Canela se vestiu de fé mais uma vez para viver a emoção da 65ª Romaria e Festa em Honra a Nossa Senhora de Caravaggio. O ponto alto do evento, que se estendeu por todo o mês de maio com novenas, celebrações e cortejos, aconteceu na manhã desta segunda-feira (26), com a tradicional Romaria a Pé. Mais de 50 mil pessoas passaram pelo Santuário durante as últimas semanas, conforme estimativa da organização. Só a procissão desta segunda-feira mobilizou uma multidão, que percorreu os sete quilômetros entre a Catedral de Pedra e o Santuário do Saiqui. A cobertura do evento foi feito pela reportagem do Jornal Integração e pode ser conferida no Facebook do JI.
Mesmo com chuva e frio, romeiros de todas as idades caminharam guiados por um sentimento comum: a fé. Muitos buscaram graças, outros vieram agradecer por bênçãos recebidas, e vários aproveitaram o momento para cumprir promessas feitas à santa.
Devota desde a primeira Romaria

Aos 85 anos, Terezinha dos Santos é dessas personagens que se confundem com a própria história da romaria. Moradora da Linha São João, no interior de Canela, ela participa da procissão desde a primeira edição, em 1960.
“Naquela época não era a pé, mas depois fui muitas vezes caminhando. Quase todos os anos eu vim. Às vezes não dava, mas a maioria das vezes eu estive aqui”, contou Terezinha, emocionada.
Ela estava acompanhada do filho, Tiago dos Santos, 45 anos, morador do Parque das Hortênsias. Ele lembrou que a mãe passou essa devoção adiante. “Ela sempre trouxe a gente. Desde pequenos a gente acompanha. Hoje, os netos dela também participam. É uma tradição de família”, afirmou Tiago.
Para dona Terezinha, além de pedir proteção, o principal motivo de sua caminhada é agradecer. “Agradeço pela saúde, pela felicidade da família. Teve um ano que eu tive problema na coluna, fiquei dois anos sem vir. Mas depois voltei. Enquanto eu puder, eu venho”, disse.
Fé que atravessa gerações

A família de Simone Elias de Moura e Dolizete Lacerda de Souza, moradores do bairro Canelinha, também viveu um momento especial nesta edição da romaria. Eles trouxeram a filha Helena, de um ano e seis meses, pela primeira vez ao Santuário.
“É muita emoção. É o primeiro ano da Heleninha aqui com a gente. Para nós, Nossa Senhora representa fé, luz, esperança”, disse Dolizete.
Simone contou que a irmã é devota fervorosa e tem uma história de milagre atribuída à santa:
“Ela teve uma cura. Foram anos de tratamento, e hoje está aqui, firme e forte. A cada ano, ela vem a pé, agradecer”.
A romaria desta segunda-feira foi marcada pela chuva constante, que em vez de afugentar os fiéis, foi recebida como bênção. Durante a chegada, a música “Chuva de Graças” ecoava no Santuário.
Caminhada de fé renovada a cada ano

Outro romeiro que esteve presente foi Denner Kramer, 31 anos, morador do bairro Várzea Grande, em Gramado. Ele contou que participa da romaria todos os anos e que nesta edição veio duas vezes ao Santuário.
“Vim semana passada, cumpri minha promessa, e agora voltei hoje. É uma tradição pra mim”, disse.
Denner vê a romaria como um momento para refletir, agradecer e renovar os votos de fé: “Aqui a gente faz as promessas, reza, pede e agradece. Cada ano é especial”, completou.
Programação intensa durante o fim de semana
A programação da 65ª Romaria de Caravaggio começou a atrair romeiros já no sábado (24), com a Romaria dos Jovens e a Jornada Diocesana da Juventude. Milhares de jovens vindos de várias cidades da Diocese de Novo Hamburgo participaram do encontro, que uniu música, oração e integração.
No domingo (25), a Romaria Motorizada e dos Ciclistas levou a imagem da Santa peregrina até o Santuário. Foram cerca de 6.800 automóveis no cortejo, que incluiu carros particulares, veículos de serviço e frotas de empresas da região, além de centenas de ciclistas e motociclistas. Entre 9h e 15h, a BR-235, principal via de acesso ao Santuário, ficou tomada por veículos em marcha lenta, todos convergindo ao mesmo destino: um encontro com Nossa Senhora.
A movimentação exigiu atenção especial da Secretaria Municipal de Trânsito e da Brigada Militar, que atuaram em parceria para garantir segurança e fluidez no tráfego durante os três dias mais intensos do evento.
O simbolismo da Romaria a Pé
Para muitos devotos, o ato de caminhar os sete quilômetros da romaria tem um sentido que vai além da religiosidade: é um reencontro com a própria história.
Entre as paisagens rurais, os cantos entoados por grupos de oração e os gestos de solidariedade entre os romeiros, é possível perceber que a caminhada funciona também como um momento de purificação, uma forma de reorganizar a alma e o coração.
E mesmo com o tempo instável, a caminhada desta segunda-feira foi vibrante. Muitos usaram capas de chuva, outros seguiram de guarda-chuva na mão ou até mesmo enfrentaram a água sem proteção, com os olhos fixos no destino final: o altar da santa no Santuário.
Encerramento com missa solene
O encerramento da festa ocorreu com uma missa celebrada às 16h desta segunda-feira, no Santuário de Nossa Senhora de Caravaggio. O templo, adornado com flores e iluminado por centenas de velas acesas pelos fiéis, recebeu peregrinos exaustos, mas cheios de gratidão.
Durante a homilia, o sacerdote responsável pela celebração ressaltou a importância da perseverança na fé, especialmente em tempos difíceis, e convidou todos a levarem consigo o espírito de Caravaggio para o cotidiano.
Mais que tradição: um encontro com o sagrado
O evento religioso mais importante de Canela segue revelando sua força ano após ano. Em tempos de incerteza, a fé demonstrada pelos romeiros que enfrentam chuva, distância e cansaço para agradecer e pedir bênçãos à padroeira é também uma mensagem de esperança e humanidade.
É como resumiu dona Terezinha, com simplicidade e firmeza:
“Enquanto eu puder, vou vir. Porque a fé é o que me move”













