GRAMADO – Acordar pela manhã, abrir a porta e a janela e não precisar encarar poeira e barro. Esta cena foi aguardada por muitos moradores da Linha 28, Quilombo e Carahá. Esta última localidade é onde reside Elvira Bérgamo, com 92 anos. Ela participou no sábado (22) da inauguração do asfalto destas três regiões, que aconteceu na Sociedade São Gotardo, no Carahá.
Nestas mais de nove décadas de vida, completa 93, em novembro, todos vivendo no local onde reside até hoje, celebrou a chegada do asfalto. Após o término da cerimônia, em frente ao salão da sociedade e com uma vitalidade impressionante, carismática e ao lado do filho Henrique Bergamo, 63 anos, lembrou dos momentos enfrentados para circular pela estrada, em muitos até considerado ‘intransitável’.
“Lembro bem quando saímos dali (apontando para a sua casa em frente ao cemitério), ainda criança com meu pai, íamos de carreta de boi para Gramado e muitas vezes para conseguir andar, somente com correntes na roda. Na época estavam construindo a igreja”, recorda-se.
O filho Henrique morador do bairro Floresta, que passou grande parte de sua vida na região também contou as ‘aventuras’ vivenciadas. “Íamos de cavalo e carreta para a cidade e muitas vezes pegando carona com o leiteiro. Em alguns momentos tínhamos que ir com dois animais até a cidade para levar e trazer mantimentos para casa. Era um dia inteiro de viagem, oito horas entre ida e volta. Também pegava as carretas até a Serra Grande para moer o trigo e trazia para casa. Criávamos porco e levava os animais dentro da carreta de boi para vender na cidade”, lembrou.
Além de melhorar a qualidade de vida com a chegada do asfalto, outo ponto a ser destacado é a ligação da família Bérgamo com a estrada. O patriarca da família, Dorício, faleceu há 29 anos, não pode ver seu sonho realizado de estar tudo asfaltado. Henrique conta com orgulho que seu pai, teve participação ativa na manutenção da estrada, era uma espécie de ‘cuidador’ do trecho, para que os moradores mesmo com grandes dificuldades conseguissem circular.
“Meu pai era o capataz da estrada reunia os colonos para cuidar e nunca ganhou nada para fazer isso. Tapava buracos e arrancava pedras. Quando saímos da aula ajudávamos também, principalmente na roçada”, descreveu.
Toda esta vivência e com lembranças claras de como tudo era anteriormente, dona Elvira deu um recado aos mais jovens, sobre o que realmente é passar por dificuldades na vida. “Nós aqui era um barro alto, difícil de sair de casa. Agora graças a Deus terminou a poeira e o barro. Passamos por momentos difíceis, hoje os jovens não sabem o que é um sacrifício. Trabalhávamos na estrada com picareta e junta de boi. Era muito judiado”, comentou.
Valores e mobilidade urbana
Mais de 10 quilômetros de asfalto foram inaugurados, com investimento de quase R$ 20 milhões em recursos próprios, revelou o secretário de Obras e Serviços Urbanos, Rafael Ronsoni. Ele também destacou a mobilidade urbana para facilitar o acesso, o que foi concomitante o que disse o prefeito Nestor Tissot, entre ouros benefícios.
“Asfalto é qualidade de vida para os moradores das áreas rurais. Assim, além de proporcionar educação e saúde de qualidade, a mobilidade urbana mais uma vez está sendo pensada e ações estão sendo feitas para melhoria do trânsito em nosso município”, descreveu Nestor.