dez minutos. “Temos esse cuidado. Também pensamos nos dias para não cair em algum momento de provas ou trabalhos importantes”, comenta Erivelton. Geralmente, as transmissões acontecem nas terças e quintas-feiras, às 8h, e nas quartas-feiras, às 14h. Os horários programados acabam gerando expectativas entre os alunos.
Um desses momentos é a disputa do concurso Soletrando, inspirado no programa do Caldeirão do Huck, da Rede Globo. Em sua terceira edição, o concurso é totalmente realizado por meio da rádio. Os professores chamam alunos representantes de cada turma para irem ao estúdio soletrar algumas palavras sorteadas. Os acertos dos estudantes somam pontos e, no decorrer do concurso, surgem os vencedores de cada sala de aula. No final, a disputa escolhe o grande vencedor de toda escola. “Dentro das salas, eles ficam torcendo pelos colegas e comemorando os acertos deles”, conta Elisabete.
Atividade desperta engajamento e dedicação
Ser chamado para participar da programação da rádio é um momento divertido para a garotada. Alunos do 4° ano, Érika, Eric e Laura contam que ficaram nervosos ao representar a turma durante a disputa do Soletrando. “Eu gostei, é uma coisa bem diferente pra gente. Só fiquei um pouquinho nervoso na hora”, conta Eric, de 10 anos. “Eu já gostava da rádio, sempre tem recados importantes, mas participar do Soletrando é muito legal e divertido”, acrescenta Érika, de 9 anos.
A expectativa para participar da Maxicultura desperta a vontade de estudar e se preparar para o concurso. Como os alunos são escolhidos de surpresa, o suspense é maior. “A gente já estava estudando dentro da sala de aula, porque a gente não sabia quando ia ser chamado”, comenta Laura, de 9 anos.
Já para Gisele de Oliveira, aluna do 7° ano, a rádio é uma atividade importante para se distrair e para aprender. Ela é uma das estudantes inscritas para auxiliar na programação da Maxicultura. “Pra mim, quanto mais coisas eu faço é melhor. Não gosto de ficar em casa sem fazer nada. Então, sempre procuro participar das coisas da escola no turno que eu não estudo”, afirma.
Com personalidade comunicativa, Gisele não vê problema em falar na rádio. “Eu ainda não sei qual profissão quero seguir no futuro, mas não sou uma pessoa tímida, pra mim é legal a rádio. Sempre achei muito interessante a transmissão que fazem durante as aulas, por isso decidi participar”, completa a estudante de 12 anos.
A interação dos alunos com a rádio é avaliada positivamente pelos professores. Atualmente, o estúdio passa por reforma na parte acústica e, inclusive, os estudantes estão auxiliando na organização do espaço. “Fizemos um concurso de escolha do novo mascote e da nova logomarca da rádio, e eles participaram com muita animação. Agora vamos pintá-los dentro do nosso estúdio”, relata Thayse.
Para Elisabete, o projeto de rádio é uma forma de aproximar professores e alunos, além de proporcionar aprendizado para a garotada. “A gente tem uma interação fora de sala de aula, mas ainda com um viés educacional. Alguns estudantes são muito introvertidos e, com a rádio, eles precisam tomar uma dose de coragem para vencer a timidez na hora de participar”, aponta. “É um vínculo entre professores e alunos pela rádio, porque une comunicação e diversão”, ressalta Thayse. “Também vemos que para eles é uma coisa diferente. Quando colocamos alguma música, eles ficam cantando, dançando, é uma distração”, completa Erivelton.
Escola estimula participação dos estudantes
Localizada no bairro Carniel, a Escola Maximiliano Hahn conta com 256 alunos divididos em 13 turmas, nos turnos da manhã e da tarde. Mesmo considerado um colégio pequeno, a diversidade de atividades proporcionadas aos estudantes é surpreendente. Rosenei Aparecida Boeira da Silva, diretora há mais de 20 anos, apresenta uma lista com quase dez projetos.
Além da iniciativa da Maxicultura, estão em andamento novos projetos. Um Pátio Pedagógico está sendo colorido no chão da entrada da escola, pelos próprios professores, para que a garotada possa se distrair no intervalo, na entrada e na saída das aulas. A escola também possui um Clube de Xadrez e um Clube de Ciências. Ainda, conta com os Treinos Esportivos para as olímpiadas escolares e com as aulas de Reforço Escolar, ambos em período de contraturno.
Fora esses projetos, existem a Hora do Conto e a Hora da Leitura, projetos que aproximam os alunos da literatura. Inclusive, um dos espaços mais procurados pelos estudantes é o segundo andar do colégio, onde fica localizada a biblioteca repleta de livros. “É umas das mais completas do município. Compramos aquilo que eles têm vontade de ler, como lançamentos”, destaca Elisabete. A aluna do 7° ano, Eduarda Mapelli, de 12 anos, estuda no turno da manhã, mas é encontrada quase todos os dias durante a tarde debruçada nos livros da biblioteca. “Adoro esse espaço, a leitura incentiva nossa criatividade”, salienta.
Para que todos esses projetos se tornem possíveis, a escola recebe auxílio do CPM, do Grêmio Estudantil e, até mesmo, de professores que trabalham voluntariamente. “Fazemos gincanas e outros concursos ao longo do ano. Precisamos de muita parceria para adquirir recursos e manter essas ideias. Por sorte temos um ritmo intenso e pessoas muito interessadas. Até mesmo no nosso Grêmio, feito por alunos, encontramos parceria”, frisa Elisabete.