CANELA – A intervenção nos serviços de triagem e transbordo prestados pela empresa Serra Ambiental completará seis meses no próximo dia 16. Em janeiro, por constatação de de crimes de poluição e descumprimento de itens da Licença de Operação (LO), com a presença do Ministério Público, da Patrulha Ambiental e da Brigada Militar, a Prefeitura declarou a interposição no local.
O biólogo Carlos Frozi, nomeado interventor, em entrevista exclusiva ao Jornal Integração, informou que o índice de triagem chegou a alcançar quase a metade da meta estipulada em 40%, atingindo 18,9%, mas há três meses começou a regredir novamente. Quando o biólogo assumiu a intervenção foi constatado que a empresa Serra Ambiental reaproveitava somente 5% do lixo por meio da triagem.
“De três meses para cá decaiu. Começou a aparecer mais mistura do seletivo, mas não sei dizer os motivos. Decidimos sensibilizar os professores e as escolas estão vindo com os alunos para acompanhar. Isso já deu resultado, já várias manifestações de pais relatando que os filhos chegaram destacando que deve haver a separação correta. Todos ganham com essa maneira de conscientizar”, projeta.
Desafios da intervenção

Com a chegada, em média, de 35 toneladas, nos dias do seletivo, e 60 toneladas, nos dias de orgânico, a intervenção enfrenta desafios diários para dar excelência ao trabalho, mas, conforme Frozi, algumas das arestas já foram aparadas.
“Nossos maiores problemas eram os passivos detectados pelo MP, Patram, Fepam e por mim nos relatórios. Um deles era a quantidade de resíduos depositados no pátio e não na área coberta, que ficavam expostos na estação de transbordo e na plataforma de recepção de seletivo. Significa que estavam a céu aberto, mas esses problemas foram sanados”.
Frozi completou que este problema (lixos expostos), em específico, voltou a acontecer durante um período no mês de maio por conta das fortes chuvas que acabaram dificultando o translado dos caminhões que fazem o transporte dos resíduos até São Leopoldo. “Foram sete dias sem mandar o lixo”, contou.
Problema constatado antes da intervenção, o acumulo de chorume e resíduos contaminados no pátio também foram resolvidos. Manutenções no prédio também foram feitas para adequar a estrutura.
“Os chorumes e resíduos contaminados resolvemos quase 100%. Nós tínhamos problemas sanitários, já que o sistema de esgoto estava quebrado, além de tubulações que também estavam danificadas. O manejo interno, incluindo a melhoria do prédio, foi resolvido, o problema agora é a manutenção da gestão interna”, pincelou.
Como chegar aos 40%?

A cooperativa COOCAMARH, contratada pela Prefeitura para fazer a triagem, conta com 28 funcionários, que trabalham de segunda à sábado, na Central de Triagem. “São 28 famílias vivendo do resíduo coletivo e com qualidade deste resíduo”, salientou. Os funcionários enfrentam, na prática, o resultado da má separação do lixo feita pela comunidade. Para chegar aos 40% estipulados pela intervenção, Frozi constatou que também deverá haver uma mudança no roteiro do recolhimento, que chega 50% misturado entre lixo seco e orgânico.
“A perspectiva dessa meta é até o final do ano, porém eu constatei que temos um problema de roteiro de coleta. O resíduo chega na plataforma de recepção do seletivo três vezes por semana, mas com grande volume misturado com o orgânico, cerca de 50%. Isso prejudica e contamina o resíduo seletivo, dificulta o trabalho na esteira. Como isso é muito pesado dificilmente vai elevar o índice”, lamenta.
Frozi apontou que dois dos principais problemas para que causam esta situação está na separação do lixo nas residências e no encaminhamento dos resíduos às lixeiras nos dias errados. Ele indicou que até fezes humanas foram encontradas dentro de sacolas plásticas.
“Caiu na minha mão quando fui tentar ajudar os funcionários no sistema de manejo e acabei me dando mal. Eu não esperava que uma população canelense pudesse colocar isso na lixeira no dia do seletivo. Pra mim é uma decepção”.
Para ele, a meta só será alcançada quando a população ser mais sensível e consciente acerca da separação correta do lixo. Além disto, Frozi reforça que mudança no roteiro de coleta é indispensável.
“Vamos chegar no momento que a população lá fora ter mais sensibilidade, mais consciência de separar o lixo seletivo do orgânico e respeitar os dias corretos de encaminhar os resíduos. Eu já estou trabalhando com o Meio Ambiente já que se mexer no roteiro vai vir menos volume num dia só que será diluído durante a semana. Com isso, eles (cooperativa), eles conseguem triar o resíduo de uma dia na esteira plenamente”.
A ideia é que os dias do lixo orgânico sejam na segunda, quarta e sexta, e o roteiro do seletivo na terça, quinta e sábado. “Se diluir o orgânico em dias diferentes, conseguimos diminuir o volume e mandar para São Leopoldo sem mais gastos operacionais”. O gasto diário, de acordo com o levantamento repassado para a reportagem, era de R$ 15 mil quando não havia a triagem feita pela cooperativa. Atualmente, o gasto é entre R$ 5 mil e R$ 10 mil. “Toda a comunidade ganha com o dinheiro que não é mais posto fora”.
Ele completou que a decisão da mudança no roteiro passa pela Secretaria do Meio Ambiente. “Nosso desafio com o Poder Público é comungar as necessidades daqui (pátio) com as da rua (coleta)”.

