Moradores do Bairro Floresta na Corsan reivindicando soluções para a falta de água
GIAN WAGNER
GRAMADO – A falta de água e os problemas com o abastecimento voltaram a ser um problema para Gramado. As reclamações de desabastecimento iniciaram praticamente junto com a chegada do verão, poucos dias antes do Natal.
Os locais com maiores incidências de falta de água são nas localidades mais distantes do Centro, como o loteamento Mazzurana, Celita e Altos da Viação Férreana Várzea Grande. Vale dos Pinheiros, um dos locais mais altos de Gramado, também sofre com a escassez.
No Vale dos Pinheiros o problema iniciou na quarta-feira (25) e persistiu o final de semana todo. Na segunda-feira (30) o abastecimento ainda não tinha normalizado. “De noite funcionou um pouco (o abastecimento) e encheu o reservatório”, conta a moradora do bairro, Lúcia de Moraes Gubert, 58 anos.
Lúcia mora com outras cinco pessoas, entre elas uma criança de 11 anos. Quando o abastecimento é interrompido, o que ajuda a família a não ficar completamente sem água é o pequeno reservatório de 500 litros e o irmão, que trabalha em um sítio próximo que tem poço artesiano. “Se não fosse meu irmão nos ajudar, não sei como faríamos. É muito ruim ficar sem água. Consegui lavar as roupas sujas hoje de manhã (dia 30) com a água que veio pro reservatório na madrugada”, conta.
TRABALHA PARA MANTER ABASTECIMENTO – Com o grande número de reclamações oriundos de diversos bairros, a Corsan emitiu uma nota na tarde de sábado (28). Na nota, a empresa disse que trabalha para manter a normalidade de abastecimento em Gramado e Canela.
A Corsan alegou ainda que o período é de lotação nas cidades, o que aumenta a demanda por água. “A Companhia produz 35 milhões de litros de água por dia nas estações de tratamento localizadas em Canela, e a distribuição está sendo reforçada com o transporte de um milhão e meio de litros provenientes da Estação de Tratamento de Água de Três Coroas. Os 12 caminhões que fazem o transporte dessa água estão abastecendo reservatórios de hotéis, pousadas e condomínios que solicitam o atendimento”, diz a nota.
A empresa afirmou ainda que realizou uma série de investimentos na região e pediu que a comunidade “evite desperdícios e consuma de forma consciente”.
Mazzurana normalizou, por enquanto
Os problemas no loteamento Mazzurana iniciaram no começo da semana passada. Algumas reclamações pontuais já eram vistas nas redes sociais desde o início do mês de dezembro, mas o ápice da falta de água iniciou poucos dias antes do Natal.
O abastecimento normalizou no início desta semana. Porém, o que mais incomoda os moradores é a recorrência do problema. “Só neste ano já teve umas quatro faltas de água. Às vezes dura um dia, dois, nesta última foram três dias sem água”, conta Osmar Ceschini, 52 anos, que mora no bairro há três meses. “Precisávamos de um poço aqui, ou um reservatório”, disse o morador. Para suprir momentaneamente o problema da falta de água, a resposta está na ponta da língua: “A gente precisa comprar água no mercado para poder beber”.
Outra moradora do loteamento, Janaína Vidal, conta que o problema é antigo. Ela mora há quatro anos no local e conta que todo ano a escassez se repete nesta época. “A gente precisa se virar. Vamos na casa do meu irmão para tomar banho, compramos água para beber no mercado e deixamos de fazer muitas coisas porque não tem água”, explica ela.
NAS REDES SOCIAIS –Pela internet não faltaram críticas à Corsan. “No Morro dos Cabritos estamos desde a véspera de Natal sem água. Às vezes chega de madrugada e quando é pela manhã já não tem mais”, disse Gilmar Santos em uma publicação no Facebook do Jornal Integração.
Conforme a Corsan, para levar água para os pontos mais altos de Gramado, o abastecimento de alguns lugares é desligado durante a madrugada. Por este motivo alguns moradores chegaram a receber água durante a noite. Quem tem reservatório conseguiu encher para ter água para o dia seguinte. Porém, quem não tem, fica à mercê de ter água apenas na madrugada e aguardando a estatal resolver o problema.
Já a internauta Ana Oliveira, também de Gramado, disse que sua filha está enfrentando dificuldades com seus netos por causa da falta de água. “Minha filha está passando o maior trabalho com as crianças pequenas sem ter uma água pra poder dar um banho neles”, disse.
Ana Maria Moreira, também pela internet, retrucou a nota de sábado da Corsan que pediu economia de água neste momento de problemas para atender a demanda. “Não tem nada aver lavar carro ou calçada, eu não lavo e estou sem água também”, disse.
FUNCIONANDO NORMALMENTE – Uma das principais indignações da comunidade com a Corsan é que muitos reclamaram que, ao entrar em contato com a empresa, a resposta era que o abastecimento estava funcionando normalmente.
