InícioNotícias“Vai ter água? Todo dia é uma incerteza”, reclama moradora sobre a...

“Vai ter água? Todo dia é uma incerteza”, reclama moradora sobre a Corsan

Tempo de leitura: < 1 minuto

GRAMADO – A falta de abastecimento de água no município tem sido motivo de intensas reclamações por parte dos moradores, que enfrentam dificuldades diárias para realizar tarefas básicas. O Jornal Integração ouviu diversos relatos de cidadãos prejudicados e trouxe à tona os esclarecimentos da Companhia Riograndense de Saneamento (CORSAN), em uma tentativa de entender e contextualizar o problema que afeta a região. Para esclarecer a situação, a Corsan concedeu entrevista coletiva na segunda-feira (13).

Relatos de moradores: o impacto da falta d’água na rotina

Gabriela da Silva Muraro, moradora do bairro Carahá há mais de 16 anos, foi uma das entrevistadas pela reportagem. Segundo ela, a situação é crítica e tem impactado diretamente sua rotina.

“Tem que rir pra não chorar, porque foi feia a situação. Ligava pra lá e ninguém resolvia nada. Aí teve um caso que o pessoal da Corsan falava: ‘Mas, tem água aí! Tem água aí!’. E nós dizíamos: ‘Não tem água’. Querendo brigar com a gente, teimar. Eu disse: ‘não, não tem água!’ Eles tiveram de vir aqui pra comprovar que não tinha água.”

Ela também relatou problemas com as contas de água, que não refletem o período de desabastecimento: “Eu gasto em média R$ 120 por mês. Eu não gasto muito. E aquele mês que ficou 26 dias sem água veio a mesma coisa, sem eu gastar um pingo de água.”

Para Gabriela, a situação piora durante os finais de semana e períodos de alta temporada: “Olha, dezembro não tinha água. Praticamente o mês inteiro não teve água. Fica três dias sem água, um dia com água. Cinco dias sem água, dois dias com água. É assim. Principalmente final de semana. Parece que desligam a nossa água.”

Gabriela também enfrentou dificuldades para manter dois chalés que aluga: “Eu pego a água do meu sogro, que tem poço. Eu vou lá e pego a água dele. Porque eu tava sem água no chalé, alugado os dois, e não tem água. Outra vez, teve um dia que um hóspede me ligou assim, não tem água. Ele ia embora, ele tava querendo ir embora. Aí, eu disse pra ele, não, fica mais um pouco aí, eu vou tentar encher a caixa. Eu peguei a água dele, mas demora duas horas, né, pra encher a caixa, pra poder dar vazão pros chalés. E acabam sendo hóspedes que não vêm mais.”

A incógnita sobre o abastecimento gera constante insegurança: “Daí tu não lava roupa, tu não consegue manter nada limpo, não faço comida. Olha, eu quero que resolvam isso, porque é uma incerteza que a gente tem, né? E a gente tem medo. Então todo dia quando eu chego em casa, antes de lavar roupa, antes de fazer qualquer coisa, eu vou lá, tô vendo se tem água. Tá vindo água? Não tá vindo água? Então não lava roupa, cuida no banho, tudo assim. Vai ter água? Todo dia é uma incerteza.”

Ela também criticou a postura dos funcionários da CORSAN:

“Já escutei de funcionários da Corsan que o interior não é uma prioridade.”

Enquanto a reportagem, na quarta-feira (15), estava na casa de Gabriela, a água estava com o abastecimento normalizado.

Grasiela Wingert Arnold: “Sempre existe uma desculpa”

Grasiela Wingert Arnold, moradora do Carahá há quase 18 anos, também compartilhou sua experiência:

“A questão da água, quando eu vim morar aqui, não tinha nem rede da sociedade pra baixo. A gente teve uma luta muito grande com a Corsan pra que eles trouxessem a rede de água pra baixo. Tanto que eles trouxeram até um pedaço e o restante, o meu pai comprou os canos e colocou água pra vir até a nossa casa.”

Ela apontou que o problema piorou nos últimos anos:

“Do ano passado pra cá, se agravou demais essa situação da gente chegar a passar 26 dias sem água. Ah, e aí foi por causa da chuva, foi por causa disso… Sempre existe uma desculpa, mas resolver alguma coisa, nada.”

Grasiela também criticou a falta de registros adequados por parte da empresa:

“Você liga pra lá, abre o protocolo de falta de água e eles simplesmente te dizem que não existe registro de falta de água na minha comunidade. Sendo que vários vizinhos já ligaram, já fizeram abrir um registro de falta de água e simplesmente eles dizem que não existe. Sendo que às vezes a comunidade toda está sem água.”

Heraldk Dalla Giacomassa: falta de pressão e obras inacabadas

Heraldk Dalla Giacomassa, morador da Vila do Sol há 11 anos, enfrentou problemas com a pressão da água após as enchentes de maio.

“Antes da enchente de maio a gente já tava com a água bem fraca aqui. No caso, ligava um chuveiro, não ligava uma máquina, porque não funcionava e não tinha pressão. Aí que veio as enchentes de maio, a gente ficou uma semana praticamente sem água. Acho que foi meio geral por aqui.”

