Tiago Manique
REGIÃO – Um diálogo descontraído e o papel do policial na sociedade, tendo como público alvo crianças, adolescentes de escolas de ensino fundamental, médio de escolas públicas e privadas. Este é o Papo de Responsa, criado no Rio Grande do Sul em 2016, onde os policiais civis abordam diversos assuntos sobre prevenção às drogas, consequências, bullying, fake news, abuso sexual, entre outros temas.
Em Canela, esta relação se iniciou em 2019 por meio do comissário da Polícia Civil (PC), Maurício Mota Viegas. No começo, o trabalho estava focado no combate aos maus tratos contra animais, uma das áreas de atuação do policial na Delegacia de Polícia (DP). O primeiro encontro recorda-se, foi na Escola Municipal de Ensino Infantil e Fundamental (Emeif), Severino Travi.
“Iniciamos somente com causa animal, dicas e orientações inclusive levava um cão para a escola e interagia com as crianças, mas depois fomos agregando outros assuntos como bullyng, crimes cibernéticos e violência doméstica, mas muitos temas nós abnodamos aquilo que as escolas nos pedem, muitas vezes é conforme a realidade daquele local”, explicou Viegas.
Quem também atua no Papo de Responsa é a inspetora Silvia Berro. Oriunda de Itaqui, a policial está há cinco meses atuando em Canela e na região da fronteira começou com o projeto em 2018. Ela conta que já realizou 15.887 atendimentos, incluindo além de escolas, associações, agências bancárias e estes contatos, principalmente com os estudantes, fazem com que os jovens tenham mais confiança e diálogo com a polícia.
“Quando chegamos nas escolas para palestras com o uniforme da Polícia Civil e viaturas, muitos alunos e até adultos ficam olhando parecem assustados, mas procuramos dialogar de forma descontraída, fazendo com que os participantes tenham uma aproximação com a polícia, que estamos ali para ajudar e procurar orientá-los”, comentou.
Entre tantos diálogos alguns chamam a atenção e ficam marcados. Viegas conta que os encontros, além de orientação servem também para verificar problemas enfrentados por alunos. Conforme o tema abordado, é diagnosticado alguma ocorrência e dois casos de violência doméstica e sexual foram descobertas, por meio das palestras.
“Um dos casos que me recordo é de uma menina que se aproximou e conversou comigo relatando que estava sendo abusada sexualmente. Outra que me chamou muito a atenção e que já havia atendido na delegacia é de outra jovem que sofreu abuso e por questões da justiça o agressor não estava preso e isso era a grande tristeza dela”, recorda-se ele citando que o acusado atualmente encontra-se preso.
Silvia relata que muitas pessoas que estão passando por algum tipo de problema, por meio das palestras do Papo de Responsa já saem do local com a ocorrência em andamento, pois esta proximidade faz com que os denunciantes se sintam mais à vontade em efetuar alguma denúncia do que ir até uma delegacia.
“Alguns vivem uma situação muito delicada e em alguns casos o Papo de Responsa é uma válvula de escape. Já teve casos de nós encaminhar a ocorrência dentro da própria escola, são situações duras e que muitas vezes diagnosticamos ali mesmo durante os encontros. Teve um caso em especial de uma menina, que me pediu desculpas que tinha uma visão diferente da polícia e depois da palestra me deu um abraço, contou.
Aprendizado e projetos
A missão de Viegas e Silvia é de orientar, ajudar e em alguns casos investigar. Mas dentro destes anos de Papo de Responsa, eles contam que cada um serve de motivação e aprendizado para eles seguirem nesta missão de serem policiais. “Desde o primeiro encontro, em todos eu aprendo. Defino como saio das palestras com muita esperança e renovação, porquê acredito nisso e na transformação das pessoas”, comentou o comissário.
Já a inspetora, destacou o carinho dos estudantes e que cada encontro leva com uma lição positiva para sua vida. Ela alertou que nos dias atuais, devido ao avanço da tecnologia as pessoas estão se afastando do contato direto de serem mais humanos e que o Papo de Responsa busca ter esta aproximação.
“Estamos cercados de tecnologia e isso está afastando as pessoas de serem mais humanas. Faço um balanço do abismo que estamos enfrentando desta falta de diálogo e isso é que procuramos ter de ouvir relatos. Sempre falo, nós estamos policiais, um dia deixaremos ser, mas somos seres humanos. Temos que tratar as pessoas da mesma forma que queremos ser tratados”, pontou.
Segundo os policiais do Papo Responsa, uma iniciativa inédita no Rio Grande do Sul está sendo realizado. O projeto pioneiro é idealizado na Escola Barão da Rio Branco, no bairro Saiqui com as turmas do 6º ao 9º ano, onde os alunos estão criando mecanismos de combater o bullyng. A turma com a melhor proposta, ganhará como prêmio passeio em um parque e jantar em uma pizzaria temática. No entanto, o vencedor deverá colocar em prática a iniciativa na escola que será acompanhada pela direção da instituição e pelos policiais. Outra ação, mas um concurso de redação será realizada na Escola Severino Travi.
Saiba mais
O Papo de Responsa foi criado pela Polícia Civil no Rio de Janeiro, em 2008, sob coordenação do inspetor Beto Chaves. Os policiais para participarem, necessitam participar de um curso de capacitação para serem certificados a serem monitores do projeto.
O Papo de Responsa atende em Canela, Gramado, São Francisco de Paula, Rolante e Cambará do Sul.
Março: 8 encontros, envolvendo 540 alunos.
*Abril: 11 encontros, envolvendo 892 alunos.
*Número de alunos deve ultrapassar dos 1 mil participantes devido as palestras que ainda vão ocorrer.
Maio: 8 encontros confirmados












