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Habitação: o maior problema de Canela

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Coluna publicada no dia 23/09.

Vou começar a coluna desta terça-feira falando de habitação, porque não tem como fugir do tema. Esse é, sem dúvida, o maior problema de Canela hoje. Quem trouxe isso ontem na sessão da Câmara de Vereadores foi o vereador Rodrigo Rodrigues. Ele falou de um número que assusta: cerca de 200 pessoas chegam a Canela por mês.

Se a gente faz a conta, em um ano são mais de 2 mil pessoas a mais morando aqui. E isso não é só um dado estatístico, isso é gente que precisa de médico, de vaga em escola, de transporte, de trabalho, de moradia. A cidade não cresce só no número de moradores, cresce também na demanda por serviços públicos. E é aí que mora o problema.

Por que as filas no HCC e UBS´s aumentam? Porque tem mais gente precisando ser atendida. Por que as creches e as escolas estão lotadas e fila de vagas? Porque chegam famílias novas com crianças pequenas. Por que o trânsito piora a cada ano? Porque chegam mais carros junto com essas pessoas. Então, quando a gente reclama da mobilidade urbana, da saúde, da educação, tudo isso tem uma ligação direta com o crescimento populacional.

E aí entra a questão das áreas irregulares. Hoje Canela tem 27 locais ocupados de forma irregular. São terrenos invadidos ou loteamentos que começaram sem nenhum tipo de planejamento, sem infraestrutura básica, sem aprovação. O vereador citou um exemplo: anos atrás tinha uma casa em um desses locais, hoje são 300.

Aí vem a pergunta que todo mundo faz: de quem é a culpa? Da prefeitura, que não fiscalizou e deixou crescer? Ou das famílias, que foram construindo sem autorização? A resposta não é simples. Eu acho que o problema começa antes, na base de tudo: o custo de vida em Canela.

Hoje, um aluguel de casa ou apartamento com dois quartos passa fácil de dois mil reais. E isso para casas simples, nada de luxo. A maioria das pessoas aqui ganha em torno disso de salário. Ou seja: paga o aluguel e praticamente não sobra nada para o resto. Quem consegue viver assim? Aí o que acontece? Parte dessas pessoas recorre às áreas irregulares, porque simplesmente não conseguem pagar o preço do mercado.

E se a pessoa pensa em comprar um terreno, a situação é ainda mais difícil. Terreno em Canela não sai por menos de 200 ou 300 mil reais. Quem é que tem esse dinheiro guardado? Quem é que consegue dar 50 mil de entrada e ainda financiar o resto? Só quem tem renda bem acima da média. O resultado é óbvio: muita gente não consegue acesso a moradia digna.

Outro problema é a burocracia. Eu conheço pessoas que têm terreno, mas não conseguem construir porque ficam presas na papelada. Passam um ano inteiro na prefeitura tentando liberar projeto, tentando conseguir autorização. Enquanto isso, a vida da pessoa não anda. Isso também empurra muita gente para buscar alternativas ilegais.

Não estou dizendo que fugir da lei seja solução. Não é. Mas a gente precisa de mecanismos que facilitem a vida de quem quer fazer tudo certo. Porque o que acontece hoje é que, às vezes, é mais fácil construir sem autorização e depois brigar pela regularização, do que tentar fazer o caminho certo desde o início.

E agora, o que fazer com essas áreas já ocupadas? Não tem como simplesmente remover todo mundo. Essas famílias já criaram raízes, já ergueram casas, já têm vizinhança. O caminho será a regularização, inevitavelmente. A questão é: como regularizar de uma forma que não repita os mesmos erros do passado? Esse é um debate que Canela precisa enfrentar de frente.

Transporte público

Outro ponto importante de ontem foi o transporte público. O vereador Alberi Dias levantou novamente a falta de linha de ônibus no Chacrão. Esse é um problema antigo, já discutido no passado. A Viação Canelense, empresa responsável pelo transporte, alega que não é viável financeiramente colocar uma linha lá.

Mas aí vem a questão: transporte público é serviço essencial. Se a empresa não consegue ou não quer atender determinada área, sobra para a Prefeitura.

O vereador Leandro Gralha também entrou no debate e disse que quem tem que resolver essa situação é o secretário de Trânsito e Fiscalização, Adriel Buss. E que não adianta ficar dando desculpas, é preciso encarar o problema de frente.

Coincidiu que hoje pela manhã nós tínhamos entrevista marcada com o secretário. Ele falou sobre o assunto. Não respondeu diretamente às críticas de Gralha, mas explicou o que está sendo feito. Segundo ele, já existe um processo licitatório em andamento na prefeitura para formalizar um contrato de transporte público. Hoje, empresa só opera com uma permissão, sem contrato formal.

Buss disse que essa empresa está em Canela há mais de 40 anos. E que o problema do transporte também se arrasta há 40 anos. Ele fez uma comparação: o comércio irregular em frente à igreja foi um problema que durou oito anos. Levou oito meses para resolver. Se o transporte fosse resolvido em 40 meses, ainda estaria dentro da média.

Mas ele garantiu que não vai demorar tanto. Disse que não será neste ano. Minha expectativa é que no ano que vem a questão já esteja mais encaminhada. E deixou claro que tudo será feito dentro da lei, porque, nas palavras dele, não quer acabar preso. Foi um recado bem direto.

Escola Machado de Assis

Ontem também chamou atenção a fala do vereador Nene Abreu sobre a escola Machado de Assis, no Caracol. Ele visitou o local e voltou muito indignado. Disse que as condições são precárias.

Segundo Nene, os alunos precisam andar 100 metros até o banheiro. Se está chovendo, vão na chuva mesmo. Não tem espaço adequado para atividades físicas, não tem bebedouro funcionando como deveria.

Ele disse que em 2025 não é aceitável que uma escola funcione desse jeito. E eu concordo. Antes de pensar em novas obras, é preciso garantir condições mínimas nas escolas que já existem. Porque se a criança passa o dia em um lugar sem estrutura, isso também é uma forma de desigualdade.

A prefeitura tem feito investimentos em educação, mas essa fala do Nene mostra que ainda há muito para melhorar. Às vezes, o básico precisa vir antes da expansão.

Transporte universitário

Por fim, uma boa notícia da sessão. Foi aprovado o repasse de R$ 750 mil para a Sociedade Serrana dos Universitários, responsável pelo transporte dos estudantes. Esse valor se soma ao repasse anterior de R$ 939.290, totalizando R$ 1.689.290.

Esse valor cobre 100% do custo do transporte universitário. Ou seja, as famílias não precisam colocar a mão no bolso para custear esse serviço. Isso é muito importante, porque estudar já tem custos altos: mensalidade, livros, alimentação…

Esse apoio da prefeitura dá condições para que mais jovens consigam seguir na universidade. É um investimento no futuro da cidade, porque cada estudante que se forma leva conhecimento, experiência e a chance de contribuir de volta para Canela.

Esse tipo de política pública merece destaque, porque não é um gasto qualquer, é investimento. E é mais uma das coisas boas que começam a se consolidar em Canela.

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