GRAMADO – Clima de tensão e ao mesmo tempo de solidariedade e de emoções. Cada morador que teve que deixar suas residências, principalmente dos bairros Três Pinheiros e Piratini externam seus sentimentos de ter que deixar suas residências, desde domingo (19), por conta do risco de desabamento.
Sacolas com roupas, carros com porta malas cheio de utensílios pessoais e alguns improvisando na rua, uma pequena cozinha e acampamento onde vizinhos compartilhavam alimentos e suas angústias. Um destes moradores é Rafael Klemente, 32 anos, residente da rua da Perimetral.

Ele que mora com a esposa Luana de 22 anos e a mãe, Rosilei, 56 anos, descreveu este momento de incertezas e a interrogação de quando poderá voltar para casa. No entanto, admitiu que a medida é necessária para evitar risco para as vidas.
“Tiramos somente o básico de dentro de casa, não é possível arriscar e tirar os móveis. Estou ciente que esta é a melhor medida de sair de casa, moro desde quando nasci, é uma vida inteira. É um sentimento muito complicado de explicar. Agora só por Deus, vamos aguardar”, enfatizou.
Sentimento de perda e tristeza
A reportagem do Jornal Integração circulou pelo bairro Três Pinheiros durante a manhã e tarde de segunda-feira (20) e acompanhou diversas famílias retirando pertences das residências em um cenário de muita angústia e temor. Pousadas da região também tiveram que convidar os hóspedes a se retirarem por conta da questão.
Um destes moradores era Dyego Borges de Borba, 38 anos, que residia com a esposa e os dois filhos na rua Octacílio Silva. Diego explanou o sentimento de tristeza das famílias por deixarem suas casas para trás sem a certeza de quando retornarão.

“O sentimento é de tristeza, conquistamos muitas coisas e o que, hoje em dia, não é fácil. Não é só com a gente, mas muitas famílias estão passando por isso. Aqui era um bairro muito bom e tranquilo de morar. Queremos que a situação vire passado para podermos retornar até nossas residências. Todo mundo está sentindo a perda das casas”, sublinhou.
Ele ainda relatou os momentos de tensão quando a notícia que a evacuação deveria ocorrer chegou até a porta de sua casa. “Eu estava trabalhando, minha esposa me ligou avisando que a Defesa Civil orientou para que evacuássemos o quanto antes. Eu vim correndo e eles não estavam mais aqui, foi um susto muito grande”, descreveu.
A família era moradora do bairro há mais de quatro anos e estão abrigados na Várzea Grande na casa da cunhada de Dyego até que a situação seja resolvida.
Outro morador que ainda estava no bairro era Airton Michel. Assustado com a gravidade do caso, o homem de 57 anos relatou a dor de deixar “uma vida inteira de trabalho” para trás, se referindo ao imóvel dele e da família. Ainda, Michel espera que uma solução em curto prazo seja conquistada pela Prefeitura.

“Por enquanto tiramos só as pessoas. Estamos preocupados, o pior é termos que abandonar nossas casas, é uma vida inteira de trabalho. Espero que não se condene o bairro todo, tem que ter (uma solução). Está preocupante, enquanto não chove está tudo certo, quando chover é que vai ser o problema”, disse Airton, morador do bairro desde 1996. Ele, a esposa e os dois filhos estão abrigados no bairro Floresta na casa da mãe de Airton.
Casa recém reformada
Na rua Nelson Dinnebier, bairro Piratini, 23 residências foram interditadas devido a rachaduras e deslizamento de terras, informou a Prefeitura de Gramado. A movimentação coletiva de carros e caminhões era intensa nesta via, na tarde de segunda-feira (20). Com as casas praticamente vazias, Michelle Teixeira, 34 anos e sua mãe Claudinete Ramos, 57 anos, possuem as moradias no mesmo terreno e o sentimento assim como de todos que tiveram que deixar seus lares é de incertezas.
Michelle que mora junto com o esposo Leandro Teixeira, 37 anos e os filhos, Davi e Arthur, 3 e 8 anos, respectivamente citou que sábado a Defesa Civil orientou que todos saíssem de casas devido ao risco de desabamento.

“Pediram para nós sair. Estão falando que tem uma fenda e com perigo de desabar. Sempre deu chuvas fortes, mas até então como aquela chuva, nunca tinha ocorrido algo assim. Com esta situação não tem como ficar tranquilo. Faz cerca de 20 dias que reformamos e pintamos toda a casa, nem comecei a pagar ainda”, relatou. Leandro mostrou para a reportagem do Jornal Integração, uma rachadura na escada da casa, que por volta das 7h30 da manhã tinha uma fissura, cerca de uma hora depois, já apresentava na dimensão da palma de uma mão.
A mãe de Michelle, que mora em uma casa no mesmo terreno há 15 anos, assim como a filha não sabe que rumo neste momento seguir. “Estou sem chão não tem o que falar o que dizer, não tem explicação”, disse Claudinete. A família foi para casa de parentes e os móveis conseguiram emprestados um container para armazená-los.

Textos: Tiago Manique – [email protected] e Leonardo Santos – [email protected].