CANELA – O local chamado muitas vezes pelos vereadores de ‘a casa do povo’, em uma alusão de que ali atuam pessoas que são eleitas pela sociedade e a esta representam nos grandes debates pelo desenvolvimento do município, também serve, muitas vezes, para ofensas entre adversários políticos. E, a ‘casa do povo’ de Canela, serviu até para um acerto de contas a socos e empurrões entre duas das mais altas autoridades municipais nesta quarta-feira, durante a sessão da Câmara de Vereadores: o vereador Jerônimo Terra Rolim e o secretário da Saúde e interventor do Hospital de Caridade, Vilmar Santos, considerado o primeiro-ministro da administração municipal e um dos possíveis candidatos a vice de Constantino Orsolin, atual prefeito, na eleição de outubro, quando busca sua reeleição, teriam se desentendido dentro da sala do vereador.
A relação dos dois estremeceu desde meados de 2018, quando a administração municipal encerrou os repasses à ONG Amigo Bicho, defendida pelo vereador. Rolim sempre acusa o secretário de ser o culpado pelo encerramentos dos repasses, logo após assumir o cargo deixado por Jean Spall. Rolim afirma publicamente que tanto o secretário Vilmar, quanto o prefeito Constantino Orsolin, mentem sobre a ONG dizendo que esta não está apta legalmente para receber recursos públicos, bem como de que ele estaria desviando os recursos para custear despesas próprias (segundo o vereador, o prefeito chegou a fazer uma Queixa Crime contra ele com essa alegação). Em razão disso as duas partes discutem inclusive na Justiça, tendo o vereador registrado ocorrência de calúnia e difamação na Delegacia de Polícia contra os dois.
Na tribuna da Câmara de Vereadores, Jerônimo tem atacado com veemência tanto o secretário quanto o prefeito, bem como a equipe de governo. Vilmar Santos, que é ex-vereador, tem assistido as sessões e ouvido pessoalmente as ofensas de Rolim.
Na sessão desta quarta-feira (realizada nesta data porque segunda-feira, dia habitual, os edis gozavam de folga por conta do decreto de ponto facultativo do Executivo, por causa do Carnaval), a dose de acusações e ofensas dirigidas ao secretário, que assistia, bem como ao governo de forma geral, foi elevada. Ele disse que tem uma “turminha de baixo nível no poder, na administração, em vários cargos” gravando o que ele fala na câmara e depois passam distorcido para interessados e grupos de WhatsApp. Nestas, teriam distorcido seu discurso da sessão anterior quando falava em improbidades que teriam ocorrido no Natal, como se fosse estar falando do atual secretário de Turismo, Ângelo Sanches, quando na verdade tratava de anos anteriores (2012), e passou a atacar a administração, em especial a secretaria da Saúde e o Hospital. “Se vir este coronavírus que os vereadores estão falando aqui, vai morrer todo mundo. Pois se depender do nosso secretário (Vilmar Santos), que agora começou até a vir aqui na Câmara, nunca pintou por aqui, morremos todos”, disse o vereador.“Constantino é o cara que mais tem improbidade administrativa, o único prefeito da história de Canela a ter as contas reprovadas. O Tribunal de Contas diz que ele não é um bom gestor, silêncio da maioria dos vereadores [sobre a aprovação, pela Câmara, da prestação de contas do prefeito, referente a 2011, rejeitadas pelo TCE, onde até ele próprio, que era líder de governo, votou a favor]”. Durante a fala, Terra Rolim deu grande ênfase ao verbo mentir. “Mentiram que, inventaram uma cassação mentirosa, e saíram comemorando (…), mentirosos. Mentiram que eu uso recurso da Amigo Bicho para pagar as minhas contas particulares, prefeito mentiroso falou isso na delegacia e vai ter de se explicar na frente do juiz agora. Mentiram que eu faço improbidade administrativa, mentirosos. Mentiram que o servidor não iria receber o décimo terceiro [salário]. (…) Olha que eles estragaram a cidade em um mandato (2009/2012) e agora tiveram a oportunidade de fazer e melhorar, não, estão fazendo perseguição, fazendo só política populista: a Saúde um descalabro, horrível, meio ambiente, terrível, Corsan, pior de tudo, áreas habitacionais o caos do caos do caos. (…) A comunidade não ganha nada com essa baixaria do Executivo”, finalizou.
Passado o período de votação, o vereador foi para a sua sala e se deparou com o secretário o aguardando, momento em que se desentenderam. Outras pessoas se envolveram e a Brigada Militar chegou a ser acionada, mas não se deslocou ao local. O assessor do vereador, Mauro Antônio Rodrigues da Silva, 41 anos, fez registro de ocorrência por lesão corporal e ameaça de morte. Segundo disse ao Jornal Integração, estava apaziguando as partes quando foi agredido pelas costas por uma pessoa que estava com o secretário, identificado como Leon Felipe Santos da Silva, no registro de ocorrência. O mesmo indivíduo ainda o teria ameaçado para que não fosse registrar o caso à polícia, dizendo que lhe daria um tiro na cara. Terra Rolim também foi à Delegacia de Polícia, ontem à tarde, registrar ocorrência de ameaça. O vereador estava tentando obter os vídeos das câmeras do hall de entrada, em frente às salas dos vereadores, mas lhe informaram que não há imagens deste horário. Ainda assim, o assessor Mauro tem alguns vídeos particulares que entregou à polícia para a investigação.
Versão do secretário Vilmar Santos
O Jornal Integração conversou também com o secretário Vilmar Santos, ontem à tarde. Ele contou que passado o período de votação da pauta do dia dos vereadores, se dirigiu até a sala do vereador, onde sentou e aguardou a chegada de Jerônimo, para conversar. “Eu queria saber o porquê desta ira dele, que passou do tolerável, mas quando vi que não iria dar para conversar fui embora”. Santos afirma que em momento algum o agrediu e que jamais faria isso. Lamentou que o vereador em suas falas “não respeita a história e nem a família de ninguém”. Quanto à questão da interrupção dos repasses à Amigo Bicho, Santos declarou que é de fato uma recomendação do Ministério Público, em que uma série de apontamentos precisariam ser resolvidos para que os repasses pudessem ser feitos. “O documento está lá na Câmara, mas eles não querem ler e para o vereador é melhor bater em mim do que no Ministério Público”, resumiu. O assessor do vereador Jerônimo, Mauro Antônio Rodrigues da Silva, confirmou ao JI que o secretário não cometeu agressão alguma.
Fotos: Eduardo Saueressig e Márcio Cavalli