Coluna publicada no dia 18/06.
As nuvens escuras que se formam no céu não trazem apenas chuva. Para muitos moradores de Gramado, especialmente dos bairros Piratini e Três Pinheiros (foto abaixo do ano passado, quando moradores tiveram que sair de casa), elas carregam o medo. Não é exagero. É um reflexo direto de tudo o que essas comunidades viveram há pouco mais de um ano, quando deslizamentos e enxurradas causaram destruição, desalojaram famílias e deixaram marcas profundas — físicas, emocionais e sociais.

Angústia relatada
Toda vez que o tempo ameaça virar, quem vive nessas regiões sente novamente a angústia. O barulho do vento, a intensidade da chuva batendo no telhado, a lembrança dos alertas e de ter que sair de casa, remete novamente as incertezas. Tudo isso ativa o trauma de quem, um dia, teve que sair de casa às pressas ou assistiu vizinhos perderem tudo. Quando completou um ano da tragédia de maio, conversei com uma pessoa moradora e que tem negócios no bairro Três Pinheiros e ela relatou que sempre quando chove fica o temor e a angústia.
Medo é geral
E esse medo não é exclusivo desses dois bairros. Ele se estende a todos que vivem próximos de encostas, morros e áreas de risco, seja Canela ou Gramado, áreas urbanas ou rurais. Pessoas que, mesmo após meses de aparente tranquilidade, ainda não conseguem dormir em paz quando a previsão do tempo anuncia instabilidade. É responsabilidade do poder público não apenas reagir às tragédias, mas atuar de forma preventiva.
Momento de união e alerta
O dia amanheceu novamente com notícias tristes vindas de diversos pontos do Rio Grande do Sul. A chuva, que há pouco mais de um ano já havia deixado marcas profundas em nossas cidades, retorna agora trazendo em alguns lugares o cenário de destruição, incerteza e dor. O que se esperava que tivesse sido resolvido, ao menos amenizado, ainda encontra pela frente entraves, adiamentos e respostas aquém da urgência.
Revolta e cobranças
É natural que em momentos como este surjam sentimento de revolta, indignação e, sim, cobrança. Prefeitos, governos, órgãos competentes e representantes da população precisam ser responsabilizados na medida de suas funções. Mas a politização exagerada e a busca incessante por culpados muitas vezes atrasam aquilo que mais precisamos neste momento: soluções.
Queda da ponte
Em Nova Petrópolis, a queda da Ponte da Cooperação — símbolo de união e esforço comunitário — não representa apenas uma tragédia física. Ela simboliza o quanto ainda estamos frágeis diante dos desafios climáticos e sociais. A morte registrada neste episódio entristece e alerta. Não se trata apenas de infraestrutura, mas de vidas.
Todos juntos
Reforçamos aqui que foi dito há um ano: não é “o povo pelo povo” ou “governo contra o povo”. É todos juntos. Não se pode esperar que a população resolva sozinha o que exige coordenação, investimento e planejamento. Tampouco se pode imaginar que o Estado, isoladamente, dê conta de tudo sem o engajamento da sociedade. Neste momento, é fundamental que lideranças políticas, gestores públicos, entidades civis e cidadãos deixem de lado o discurso polarizado. Precisamos de diálogo. É hora de agir com responsabilidade, empatia e cooperação. De relembrar que, embora a chuva não escolha a quem atingir, a resposta a ela depende de escolhas conscientes. E a principal delas é a escolha pela união.





