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“Me ensinou a ser mãe. Ele só esqueceu de me ensinar a viver sem ele aqui”

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CANELA – Na noite da sexta-feira, 25 de abril, o silêncio da Estrada do Caracol-Ferradura, foi rompido por um trágico acidente. Jorge Henrique Catuci, de apenas 18 anos, perdeu a vida após colidir com um poste quando voltava para o sítio da sua família. Um pouco mais de uma semana depois, a dor ainda ecoa forte na família e na comunidade. Em uma conversa comovente com a reportagem do Jornal Integração, a mãe do jovem, Rosa Wiltgen, compartilhou lembranças, lágrimas e o vazio deixado pela perda de seu único filho.

Uma infância cheia de luz

“Henrique era uma criança calma, divertida, adorava brincar com carrinhos no barro — em sua maioria, caminhões — e também andar de bicicleta. Amava sair com a mãe, a dinda e a avó para passear e fazer bagunça no centro”, disse Rosa.

Desde muito pequeno, Henrique irradiava alegria e amor. Sua infância foi marcada por simplicidade e muito afeto. A mãe recorda com carinho os momentos marcantes.

“As lembranças são muitas, mas a mais marcante era dele andando na rua com o jipe e uma motoquinha que ele tinha. Também gostava de jogar futebol com alguns meninos. Ele era chamado de ‘Nego’ pelos vizinhos, de ‘Bebê’, de ‘Kiki’, ‘Gordinho’, entre outros apelidos carinhosos.”

O menino que cresceu ajudando a todos

O espírito colaborativo de Henrique transparecia em cada gesto, em cada escolha. Desde cedo, ele se mostrava solícito, participativo na rotina familiar e amigo dos vizinhos.

“Adorava ajudar o dindo Édson, andar de caminhão com a dinda, ajudar os avós na roça. Ajudava a avó Jade, e ia trabalhar com o pai no caminhão e no trator quando precisava. Ajudava os demais vizinhos. Tínhamos também uma vizinha chamada Maria, que ele amava. Chamava ela pra tomar chimarrão e comer pipoca. Ela sempre estava junto dele e nos ajudou na criação. Era uma relação sem explicação”, recorda-se.

Um filho de ouro

No relato, Dona Rosa emociona ao descrever o vínculo com o filho. Mais do que mãe e filho, eram amigos, cúmplices. A relação dos dois era pautada pelo respeito e pela ternura.

“Nós éramos mãe e filho, éramos amigos. Uma relação de afeto, carinho, cumplicidade. Ele sempre foi um filho de ouro. Nunca me desrespeitou ou faltou com educação com qualquer pessoa. Não deixava de me avisar um dia sequer. E quando já era maior, me ligava ainda pedindo se podia ir ou fazer algo. Nunca fez nada sem nossa autorização”, relatou.

Ela sente falta das pequenas rotinas, dos momentos simples que se tornaram inesquecíveis.

“Em todos os momentos do dia, sinto falta dele. Sinto falta dele sentado à mesa durante as refeições. Sinto falta dele na área no final da tarde, quando chegava do trabalho para tomarmos nosso chimarrão. Ele me buscava também quando eu precisava — no trabalho, na parada de ônibus”.

Conselhos de mãe e a sabedoria precoce do filho

QuandoHenrique já era um adolescente, e as conversas entre mãe e filho ganhavam novas camadas de responsabilidade e cuidado. Dona Rosa revela os conselhos que dava e o quanto o filho demonstrava maturidade.

“Conversávamos sobre relacionamentos. Eu dizia: ‘Henrique, tu cuida das gurias. Como tu trata elas, se cuida para não engravidar uma menina. Porque filho não é só ter, precisa cuidar com responsabilidade. Ele me ensinou tudo. Me ensinou a dar valor para vida, a curtir a vida. Me mostrou o que uma mulher sente quando tem um filho. Me ensinou a ser mãe. Ele só esqueceu de me ensinar a viver sem ele aqui”.

Sonhos realizados e outros por conquistar

Apesar da juventude, Henrique realizou grandes conquistas que o enchiam de orgulho e alegria. Era apaixonado por máquinas e veículos.