Questionado sobre a resposta dada aos clientes, o gestor regional da Corsan, ErmogenesBodanese, disse que a produção não caiu e segue normal. “Estamos produzindo a mesma quantidade. O que acontece é que a demanda cresce nesta época do ano”, disse.
Para a leitora Elisabete Lovatto, a resposta não convence. “Se o consumo aumenta, a produção deveria aumentar também. Não tente explicar o inexplicável e ainda colocar a culpa no alto consumo. Alto consumo de quê?!Nem água temos pra consumir”, reclama a moradora.
PROTESTOS – Ao menos dois pequenos protestos ocorreram nos últimos dias. Um deles aconteceu no pórtico da Várzea Grande e reuniu cerca de dez pessoas no final de semana. Outro, no início da manhã de segunda-feira (30), quando moradores do bairro Floresta estiveram na Corsan pedindo providências para a falta da água que já durava seis dias. “Eles prometeram de ir ao local avaliar a situação para tomar uma atitude. Ficaram surpresos quando falamos que estávamos há seis dias sem água, porque para eles todas as noites o bairro era abastecido”, disse Daniela de Souza, que participou do encontro.
“Conforme prometido eles vieram aqui e estão executando procedimentos para abastecer o bairro, de forma paliativa, pelo menos até acharem uma solução definitiva, seja instalando um pressurizador na rede ou reativando o reservatório do bairro”, conta a moradora.
CORSAN É NOTIFICADA – O prefeito João Alfredo Bertolucci se reuniu com a Corsan na tarde de segunda-feira (30). Lideranças comunitárias, moradores de bairros e o diretor de operações da Corsan, André Finamor, participaram da reunião.
O prefeito encaminhou uma correspondência em forma de notificação, solicitando providências e deixando previamente dito que caso nada seja feito, a Prefeitura tomará medidas administrativas e judiciais cabíveis.
PROMESSAS PARA 2020 – A resposta da Corsan é a de sempre: a promessa que algo será feito. Na nota emitida sábado (28) a Companhia já havia enfatizado as benfeitorias realizadas. A mesma nota dizia que “para 2020, já foram iniciados novos investimentos, tais como a ampliação das instalações da Estação de Tratamento de Água (ETA) 1 e da capacidade de tratamento da ETA 2; o início das obras de novo reservatório em Canela, com previsão de entrada em operação em fevereiro; ampliação da subestação de energia; e das obras da centrífuga para reutilização de água da lavagem de filtros da ETA 2; a substituição e ampliação de mais de oitoquilômetros de rede de abastecimento e a instalação de reservatório de 100 mil litros de água no bairro Carazal”.
Com o prefeito, o diretor André Finamorconcordou que a culpa pela deficiência do serviço prestado pela Corsan é da própria Companhia e assumiu o compromisso de apresentar um plano de trabalho logo no início do ano. “Dinheiro a Corsan tem, precisamos elaborar um plano de ação para definir o que precisa ser feito primeiro”, disse Finamor.
PROBLEMAS EM CANELA – Canela também teve problemas com falta de água. O prefeito Constantino Orsolin e o secretário de Meio Ambiente, Jackson Müller, se reuniram com o diretor de operações da Corsan, André Finamor. “Primeiramente quero deixar claro para a comunidade que o problema de falta de água não é do município, mas sim da Corsan”, afirmou André. O diretor admitiu que a companhia precisa executar ações urgentes para solucionar o problema. “Nós sabemos o que precisa ser feito, tanto para melhorar a questão do desabastecimento, como o tratamento de esgoto”, disse.
A Corsan afirma que o problema da falta de água em Canela será amenizado em um curto prazo com a inauguração do novo reservatório que está sendo construído no Distrito Industrial, com capacidade para armazenar até três milhões de litros. A obra está em andamento e a previsão é de que o reservatório passe a funcionar a partir de fevereiro de 2020.
Já uma solução definitiva depende da conclusão da obra de duplicação da adutora que traz a água do Poço da Faca até a cidade. “Só assim conseguiremos colocar mais água no sistema em períodos de alto consumo. Vamos trabalhar para entregar esta obra antes do verão de 2021”, projeta André.
Mas afinal, por que falta água?
Fedoca entregou uma notificação para a Corsan, ao diretor de operações André Finamor
Cada pessoa tem sua resposta para esta pergunta. Porém, o fato é que é uma grande soma de fatores e praticamente todos têm razão. No verão o calor aumenta e com isso o consumo de água sobe. Isso é somado a uma produção contínua enquanto a cidade cresce e ainda recebe visitantes, causando um consumo acima da média. A estiagem em todo o Rio Grande do Sul é a cereja do bolo que faz o problema de falta de água não ser exclusividade de Gramado e Canela. “Desde o dia 17 o consumo cresceu nas cidades e não deu fôlego, dando início aos problemas de abastecimento”, explica André Finamor.
Para amenizar, a Corsan recomenda o não desperdício, recado principalmente aos que não tiveram grandes problemas de falta de água. Outra recomendação é que cada casa tenha um reservatório. Em casos de interrupção de abastecimento o reservatório pode suprir a falta de água por algum tempo.