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Transformação no Parque do Lago: limpeza, tecnologia e novos ares

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CANELA – O Parque do Lago vive dias de mudança. Máquinas trabalham sobre a água, retirando a vegetação que, por anos, tomou conta da superfície e escondeu parte da paisagem. A cada nova carga retirada, o reflexo do céu volta a aparecer e o lago começa a mostrar de novo a sua forma original. É o início de um processo de revitalização ambiental que vai muito além da limpeza. O que está em andamento é uma transformação planejada pela Secretaria do Meio Ambiente de Canela, unindo técnica, cuidado ecológico e um novo olhar sobre o espaço.

Os trabalhos começaram na segunda-feira, 13 de outubro, com a limpeza da lâmina d’água e o roçado do entorno. A retirada da vegetação aquática, que impedia a entrada de luz natural, ajuda a conter o processo de poluição e devolve visibilidade ao lago. Todo o material removido está sendo encaminhado para a Central de Recebimento do Banhado Grande, onde recebe destinação ambientalmente correta.

Enquanto uma máquina atuava na limpeza, a equipe do Jornal Integração acompanhou o serviço de perto e conversou com o secretário do Meio Ambiente, Carlos Frozi, e com o diretor de Meio Ambiente e biólogo, Alekos Elefthérios. A entrevista, realizada à beira do lago, revelou a dimensão ambiental e simbólica dessa transformação — uma verdadeira “entropé”, como define o secretário.

“Entropé”: o conceito de transformação

Secretário Carlos Frozi explica a reorganização do ambiente do lago

Logo na abertura da conversa, Frozi explicou que o processo vai muito além da limpeza aparente. “Nós chamamos de uma entropé. Entropé significa uma transformação”, disse.
O secretário contextualizou que o lago, ao longo dos anos, acabou recebendo materiais de drenagem e até resquícios de esgoto cloacal — mesmo com parte da comunidade já adaptada ao uso de fossas e filtros sumidouros. “No passado, antes de 2001, a comunidade tinha fossa e sumidor. E todo sumidor, ou através da drenagem pluvial, ou pela percolação das águas pelo solo, desemboca no ponto mais baixo. E o ponto mais baixo é o lago”, explicou.

Essa condição fez com que o Parque do Lago se tornasse uma bacia de contenção natural, onde os nutrientes acumulados — especialmente nitrogênio, fósforo e potássio — favoreceram a proliferação da vegetação aquática.
“Ela é bem verdinha porque tem muito nitrogênio, fósforo e potássio. Ela se alimenta desse esgoto decomposto. E, nesse processo, são gerados gases, que em alguns dias acabam causando odor e desconforto pra comunidade”, acrescentou Frozi.

O secretário resumiu o propósito do projeto: “Todo o trabalho aqui tem vários objetivos. Primeiro, tornar esse parque mais humano. Tornar ele mais ambiental, saudável pra comunidade. E não só pra população humana, mas também pras outras populações”, afirmou.

Equilíbrio ecológico e engenharia ambiental

A meta da Secretaria é buscar harmonia entre os elementos do ecossistema, conciliando o uso público do espaço e a recuperação ambiental.
“O grande desafio nosso é buscar o equilíbrio dinâmico”, disse Frozi, destacando que a solução passa por tecnologia, manejo e consciência ecológica.

Entre as medidas estruturais, o secretário lembrou que a Corsan já está chegando com a rede separadora absoluta, o que vai eliminar grande parte do esgoto que ainda chega ao lago. “Com isso, vai diminuir a oferta de nutrientes, e automaticamente, vai diminuir essa vegetação. É um consenso que todos querem ver a lâmina d’água, e não só a vegetação”, explicou.

Os aeradores

Biólogo descreve o que será feito no local

Na segunda parte da entrevista, o biólogo Alekos Elefthérios detalhou a principal novidade prevista para o lago: a instalação de aeradores ascendentes com iluminação em LED, programada para o início de 2026.
“Os aeradores parecem um chafariz. Muita gente vai acabar pensando que é só uma questão estética, mas não é. Ele tem a função de oxigenar a água do lago”, explicou Alekos. “A ideia é que ele vá despoluindo aos poucos o lago.”

O movimento da água provocado pelos aeradores também vai facilitar o manejo das plantas. “O fluxo da água vai acabar empurrando as vegetações para as bordas, e isso vai facilitar muito mais o manejo”, disse o biólogo.

Além disso, o vertedouro do lago será reformado, ganhando uma comporta direcionável que permitirá o controle do nível da água. “Vamos poder, antes de grandes chuvas, reduzir o nível do vertedouro. Quando chover, essa água vai ficar acumulada no lago, o que significa contribuição de água limpa e redução da probabilidade de inundações”, completou.

