O número insuficiente de doses da vacina para Covid-19, especialmente nos casos onde já deveria estar ocorrendo a segunda aplicação, está gerando dúvidas e insegurança na sociedade. Em Canela, por exemplo, na manhã desta segunda-feira 320 pessoas deveriam receber a segunda dose da vacina, entretanto apenas 140 foram entregues e outras 180 tiveram que voltar pra casa sem serem imunizadas. O temor geral das pessoas é perder o efeito imunizante da primeira dose e ter que repetir a primeira dose.
O Instituto Butantan recomenda que a segunda dose da CoronaVac deve ser aplicada em um período entre 14 e 28 dias após a primeira. Já quem recebeu a dose da vacina AstraZeneca/Oxford pode esperar um pouco mais: o período recomendado é três meses. Para especialistas, no entanto, uma espera um pouquinho maior não compromete a imunização.
Por conta desta preocupação a Secretaria da Saúde de Canela emitiu uma nota esclarecendo que: “tomar a 2ª dose alguns dias após a data recomendada pela fabricante não compromete a imunização. Se a pessoa não fizer a 2ª dose no período recomendado poderá fazer posteriormente sem problemas, pois não ocorrerão perdas na resposta imunológica e também não existe necessidade de repetir a primeira dose”.
O Departamento de Microbiologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) confirma que tomar a segunda dose da vacina alguns dias após a data recomendada pela fabricante não compromete a imunização, e não há perdas dos efeitos da primeira dose. “Do ponto de vista imunológico, se atrasar um pouco, não vai dar problema. Aquela imunidade ali começou a ser desencadeada pela primeira dose, e o que a gente faz com a segunda dose é completar o protocolo para garantir a eficácia que foi observada nos estudos”, diz Giliane Trindade, virologista e professora da UFMG.
O médico sanitarista Rodolpho Telarolli Júnior, da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Unesp de Araraquara, ao portal acidadeon.com, afirmou que não há estudos científicos que caracterizam, de maneira exata, o que acontece no organismo quando só uma dose é aplicada.
“Volta e meia aparece esse assunto, de atrasar a segunda dose em relação ao protocolo que é indicado pelo fabricante. Não tem grande prejuízo. A pessoa não perde a eficácia da primeira dose. Quando tomar a segunda vai estar plenamente imunizada três semanas depois”, afirma.
Ao portal agazeta.com.br a epidemiologista Ethel Maciel enfatiza que ainda não há um parâmetro e a imunização só pode ser considerada completa quando a segunda dose for aplicada. Ou seja, mesmo com atraso é preciso tomar a segunda dose.
Ethel explica que a primeira dose serve para apresentar o agente infeccioso ao sistema imunológico e nesta fase a resposta do organismo ainda é baixa. A segunda dose da vacina ajuda a reforçar a imunidade e mantê-la por mais tempo. “O que a gente sabe, por conta de outras vacinas, que para fazer a imunização mais prolongada é preciso tomar a segunda dose. Então, mesmo com o atraso, é importante fazer a segunda aplicação”, diz.
Ao portal uol.com.br, a doutora em microbiologia e presidente do Instituto Questão de Ciência, Natália Pasternak, assinala que os estudos e os níveis de eficácia são com base na aplicação das duas doses. Ela explica que o indivíduo não vai perder a imunidade da primeira dose e que a segunda dose é um reforço para estimular o corpo a produzir um número maior de anticorpos.