“Os maiores sonhos dele ele realizou — como tirar a carteira de motorista, ser maquinista em máquinas grandes, comprar sua moto de trilha. Mas ele tinha outros sonhos pela frente, que com certeza iria conquistar. Ele não comentava sobre o futuro. Vivia o hoje. Para ele, valia a pena viver o momento agora”, recorda-se.

A humildade e a forma como tratava os outros deixaram marcas em todos que o conheceram, principalmente no bairro Jardim das Fontes, onde a família reside. “A humildade, simplicidade e o modo como ele tratava todos — sem se importar com idade ou classe social — eram admiráveis. Para ele, todos eram iguais. Era um cara incrível, maravilhoso, sempre ajudando a todos — o pessoal do bairro e de qualquer lugar que precisava dele. Podia sempre contar com ele, a hora que fosse. Tinha muitos amigos que podia confiar, amigos de infância como o Éderson, com quem mantinha amizade até hoje.”

O último dia

Com a voz embargada, Dona Rosa relembra as últimas conversas que teve com o filho, na manhã da sexta-feira, 25 de abril, dia do acidente.

“Eu lembro que levantei de manhã e ia tomar meu banho, como fazia todos os dias antes de trabalhar e antes de fazer o café. Perguntei para ele se tinha horário marcado para ir trabalhar na sexta, se tinha algum serviço. Ele me disse que não, que não tinha nada marcado ainda. Perguntei: ‘A mãe deixa o café pronto pra ti?’ E ele me disse que não precisava, que depois ele fazia para ele quando levantasse, porque ia lavar o carro dele e a máquina.”

Foi com um beijo de despedida que ela saiu de casa. Mais tarde, recebeu uma mensagem do filho dizendo que estava no sítio da família, no bairro Caracol.

“Ele me mandou mensagem dizendo que iria ficar no sítio, porque no outro dia eles iriam andar pelos matos com as motos. Ele e mais quatro amigos tinham motos de trilha. Mas não era para ir a outros lugares, eles faziam trilha lá mesmo no sítio. Eu ainda brinquei com ele: ‘Vai vir pra casa hoje? Vai deixar a mãe sozinha?’ E ele disse: ‘Não mãe, se ficar muito tarde eu vou dormir aqui no sítio com o pai.’ Perguntei se podia fechar a porta. Ele disse que sim, que tinha a chave.”

Mas o que parecia uma noite comum se transformou em tragédia.

“Isso foi umas sete e pouco da noite. Às nove horas, o amigo dele me mandou mensagem dizendo que o Henrique tinha ligado avisando que tinha sofrido um acidente de moto, pedindo ajuda. Até então, eu achava que ele só tinha caído, quebrado uma perna, um braço… alguma coisa assim.”

A realidade, no entanto, era muito mais dura.

“Quando cheguei ao hospital e os médicos não deixaram eu entrar, percebi que era algo grave. Meia hora depois, o médico me chamou na sala e me deu a notícia: meu filho tinha vindo a óbito. É uma coisa que nenhuma mãe… Eu não desejo para nenhuma mãe ouvir isso. Nunca. Ainda mais o meu filho, que para mim era tudo na minha vida. Meu único filho. Eu e meu marido, até hoje, não admitimos.”

O acidente

De acordo com a Brigada Militar, o acidente aconteceu por volta das 21h, na Estrada do Caracol-Ferradura, próximo à entrada dos Bondinhos Aéreos. Henrique trafegava em sua moto de trilha no sentido Ferradura-Caracol, quando perdeu o controle numa curva à esquerda e colidiu com um poste. Ele chegou a ser socorrido pelo SAMU e levado ao hospital, mas não resistiu aos ferimentos.

Uma ausência eterna

A morte de Henrique deixa uma lacuna impossível de preencher. Sua ausência é sentida na mesa, no pátio, nos corações que tocou com sua generosidade.

“Se eu pudesse falar alguma coisa pra ele, seria: ‘Filho, eu te amo. Sempre vou te amar. E você sempre será o nosso bebê. Seus dindos, avós e amigos nunca vão esquecer de você. Sempre será lembrado no coração de cada um”, finalizou.

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