Coluna publicada no dia 29/08.
Guilherme Dettmer Drago. Sócio de Reimann & Drago Advogados. Professor Universitário.
A população brasileira, hoje estimada em pouco mais de 213 milhões de almas, caminha em passos lentos — mas inexoráveis — para um cenário que parece saído de uma crônica tragicômica.
O IBGE já desenha a curva: atingiremos o ápice em 2041, com 220 milhões de habitantes, e dali em diante a conta despenca, até que, em 2070, seremos “apenas” 199 milhões. A ironia é que, enquanto o número de brasileiros diminui, o número de problemas só promete crescer. Afinal, o futuro reserva um país onde haverá mais velhinhos disputando vagas em geriatras do que jovens disputando estágios.
Durante meio século surfamos no bônus demográfico, aquele período dourado em que havia mais braços produtivos que bocas dependentes. Foi bonito enquanto durou: a máquina econômica ganhou tração, o PIB flertou com o otimismo e as previdências respiravam. Mas a festa tem hora para acabar. Antes mesmo de 2030, a maior parte da população já será composta de idosos, transformando o bônus em ônus.
O mercado de trabalho, nesse contexto, terá de se reinventar com urgência. Menos jovens ingressando significa mais pressão por automação, robôs e inteligência artificial preenchendo lacunas.
A previdência social, claro, já se prepara para virar protagonista de um drama nacional: cada vez menos contribuintes para cada vez mais beneficiários. É quase uma piada de mau gosto — como se o Brasil tivesse montado uma pirâmide financeira oficial, cujo colapso está datado no calendário. Enquanto isso, a saúde pública verá a fila de cirurgias de catarata ultrapassar a de vagas em creches.
O retrato é melancólico, mas inevitável. O futuro do mercado de trabalho no Brasil não será apenas sobre emprego e renda, mas sobre como sustentar uma população que envelhece em ritmo acelerado. A ironia maior é que, depois de tanto tempo apostando na juventude do país como motor de crescimento, o Brasil terá de aprender, enfim, a crescer com a velhice.
Afinal, se o futuro é dos jovens, no Brasil de 2041 o futuro já estará aposentado!