Mesmo após a situação ser parcialmente resolvida, o problema persistiu:

“Conseguimos que eles (Corsan) viessem aqui, aí foi constatado que tinha um vazamento, obstrução, não sei certo dizer o que que era. E aí veio a equipe aqui, eles olharam, e aí no dia que eles vieram, teve um tempo bem feio, deu um baita no temporal, aí eles só fizeram essa, puxaram essa manga da casa do vizinho, da rede que vai na casa do vizinho até a nossa, e disseram que no outro dia iam vir arrumar… Isso já faz um bom tempo, foi antes de outubro ainda.”

Problemas nas adutoras e alta demanda de turismo

Na última segunda-feira (13), a Companhia Riograndense de Saneamento (CORSAN) conduziu uma entrevista coletiva para abordar questões críticas relacionadas ao abastecimento de água. Entre os principais fatores que contribuíram para o problema, Lutero Cassol, superintendente regional de relações institucionais da Corsan, mencionou as perfurações repetidas na adutora de água, feitas por uma empresa terceirizada contratada pela RGE. Anteriormente, Cassol já havia dado as mesmas explicações para a reportagem.

“No mês de novembro, nós tivemos o mês quebrado por três perfurações da tubulação. Cada vez que perfurava, nós consertávamos, mas era um processo lento, porque estávamos no limite da produção de água,” explicou Cassol. Essas perfurações ocorreram nos dias 8, 12 e 25 de novembro, afetando a capacidade do sistema de abastecimento, já fragilizado pela alta demanda devido à temporada de turismo.

Outro episódio crítico relatado foi o rompimento, no dia 15 de dezembro, de uma peça de 500 mm de aço do sistema de bombeamento que liga Canela a Gramado, agravando ainda mais o problema no período de alta movimentação turística.

Investimentos prometidos e regiões mais afetadas

Durante a coletiva, a Corsan reafirmou seu compromisso com os investimentos necessários para solucionar os problemas de abastecimento, especialmente nas áreas mais afetadas, como a Linha Carahá, os bairros Dutra, Moura, Floresta, a Vila do Sol e a Várzea Grande. Segundo a empresa, ações estão sendo implementadas para investigar as causas dos recentes desaparecimentos de água e melhorar o fornecimento às comunidades.

Cassol também mencionou que a alta demanda de água em períodos de turismo, como o Natal Luz, contribui para o agravamento dos problemas de abastecimento em Gramado.

A polêmica da cobrança de “ar” nas faturas

Um dos pontos mais polêmicos abordados foi sobre a suposta cobrança de ar nas contas de água. Moradores reclamaram que, mesmo sem abastecimento contínuo, as contas apresentaram valores altos, o que gerou questionamentos quanto à legitimidade das cobranças.

A vereadora Denise Buhler (Progressistas) foi uma das mais enfáticas ao questionar a Corsan durante a coletiva. Segundo ela, “a empresa estaria cobrando pela passagem do ar no medidor.”

Por sua vez, Lutero Cassol descartou a ideia de que a presença de ar na rede pudesse impactar de forma significativa as faturas. “Se está passando água, está medindo. Se não está passando, não está medindo. Não dá para se dizer que a fatura de água está alta porque veio o ar,” explicou, afirmando que o impacto do ar na medição é mínimo devido à tecnologia utilizada nos equipamentos.

A companhia ainda informou que consumidores que se sentirem lesados devem levar suas faturas até os pontos de atendimento para revisão.

Denise Buhler, no entanto, se mostrou insatisfeita com a justificativa. “A cobrança é feita por metro cúbico, e, segundo a lógica da CORSAN, um metro cúbico de água e um metro cúbico de ar seriam tratados de forma semelhante,” pontuou a vereadora.

Ainda, o presidente do Sindtur Serra Gaúcha, Cláudio Souza, reclamou da imagem que a falta de água causou para os turistas. “Agora não adianta mais. Ninguém quer ir pra uma cidade que não tem água. Só lamentar não paga a conta”, opinou.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

ÚLTIMAS NOTÍCIAS

Morre Eraldo da Rosa Pereira, genro do vereador Jone Wulff

CANELA - Faleceu na madrugada desta segunda-feira (4), no Hospital de Caridade de Canela, Eraldo da Rosa Pereira, aos 48 anos, genro do vereador...

Quatro jogos que separam o Gramadense da elite do futebol gaúcho

Tiago Manique [email protected] GRAMADO – O Centro Esportivo Gramadense (CEG) encerrou no domingo (27), a primeira fase da Divisão de Acesso. Jogando pela 14ª rodada da...

O início do fim do comércio irregular?

Quem passou ali pelo entorno da Igreja Matriz, no Centro de Canela, viu que tinha movimento diferente na tarde desta sexta-feira (25). Era a...

Canela e SESAI alinham ações de saúde para comunidade indígena

CANELA – A Secretaria de Saúde de Canela realizou uma reunião, no dia 22 de julho, para alinhar, ações de atendimento de saúde para...

Tour de France Gastronomie celebra um ano em Gramado com novo cardápio e homenagem aos clientes

GRAMADO - O Tour de France Gastronomie completou, segunda-feira (14), seu primeiro ano de funcionamento em Gramado e marcou a data com o lançamento...
error: Conteúdo protegido