Coluna publicada no dia 20/11.
Guilherme Dettmer Drago. Sócio de Reimann & Drago Advogados Associados. Professor Universitário
A COP 30 já está em pleno vapor em Belém do Pará e terminará no fim desta semana. Milhares de delegados circulam pela capital amazônica, discutindo caminhos para salvar o planeta enquanto, a poucos quilômetros dos pavilhões climatizados, famílias seguem convivendo com esgoto a céu aberto, falta de infraestrutura e a rotina dura da cidade mais favelizada do Brasil.
O contraste entre o discurso global e a realidade local é tão gritante que, por vezes, beira o deboche involuntário — ou voluntário, dependendo do ângulo.
Não à toa, antes mesmo de a conferência começar, o Brasil virou alvo de críticas afiadas num editorial da revista Science.
Os cientistas Philip Fearnside e Walter Leal Filho apontaram o que o governo tenta, com alguma criatividade cênica, disfarçar durante estas três semanas de holofotes: com exceção do Ministério do Meio Ambiente e Mudanças Climáticas, praticamente todas as demais áreas federais continuam promovendo ações que aumentam as emissões de gases do efeito estufa. É o equivalente político a servir água com gás em taça de cristal enquanto o encanamento do prédio está prestes a estourar.
A cereja desse bolo ambientalmente indigesto é o projeto de recuperação da BR-319, que liga Manaus a Porto Velho, identificado pelos especialistas como um catalisador de desmatamento e desordem territorial. Some-se a isso o empenho nacional em continuar explorando novos poços de petróleo até alcançar o patamar dos países desenvolvidos — uma espécie de nostalgia energética que insiste em acreditar que o futuro pode ser movido pelo passado.
O mundo, aliás, anda em outra sintonia!
Em 2021, a Agência Internacional de Energia já defendia não abrir nenhum novo ponto de exploração de petróleo ou gás e reduzir gradualmente a extração até zerá-la em 2050. Enquanto isso, em plena COP 30, seguem sobre a mesa os estudos para explorar petróleo na foz do Amazonas.
Enquanto as delegações estrangeiras debatem metas de carbono, adaptação climática e financiamento verde, Belém expõe uma contradição dolorosa: o país que quer liderar a pauta ambiental ainda não oferece condições básicas a parte significativa de sua própria população.
A cidade que recebe os líderes globais é a mesma onde o saneamento básico não chega para todos, onde a desigualdade é palpável e onde os impactos ambientais são experimentados no cotidiano — não em relatórios, mas nas ruas, nas palafitas, nas enchentes e na ausência do Estado.
A COP 30, que termina esta semana, é oportunidade e espelho!
Oportunidade de o Brasil mostrar que pode, de fato, assumir protagonismo ambiental.
Espelho de nossas próprias contradições, refletidas em alta definição para o mundo.
Quando os últimos discursos ecoarem e as comitivas deixarem Belém, ficará a pergunta incômoda e inevitável: teremos aprendido algo — ou seguiremos, como sempre, falando bonito para fora e enxergando muito pouco para dentro?