“Nós precisamos respeitar essas 28 pessoas”, aponta Frozi
Frozi destaca que os integrantes da cooperativa também fazem parte da construção de uma sociedade coletiva e reforça que eles acabam sofrendo as consequências da separação incorreta do lixo.
“Eles estão evoluindo, passando de uma percepção do ‘eu’ para ‘nós’, ou seja, com coletividade. Eram catadores de rua ou funcionários da empresa. Muitos deles perderam casas nas enchentes. É uma construção de uma sociedade e pensamento coletivo, que é o desafio dessa cooperativa”.
Ainda, ele frisa que a separação também demonstra respeito e senso ao trabalho executado pelos funcionários. “Nós precisamos respeitar essas 28 pessoas que estão tirando um lixo misturado, que diminui custo e preserva o planeta. Ecologistas são eles que estão com um subproduto de uma sociedade alienada que passou pela escola e não faz o dever de casa”.
Frozi ressalta que a Cooperativa se sustenta com a venda dos resíduos que são reaproveitados. O montante é dividido entre os funcionários, com o desconto dos impostos.
“Toda essa receita paga os impostos, eles são legalizados. Quanto melhor, maior vai ser o salário. Começaram com R$ 1.100, foi a R$ 1.600 e, no último mês, quem não faltou, chegou a R$ 2.700 com descontos”. No último levantamento, vendas alcançaram cerca de R$ 50 mil.
Frozi resgata que ainda há um longo caminho para que a comunidade entenda a importância da separação do lixo e sugere que sistema de multas poderia ser um dos caminhos para que haja uma resolução. “Os países europeus adestraram a população com valores astronômicos na coleta, na gestão do lixo e multas. Assim se aprende”, pontua.
Ainda, ele comenta que para se inteirar sobre o assunto e ter mais sensibilidade acerca da importância da questão a comunidade teria que visitar e acompanhar a triagem.
O que fazer com as fezes dos animais?
Frozi revelou que também são encontradas muitas fezes de gatos e cães na triagem e deu sugestões. Aos que residem em casas que possuem pátio, Frozi orienta que os dejetos sejam utilizados como adubo e depositados em lavourinhas ou até que cidadãos montem pequenas composteiras. Já para quem possui pets e mora em apartamentos, ele indica que fezes sejam colocadas no vaso sanitário.
Para finalizar, o interventor revelou que há a intenção do Conselho Municipal do Meio Ambiente de Canela (Comdema) em implantar a Separação Absoluta nos próximos meses.
“A ideia é implantar a separação absoluta em casa: papel, plástico, vidro, metal, orgânico e rejeitos (papéis higiênicos, absorvente e etc). Isto em está em Lei Federal, Estadual e Municipal. A seletiva não dá mais, se foi o tempo dela, o mundo não permite mais”, completou.
A entrevista completa pode ser conferida por meio da página do Jornal Integração no Facebook. reportagem do Jornal Integração entrará em contato com a Secretaria do Meio Ambiente de Gramado para verificar como está a situação da coleta de lixo no município.













