Leonardo Santos
CANELA – Uma bagagem cheia de emoções, histórias, conhecimento e também novos amigos. Com muito brilho nos olhos, a atriz e professora de teatro Lisi Berti descreve o que vivenciou e trouxe do Peru durante a viagem para participar do 2º Festival Internacional de Teatro de Chiclayo. Convidada para apresentar a peça ‘Sonhos’, a Cia de Teatro canelense também ministrou oficinas na cidade sede do festival, e nas vizinhas Trujillo e Cajamarca.
Esta foi a segunda vez que Lisi participou deste evento. Em 2018, a produção apresentada foi ‘Cartas de Além Mar’ e neste ano a temática esteve direcionada a crianças e jovens, por isso ela levou o espetáculo ‘Sonhos’ (foto). A peça conta a história de um palhaço triste que gostaria de poder ver uma última vez a sua bailarina. No elenco Marcelo Wasem e Lígia Fagundes são dirigidos por Lisiane que também assina o roteiro. O espetáculo estreou em 2015 e já participou de diversas feiras do livro e festivais, incluindo o Festival Internacional de Teatro de Bonecos.
“O espetáculo acabou causando grande emoção no público, que não está acostumado com apresentações teatrais na cidade pela falta de um teatro, então pra eles ir ao teatro é ‘UAU’, uma coisa muito diferente”, contou Lisiane.
A exibição do espetáculo ‘Sonhos’ também foi levada para a cidade de Cajamarca, bem como uma oficina de teatro. Foram cerca de seis horas de aulas durante três dias, que lhe renderam muitos elogios pela performance e profissionalismo. “Ali já era uma cidade com uma formação de platéia maior, por ter um teatro, então já tínhamos certeza de público, e até uma estrutura maior em relação aos outros lugares, mesmo não sendo uma cidade maior, mas muito disso graças ao grupo que tomou frente e organizou, recebemos muitos pedidos pra voltarmos e dizendo como os brasileiros são maravilhosos”, exaltou ela.
Oficina de teatro fora dos planos
Durante uma visita a Escuela Superior de Arte Dramático Virgilio Rodríguez Nache de Trujillo para conhecer as instalações o reitor os viu e os colocou para conversar com alguns alunos e já arrumou compromisso para o dia seguinte para uma oficina de três horas para os acadêmicos de Artes Cênicas da universidade, o que estava fora dos planos e acabou pegando o grupo de surpresa. O trabalho teve platéia de 40 estudantes.
“Quando que aqui abririam as portas de uma universidade para um grupo que eles mal conhecem? Aqui não acontece isso, aqui somos lembrados quando é pra tapar furo em programação. Ficamos surpresos com a forma como fomos recebidos, os alunos ficaram enlouquecidos com esse trabalho”, sublinhou.
Lá ela também foi convidada a participar de um antigo festival que não é realizado há dez anos, mas que a faculdade estuda resgatar, e pretende realizá-lo em setembro do ano que vem. O que era pra ser somente uma visita se tornou algo bem maior, com os alunos maravilhados pela oficina, cultura e energia brasileira.
Brasil x Peru: diferenças culturais
Logo que voltou de viagem, Lisiane visitou a redação do Jornal Integração e contou sobre esta experiência de 14 dias vivendo o teatro com o público peruano. Ao ser questionada sobre as diferenças culturais e o que mais lhe chamou a atenção durante este período, Lisi relatou que “aqui existe formação de platéia, temos um público adorador de teatro, não precisamos pegar alguém pelo braço e levar para assistir uma peça, as escolas abrem as portas, temos um público que admira o trabalho e espaços para apresentarmos os espetáculos. Lá eles lutam muito por isso, para as pessoas entenderem o que é, e como é um teatro, que tem que chegar na hora, que não se pode comer dentro de um teatro, lá é muito largado, eles não tem onde apresentar, e o que eles têm é muito precário, eles são muito pouco valorizados, dá pra ver que realmente aquilo tudo que eles fazem é por puro amor”, comentou ela.
“A gente saiu de lá e sim, estamos no caminho certo, nosso trabalho é muito bom, muito sério (…) Foi muito incrível tudo o que aconteceu lá. Cada dia foi uma aula do que é a vida, do valor que tu da para as coisas. Eles têm tão pouco e são felizes com tão pouco. Aí tu volta com uma bagagem de emoções e de histórias, mas ao mesmo tempo revendo os teus valores. Foi uma aula de vida e aprendizado”, ressaltou.
Ela também exaltou todo o apoio que teve da comunidade canelense e gramadense para angariar valores para esta viagem: “A comunidade sempre nos apoia, todas as ações que fizemos, tivemos uma super participação da comunidade, a feira orgânica nos abriu espaço para o brechó, e conseguimos as passagens, o que acabou sendo a única coisa que tivemos que desembolsar”, sublinhou ela.
No Peru os custos foram bancados pelo Festival e as passagens foram garantidas por algumas iniciativas realizadas para angariaram recursos e por apoio da Destin Turismo que viabilizou descontos nas passagens.
Crédito das fotos: Carlos Reyes Ruíz/Divulgação