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31 casas são condenadas no bairro Piratini; moradores resistem para autorizar demolição

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Leonardo Santos

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Tiago Manique

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GRAMADO – Uma reunião foi realizada com os moradores do bairro Piratini, na noite de terça-feira (16), para tratar sobre o futuro das casas que foram condenadas devido aos deslizamentos ocorridos recentemente. A Prefeitura de Gramado informou que um total de 31 casas precisarão ser demolidas, podendo chegar a 34.

Durante a reunião, ficou acordado que os moradores terão que assinar um termo autorizando a demolição de suas residências. A partir dessa autorização, serão iniciados os trabalhos de limpeza e uma nova reunião específica será realizada para definir o método de desapropriação e indenização, que deverá ocorrer nos próximos 40 dias.

Cada casa passará por uma vistoria detalhada, e serão tiradas fotos como comprovante, que servirão de base para a próxima reunião. É importante ressaltar que o Ministério Público e a Defensoria Pública estão acompanhando de perto todo o processo.

A Prefeitura está busca encontrar uma solução que seja razoável e atenda os interesses de ambas as partes. O objetivo é demolir as casas que não podem ser recuperadas e estabilizar a área, para que os vizinhos possam retornar com segurança.

Avaliação será feita pela Secretaria de Planejamento

Casa à esquerda (foto) é de Loeci Xavier, morador há 15 anos que teve de deixar o bairro Piratini – Tiago Manique/JIH

A Secretaria de Planejamento será responsável por avaliar os terrenos e realizar a análise, levando em consideração critérios específicos. Será pago apenas o valor referente à área, conforme determina Lei Federal, apontou a Procuradora Geral do Município, Mariana Melara Reis. Uma questão polêmica que rondava os pensamentos dos moradores também foi respondida: não haverá construções edificadas nos terrenos destas 31 casas, sendo destinados para a criação de praças.

Luiz Bressani, geotécnico contratado pela Prefeitura para averiguar a localidade, aponta que parte da chamada “Piratini Norte”, que compreende as ruas Santo André, Henrique Bertoluci, Afonso Oberher e Guilherme Dal Ri, ainda sofre com movimentações do solo, especificamente na Henrique Bertoluci. Ainda, há partes do bairro que estão sem chances de recuperação devido a esta questão.

Mariana lembrou que uma reunião específica será realizada para tratar de moradores que possuíam imóveis que ainda estavam escriturados no nome de parentes falecidos.

Idoso enfrenta incertezas após perder a casa em deslizamento

“Eu não acredito (que vai conseguir construir uma casa novamente em Gramado com o valor da indenização) pela forma que foi dito. Eles vão pagar somente pelo terreno, vai ser um valor muito pequeno. Não sei o que eu vou fazer.” disse Loeci. Tiago Manique/JIH

Loeci Xavier, um morador de 78 anos, está enfrentando um momento de incertezas em sua vida após ter sua casa atingida. Há 15 anos, ele morava na rua Henrique Bertoluci, no Piratini, e se viu obrigado a deixar o local devido aos danos causados pela tragédia.

A construção da casa de Loeci foi um processo demorado e custoso, conforme contou. Ele e a esposa estavam preparando o futuro, pensando em desfrutar da tranquilidade da velhice em sua residência. No entanto, com quase 80 anos, Loeci se encontra em uma situação em que tudo parece ter sido zerado.

“A construção da nossa casa foi muito demorada, teve muito custo. Estávamos preparando algo para o futuro, quando tivéssemos mais idade. Estou com quase 80 anos e me vejo na situação de ficar zerado. O terreno vai ser avaliado e a minha casa parece que não vale nada, como se pudesse ser demolida. Por isso eu perguntei se poderíamos usar o material para tentar uma nova vida, utilizar na construção em outro lugar”.

Diante dessa situação, Loeci se questiona sobre seu próximo passo. Ele ironizou e questiounou se deve ir morar com seus filhos ou se é melhor tentar uma nova vida em uma pequena barraca na praça. A incerteza quanto ao futuro é uma realidade que o idoso enfrenta diariamente. “Volto ao zero, vou morar com meus filhos? Ou vou colocar uma barraquinha na praça?”, perguntou.

Logo no segundo dia após o deslizamento, Loeci e a esposa tiveram que sair de sua casa e buscar abrigo na residência de um cunhado. Eles conseguiram alugar uma casa em Canela, mas os custos mostraram-se elevados. Agora, voltaram a depender exclusivamente da suas aposentadorias. Anteriormente, costumavam ter uma renda extra com a locação de quatro kitnets. Uma delas era ocupada pela irmã de Loeci, que também foi afetada pela tragédia e precisou retornar à casa de seus filhos em Santa Catarina.

“No segundo dia tivemos que sair e ir para casa de um cunhado. Alugamos uma casa em Canela, mas não tem nada barato. Voltamos a viver da aposentadoria, eu tinha quatro kitnets que eu tirava valores. Inclusive, em um deles, morava a minha irmã que teve que voltar para a casa dos filhos em Santa Catarina”, conta.

A esperança de reconstruir uma nova casa em Gramado com o valor da indenização parece distante para Loeci. Ele relata que a forma como foi informado, que receberá apenas pelo terreno, resultará em uma indenização muito pequena. Sem saber o que fazer, o idoso sente-se praticamente sem opções, à beira da rua.

“Eu não acredito (que vai conseguir construir uma casa novamente em Gramado com o valor da indenização) pela forma que foi dito. Eles vão pagar somente pelo terreno, vai ser um valor muito pequeno. Não sei o que eu vou fazer”, disse.

Situação financeira

Além das dificuldades financeiras, Loeci também enfrenta problemas com o recebimento do aluguel social. Após receber apenas uma parcela, ele já está prestes a entrar no terceiro mês fora de casa. Com uma renda um pouco abaixo de dois salários mínimos, Loeci não consegue arcar com suas despesas básicas. Os gastos com remédios chegam a quase mil reais mensais, e o fornecimento no posto de saúde é limitado.

“Sobre o aluguel social, recebemos só uma parcela e já vamos entrar no terceiro mês fora de casa. Eu não estou conseguindo pagar minhas despesas, recebo um pouco menos que dois salários mínimos. É difícil, pagamos remédio, gasto quase mil reais somente com isto. O posto de saúde só dá o básico”, lamenta.

Para sobreviver, Loeci depende agora de doações. Antes, ele estava acostumado a ajudar os outros, mas agora é ele quem precisa de auxílio. A situação é bastante complicada para alguém de sua idade, aponta, mas Loeci está resistindo bravamente, garantiu. “Estou sobrevivendo com doações. Antes eu doava, agora estou recebendo. Está bem complicado. Na altura da minha idade estou resistindo”.

Diante das incertezas em relação ao valor da indenização e à possibilidade de adquirir um novo terreno, Loeci ainda não assinou o documento que permitiria a demolição de sua antiga casa. Ele se questiona como poderá tomar essa decisão sem saber o quanto irá receber, e se será o suficiente para adquirir outro imóvel.

“Eu achei que tecnicamente o trabalho está bom. Mas, a parte financeira não está muito legal. Como eu vou assinar para desmanchar se não sei se vou ganhar uma quantia que dá para comprar um lotezinho em São Francisco de Paula ou Canela, sei lá. Por isso eu não assinei ainda”, finalizou.

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