Coluna publicada no dia 18/09.
Eu vinha evitando falar sobre o Parque do Palácio nas últimas colunas. Não era por falta de assunto, nem por achar que o tema não merecia destaque. Mas agora não dá mais pra segurar. A gente viveu, nesta terça-feira, um momento histórico: a Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul aprovou, por unanimidade, a doação definitiva do Parque do Palácio para o município de Canela.
Tá certo que ainda falta a formalidade da sanção do governador, mas o mais importante já está feito. O projeto passou, foi aprovado e agora o município tem nas mãos a chance de transformar aquele espaço em algo de verdade. Algo que não fique só em promessas, em discursos ou em fotos de campanha.
O esforço do prefeito
O prefeito Gilberto Cezar não apenas se envolveu nesse processo, como fez questão de estar presente na Assembleia no dia da votação. Podia ter delegado, podia ter acompanhado de longe, mas não: ele estava lá, acompanhando cada movimento, cada fala, cada voto.
E não foi um movimento de última hora. Antes mesmo de assumir o governo, Gilberto já tinha ido atrás dessa negociação com o Estado. O risco de perdermos o Parque era real, porque o município não tinha cumprido aquela condição antiga de construir um centro de convenções no local. O Estado já tinha até notificado a Prefeitura. Se nada fosse feito, a área simplesmente voltaria para as mãos do governo estadual.
Foi nesse contexto que o prefeito conseguiu articular com o governador Eduardo Leite uma nova saída: mudar a lei e garantir que o Parque ficasse para a cidade, sem amarras de centro de convenções, sem a ameaça de perda.
Memórias
E aqui eu faço um parêntese pessoal. Porque eu lembro, e lembro bem, de uma cena que ficou marcada. O então prefeito Constantino levou um grupo de crianças para dentro do Parque do Palácio. Era um dia bonito, de expectativa. Eu estive lá, acompanhei de perto. A promessa era de que finalmente o espaço ganharia vida.
Naquele tempo, o discurso falava em centro de convenções, mas também em playgrounds, em quadras esportivas, em áreas de lazer. O passeio com as crianças tinha esse simbolismo: mostrar que o futuro estava sendo planejado, que Canela teria ali um equipamento urbano de peso.
E eu acreditei. De verdade. Eu acreditava que aquilo aconteceria. Só que não aconteceu. Ficou no campo das boas intenções, das imagens bonitas e das promessas não cumpridas. Veio a decepção, veio a frustração. E eu aprendi que criar expectativa em excesso dói.
Agora é diferente?
É por isso que hoje, mesmo acreditando que o prefeito Gilberto vai realmente tirar o projeto do papel, eu prefiro segurar. Prefiro não criar aquela expectativa que machuca depois. É um jeito de me proteger.
Mas tem uma coisa que me faz pensar que agora é diferente: a vontade. Eu vejo no prefeito Gilberto a disposição real de transformar o Parque do Palácio. Não é só discurso. Ele mostrou empenho, articulou, esteve em Porto Alegre, acompanhou a votação como quem sabe que estava diante de algo grande.
E é grande mesmo. Não é todo dia que uma cidade recebe, de forma definitiva, uma área como essa. São 15 anos de prazo para implementar o parque, sem chance de passar para iniciativa privada, sem riscos de perder de novo. É a oportunidade de finalmente transformar aquele espaço numa área de cultura, lazer, preservação ambiental e encontro comunitário.
As comparações inevitáveis
Quando Canela sofre, todo canelense sofre junto. Eu sinto isso. E a gente sente ainda mais quando começa aquela ladainha das comparações com Gramado. Que lá tem mais parque, que lá é mais organizado, que lá tudo acontece.
Eu sempre digo: Canela não precisa viver de comparação. Se a gente souber aproveitar os espaços que já tem, não falta nada pra gente. O Parque do Palácio é a prova disso. Ele pode ser o grande diferencial, um espaço democrático, bonito, integrado à natureza, feito pra comunidade e não só pra turista.
Se a gente fizer bem feito, se cuidar, se transformar aquele terreno em parque de verdade, com trilhas, quadras, playgrounds, espaço pra cultura, ciclovia, centro ambiental, iluminação e segurança, a comparação perde força. Porque Canela vai estar mostrando sua própria identidade, com algo único e grandioso.
Uma conquista coletiva
Não é só uma vitória do prefeito. É uma vitória de toda a comunidade que, lá atrás, barrou a ideia da permuta com o Centro de Feiras. Eu lembro das audiências públicas, da mobilização, das vozes que disseram não. Foi no grito da comunidade que a permuta caiu, com o arquivamento do projeto por 6 votos a 4.
Essa conquista tem dono: o povo de Canela. É ele quem vai usufruir do Parque, quem vai ocupar, quem vai se orgulhar de ter uma área verde no coração da cidade.
O desejo
E eu termino como comecei: dizendo que eu quero acreditar. Quero que essa vez seja diferente, que a história não se repita, que não fique só no papel. Mas vou segurar a ansiedade, porque já sofri com promessas não cumpridas.
Mesmo assim, dentro de mim, eu sei: agora é a hora. O prefeito Gilberto quer, a cidade precisa, a Assembleia aprovou, o Estado deu o aval. É a chance que a gente não pode perder.
Que o Parque do Palácio, finalmente, vire aquilo que sempre sonhamos: um espaço vivo, cheio de crianças brincando, de famílias passeando, de cultura acontecendo, de esporte movimentando, de natureza preservada. Um espaço de Canela para os canelenses.