Coluna publicada no dia 12/09.
O prefeito Gilberto Cezar é bem ativo nas redes sociais, isso ninguém pode negar. A timeline dele anda cheia de postagens mostrando obras, melhorias, situações do dia a dia da cidade. E uma das últimas foi justamente sobre o Parque São Lucas, onde aconteceu uma grande limpeza. Eu já falei sobre esse local aqui na coluna umas mil vezes, e não é exagero. Aquele parque é um daqueles pontos que sempre voltam à pauta porque precisam de constante atenção.
Na postagem, o prefeito chamou a comunidade pra cuidar do espaço. E olha, vou te dizer, ele não tá errado. Posso até parecer repetitivo, mas não adianta o poder público ir lá, limpar, organizar, ajeitar tudo bonitinho se, na sequência, parte da comunidade não se envolve em manter. Isso é básico: espaço público não é de ninguém, mas ao mesmo tempo é de todo mundo. Se a gente não entende isso, aí fica difícil.
O clichê que é verdade
Sei que pode soar clichê aquele papo de “esses espaços são nossos”, mas é a mais pura realidade. Imagina: hoje alguém joga um saco de lixo na beira da praça. Amanhã, é o filho dessa mesma pessoa que vai brincar por ali, correndo no meio da sujeira. Ou então o filho de outro morador, que não tem culpa nenhuma. Não tem como normalizar isso. Não é só sobre aparência, é sobre saúde, sobre convivência, sobre qualidade de vida.
A gente pede tanto por mais parques, mais praças, mais áreas de lazer. Mas será que, quando esses espaços vêm, a gente cuida deles? Essa é a pergunta que não quer calar. Porque ter é uma coisa, manter é outra bem diferente.
Entrevista com o Nene
Hoje mesmo, inclusive, fizemos uma entrevista com o vereador Nene Abreu (MDB), lá na praça João Wender – aquela que fica ali em frente ao antigo Amarelão, na avenida João Pessoa. E o papo foi justamente sobre a indicação dele pra criar um programa de adoção de praças, seja por empresas, entidades ou até grupos da comunidade.
Eu achei uma baita indicação. Vai muito de encontro a essa ideia de corresponsabilidade que venho falando. Se a prefeitura faz a parte dela, limpando e estruturando, e a comunidade assume o papel de vigiar, preservar e usar de forma consciente, aí sim a roda gira. Porque sozinho, nenhum dos lados dá conta.
Associações de moradores
Agora, eu vou além. Sempre defendi que associações de moradores deveriam ter um papel mais ativo nisso. Não estou falando em gastar dinheiro, reformar praça, trocar lâmpada. Isso é função do poder público, óbvio. Mas zelar, organizar atividades, manter o espaço vivo… isso poderia muito bem ser puxado pelas associações.
Imagina cada bairro tendo um ponto de referência bem cuidado, não só como cenário, mas como lugar de encontro. Isso cria vínculo, cria pertencimento. Porque é diferente tu passar todo dia por um espaço que é só mato e sujeira, do que passar por uma pracinha onde tu sabe que a comunidade está envolvida.
O medo de não cuidar
E sabe o que me preocupa? É que a gente luta tanto por estruturas novas – um ginásio decente, um teatro adequado, áreas esportivas – mas quando esses equipamentos vêm, será que a gente cuida? Eu tenho medo de ver, daqui a pouco, um ginásio novinho já cheio de pichação, ou uma praça reformada tomada por lixo em menos de um mês.
Cuidar não é só dentro, é também fora. Não adianta ter arquibancada bonita e banheiro limpo se na parte externa o muro tá todo rabiscado. Isso não é bonito. Pelo contrário, é um desrespeito com o espaço e com quem usou recurso público pra construir aquilo.
A cultura de conservar
É um desafio cultural, no fim das contas. A gente ainda tem o hábito de pensar que “se é público, não é meu problema”. Só que é justamente o contrário: se é público, aí sim é problema de todo mundo. Falta esse senso de pertencimento. É como se cada espaço fosse extensão da nossa própria casa.
E aqui não estou falando de exagero, de transformar praça em sala de estar. Mas de entender que, se tu não suja tua sala, também não deveria sujar a praça. Se tu não risca tua parede, também não deveria rabiscar um banco público. Parece simples, mas é essa simplicidade que falta no dia a dia.