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“Perdi tudo, saí de casa só com a roupa do corpo e os cachorros”

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Tiago Manique

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CANELA – Cada pessoa que está vivenciando este momento tem uma história para contar. Seja quem não foi atingido pelas enchentes que está vendo o sofrimento dos afetados ou aqueles que estão sentindo a severidade climática ocasionado pelas fortes chuvas desde a semana passada.

As imagens dos alagamentos são algo que a canelense Valdinéia Rodrigues, 47 anos, jamais esquecerá. Ela está na lista de milhares de gaúchos que perderam tudo em virtude da enchente. Moradora do bairro Mathias Velho, em Canoas, ela conta que onde morava, era uma casa alugada que ficava aos fundos da residência de dois andares do proprietário e que a água em outras chuvas muito forte, alagava em pequena quantidade a rua, mas que desta vez surpreendeu antigos moradores do local.

“Fomos avisados [sexta-feira, dia 3] de ir para um local mais alto e me abriguei na casa do dono da casa onde morava, uma residência de dois pisos. Meu vizinho que conhece a região ainda falou, a água não vai chegar até aqui [segundo pavimento]. Mas subiu muito rápido, peguei rapidamente minha bolsa, documentos pessoais e os cachorros. A água chegou até o telhado da minha casa, perdi absolutamente tudo, saí de casa só com a roupa do corpo e os cachorros”, disse.

A imensidão da força da água era tão grande, que mesmo refugiada em uma casa de dois andares, ela e a esposa do proprietário do imóvel tiveram que subir no telhado para pedir resgate. “Estávamos lá em cima e escutava sirenes, barulhos das aeronaves e pedíamos ajuda e vimos próximo de nós um helicóptero resgatando uma pessoa, mas não foi possível naquele momento nos tirar daquela situação”, recorda-se.

E foi no sábado (4), por volta das 13h30, que chegou o resgate. Voluntários chegaram em uma pequena embarcação lotada para o resgate. “Foram momentos terríveis, de tensão, medo, angústia e vários outros sentimentos de desespero. Nós literalmente pulamos do telhado para dentro do barco. O meu resgate foi um milagre, diante de tanta gente que não conseguiu se salvar”, comentou. O proprietário da casa, não quis ser resgatado naquele momento, mas no final do dia pediu resgate.

O trajeto pelas ruas de Canoas foi de cenas apocalípticas. Segundo Valdinéia, como visto somente em filmes de grandes produções que registram catástrofes como o fim do mundo. “A situação que vivenciei é de total calamidade, parece que estamos numa guerra: gente gritando e chorando, procurando familiares, helicóptero e sirene por todo lado. Onde passávamos, tinha pessoas nos telhados e sacadas pedindo por socorro. Em alguns locais, tivemos que baixar a cabeça para não bater nos fios de energia quer ficam no alto”, destacou.

A luta para chegar em Canela

Valdinéia ficou na casa de familiares do proprietário do imóvel onde morava de sábado até segunda-feira (6) pela manhã, foi quando seguiu para um abrigo, pois mais pessoas estavam chegando na residência. A partir deste momento, uma verdadeira saga em busca de transporte para voltar para casa.

“Tentei junto com minha família em Canela um transporte de aplicativo, mas não foi possível, pois não tinha combustível. Foi então que meu irmão, que é caminhoneiro e estava em São Paulo, conseguiu contatar um motorista de Cachoeirinha me buscando, possibilitando que voltasse”, pontuou.

Foto: Tiago Manique/JIH – Valdinéia em frente a Catedral de Pedra de Canela, onde conversou com a reportagem

De Canoas até Canela, foram cerca de 4 horas de viagem. Por volta das 19h30, respiro aliviado e o coração acelerado de reencontrar a família, foi neste horário que o carro do aplicativo ingressou na rua Olavo Luís da Silva, bairro São Luiz. Foi então que Valdinéia visualizou já fora da casa de sua mãe Maria de Lourdes dos Santos Rodrigues, 84 anos, um dos irmãos Maiquel do Amaral Rodrigues, 43 anos e um sobrinho. Ao descer do veículo, somente com a bolsa, roupa do corpo como saíra de casa em meio a enchente e com os dois cachorros da raça Golden Retriever, abraçou os familiares, todos emocionados com o tão esperado reencontro. “Nos abraçamos e choramos muito. Minha mãe estava angustiada, pois uma irmã minha já é falecida foi em 2021 e ela não queria passar por isso novamente e foi quando me disse que agora iria conseguir dormir novamente”, ressaltou.

Ainda atônita com o que aconteceu ela admitiu que dorme pouco e acorda no meio da noite como que estivesse escutando barulho de água e agora aguardará o que será de sua vida para frente.

“Esperar a água baixar em Canoas, ver o que sobrou das minhas coisas e não sei o que fazer, um grande ponto de interrogação a partir de agora”, finalizou, ela que tinha uma casa de lanche no bairro São Geraldo, 4º Distrito que também foi totalmente destruído.

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