GIAN WAGNER.
GRAMADO – Reinvenção e criatividade precisaram ser alinhadas pelo setor chocolateiro para contornar a crise que se instalou com o início da pandemia do coronavírus. O setor foi um dos mais impactados não somente pela parada do comércio, mas também pela coincidência do início da pandemia no Brasil com o período que antecede a Páscoa, que aumentaria as vendas de produtos feito para a data.
A produção dos itens de Páscoa começou ainda em novembro do ano passado, conforme informou o presidente Associação da Indústria e Comércio de Chocolates de Gramado (Achoco), Jaderson Souza. “Recebemos este impacto do num momento crítico para o setor. Iniciamos nossa produção de Páscoa em novembro e nossa produção estava toda pronta. No momento de comercializar nossos produtos, tivemos a parada”, conta Souza.
A perspectiva no início é que 85% da produção para a Páscoa ficasse parada no estoque, situação que foi contornada pelos chocolateiros com mudança de postura, foco na inovação e forte clientela local. “Focamos bastante na venda pela internet. Para o cliente que não pode vir até Gramado, a Páscoa foi até ele. Todas as empresas fizeram promoções em seus sites”, explica Jaderson. “Tivemos também uma espetacular acolhida da comunidade. Muitas vendas foram realizadas ao público local através de tele-entrega, onde entregamos os produtos na casa dos clientes. Hoje a projeção é de que 40 a 50% permaneçam em nossos estoques”, conta. A projeção atual é bastante menor que a inicial (de 85%), mas ainda mostra que quase metade da produção ficará parada no final do período de Páscoa.
PRODUTO PERECÍVEL – Além da data de ‘vencimento’ dos produtos por serem feitos exclusivamente para a Páscoa, outro vencimento preocupou os chocolateiros: o prazo de validade do chocolate. “Nossas empresas trabalham com produtos perecíveis que foram produzidos especialmente para esta data. O objetivo de nossas lojas não é primeiramente atrair turistas, mas sim atender principalmente a população local, que também é grande apreciadora de nossos chocolates”, disse o presidente.
“Esta medida (abertura do comércio de chocolates) também foi adotada em outras cidades e estados. As lojas especializadas em chocolate vinculadas àAchoco irão abrir tomando todos os cuidados informados pelos órgãos públicos”, explica Souza, reforçando que a flexibilização que permite a abertura do comércio de chocolate ocorre apenas em Gramado, e não em Canela.
Aposta no chocolate artesanal
O futuro é uma incerteza para as pessoas que a cada dia veem novos anúncios, decretos e um grande debate sobre como enfrentar a pandemia. O setor chocolateiro também vive com incertezas, mas acredita fortemente na reinvenção e na criatividade. “Para o futuro vemos que precisamos nos reinventar, sermos criativos, apostar no que temos de melhor,que é o nosso chocolate artesanal. A cidade onde nasceu o chocolate artesanal do Brasil irá passar por este momento. Temos 2 mil colaboradores na cadeia produtiva e comércio de chocolate em nossa cidade. Precisamos ter um cuidado e uma atenção com eles”, avalia o presidente da Achoco. “Precisamos o quanto antes conseguir junto ao INPI o selo de procedência do chocolate de Gramado. Isto fará com que o consumidor que tiver um produto com selo em suas mãos saber que se trata de um produto fabricado sobre requisitos altos de qualidade e que realmente foi produzido na cidade de Gramado. Atualmente existem empresas que fabricam em outras cidades e vendem o chocolate como se fosse de Gramado. Vimos também neste momento crítico o quão é amado e reconhecido nosso chocolate na comunidade e no Brasil. Tivemos apoio de muitas pessoas e precisamos fomentar um pouco mais a venda online”, projeta Souza.