Investimento e inovação com o setor privado

Os recursos para essas melhorias virão de uma parceria inédita entre o poder público e a iniciativa privada, por meio do Estudo de Impacto de Vizinhança (EIV).
“Esse procedimento permite que empreendimentos do setor privado financiem atividades no município”, explicou Alekos. Segundo ele, a regulamentação recente desse mecanismo trouxe segurança e previsibilidade.
“Hoje os empreendedores têm segurança do quanto vão pagar. Existem métricas e cálculos para definir os valores. E a atual comissão do EIV já planeja várias outras medidas pra Canela”, completou o diretor.

Tratamento natural e o papel das bactérias

Frozi reforçou que a transformação do lago seguirá um processo técnico dividido em fases, com tratamento biológico natural.
“A primeira parte aqui vai ser praticamente um tratamento anaeróbico”, explicou. “Depois entra a segunda fase, com os aeradores. Pelo fato de oxigenar, outro grupo de bactérias passa a trabalhar. E nesse processo há maior produção de lodo, mas, por outro lado, vimos hoje de manhã peixes de couro — aqueles limpa-fundo — que vão fazer essa limpeza natural.”

Segundo ele, o lago está se tornando uma mini estação natural de tratamento de águas pluviais, que, aos poucos, vai eliminar o odor e melhorar a qualidade da água.
“Essas plantas se alimentam da decomposição das bactérias anaeróbias, e com o tempo, os aeradores vão despoluir ainda mais o lago”, afirmou.

As ilhas flutuantes e a fauna

O projeto das ilhas flutuantes, que já havia sido estudado em 2023, também será retomado. “Essas ilhas são pra aumentar o resquício pra fauna. Elas vão compor junto dos aeradores”, explicou Alekos. Segundo ele, o conceito foi aprimorado: “Foi pega uma ideia e ela foi adaptada, melhorada, e a gente chegou nesse ponto de início dessa atividade aqui.”

Alekos completou dizendo que o cuidado com a fauna é prioridade. O cronograma prevê pausas nos trabalhos durante períodos de nidificação das aves, para que o ambiente natural não seja comprometido. “Planejávamos colocar os aeradores ainda este ano, mas devido à proteção da fauna talvez não consigamos. Assim que fechar o período de nidificação, vamos instalar o sistema e reformar o vertedouro”, afirmou.

Um parque vivo e educativo

O Parque do Lago é hoje um dos locais mais frequentados pela comunidade de Canela. O secretário Frozi vê nesse espaço um símbolo da convivência entre natureza e cidade.
“Feliz a comunidade que tem um espaço físico como esse. Seja pra caminhar, praticar esportes ou simplesmente passar o dia. A gente viaja por muitas cidades e não existe um espaço assim. Feliz o cidadão de Canela que tem o Parque do Lago — e também o Parque do Palácio, que vai ser, com certeza, futuramente, abraçado pela comunidade”, disse.

Para Alekos, a valorização passa também pela educação ambiental e pela informação. “O Parque do Lago é lindo com todos os seus defeitos. Se o turista pudesse saber o que tem aqui, mesmo reclamando do odor, ele ainda ia falar bem. O que eu quero pro Parque do Lago é um local de convívio, de lazer ao ar livre, de esportes e contemplação”, afirmou.

O biólogo ainda citou a equipe da Secretaria de Meio Ambiente, destacando o trabalho técnico coletivo. “Temos agrônomos, biólogos, arquitetos, todos moradores daqui, todos envolvidos na mesma ideia: mostrar o que o Parque do Lago tem de melhor”, disse.

Conscientização e pertencimento

Durante a entrevista, tanto Frozi quanto Alekos ressaltaram que o maior desafio não é técnico, mas cultural. Frozi reforçou que o parque precisa ser entendido como patrimônio coletivo. “Todos nós somos da região. Todos nós queremos ver o Parque do Lago valorizado e vivido pela comunidade. Ele tem beleza natural, lazer, esporte e tranquilidade. É disso que a cidade precisa”, afirmou.

Ecopontos: novo hábito sustentável

No fechamento da entrevista, Frozi adiantou uma novidade: o Parque do Lago vai receber ecopontos para reforçar a coleta seletiva.
“A ideia é começar com um protótipo e depois expandir. Serão pontos estratégicos pra entrega de papel, plástico, vidro, lata. O morador do entorno vai poder deixar o material ali, em vez de esperar o caminhão da coleta seletiva”, explicou.

A medida também deve fortalecer o trabalho da cooperativa de reciclagem, que receberá os resíduos já triados.

O futuro de um cartão-postal

Os próximos meses prometem um novo ciclo para o Parque do Lago — um ciclo em que tecnologia e natureza caminham juntas. No primeiro trimestre de 2026, os aeradores iluminados e a reforma do vertedouro com comportas devem estar concluídos, ampliando a capacidade de reservação e evitando alagamentos.

Para o secretário Frozi, a meta é transformar o parque num ambiente ainda mais acolhedor e simbólico. “À medida que o parque vai se tornando mais belo aos olhos da comunidade, ela vai se apropriando, vai passar a cuidar. Isso eu já vi acontecer em outros lugares, como o Parque Marinha e o Parque da Redenção, em Porto Alegre. Tenho certeza que o mesmo vai acontecer aqui”, concluiu.

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