CANELA – João (nome fictício) é um jovem com 20 anos de idade que passou por um momento de crise e foi levado até o hospital, onde foi acolhido. Recebeu atendimento médico e, quando se sentiu melhor, foi encaminhado para continuar tratamento na rede de atenção psicossocial (Raps) do município. João não é um caso isolado: de acordo com o Centro de Atenção Psicossocial (Caps) de Canela, tem crescido o número de pessoas que chegam a um nível de fragilidade mental, o que faz com que precisem de ajuda de psicólogos, psiquiatras, assistentes sociais, enfermeiros e outros profissionais. E é na rede pública, através de um trabalho coletivo e intersetorial, que essas pessoas encontram o acolhimento e o cuidado necessários para se reerguer, ressignificar e dar sentido à sua vida.
Para dar maior suporte à comunidade, a Secretaria Municipal de Saúde de Canela desenvolveu um protocolo para os atendimentos em saúde mental. Tânia Aguiar, coordenadora da área, explica que o cuidado dos pacientes é compartilhado entre as redes de atenção primária, de média e de alta complexidade. Os casos mais leves são acompanhados nas Unidades Básicas de Saúde, onde as pessoas encontram escuta e orientação para lidar melhor com suas emoções. Enquanto as situações mais severas e persistentes são atendidas no Caps, onde contam com atendimento especializado.
Há, ainda, o atendimento prestado em âmbito hospitalar, quando o paciente entra em crise ou desenvolve ideações suicidas, precisando de suporte psiquiátrico, sendo este o nível mais extremo. Esses casos são levados ao Hospital de Caridade de Canela (HCC), conforme explica a responsável técnica da Enfermagem, Maria Cecília Picollotto de Oliveira. “Nosso serviço visa atender as emergências, acolher este usuário até uma avaliação do especialista, dando suporte também de assistência social e fazendo uma ponte com o Caps para o desfecho do caso”, explica a enfermeira.
Atendimento na atenção primária
O psicólogo Dhones Stalbert Nunes da Silva é um dos profissionais que atende os pacientes na ponta, ou seja, presta aquele primeiro auxílio na Unidade Básica de Saúde. Ele atua nas UBSs Canelinha e Central e afirma que o perfil dos pacientes geralmente é diverso, desde crianças até idosos, mas que a maior demanda costuma ser de adolescentes e adultos jovens. “São pessoas que chegam até nós em sofrimento mental por diferentes motivos e nosso trabalho é fazer com que eles ressignifiquem esse sofrimento”, diz Dhones.
O psicólogo da atenção primária de Canela relata que o perfil dos pacientes atendidos no município tem algumas características próprias, em parte pela cultura local de trabalho e o custo elevado de vida, o que as faz, muitas vezes, enfrentarem jornadas muito longas com pouco ou nenhum lazer, o que é prejudicial à saúde mental. “A rede de atenção psicossocial busca combater o adoecimento da população através da conscientização para a importância do cuidado que cada um deve ter com suas emoções”, destaca.
Em média, Dhones informa que atende a 120 pacientes/mês, mas esse número pode variar dependendo da época do ano. Uma das principais estratégias do seu trabalho, conforme relata o psicólogo, é mostrar a essas pessoas que o autoconhecimento é poder e que pedir ajuda não é uma fraqueza, mas torna mais rápido e digno o caminho para sair da situação de sofrimento. “Por isso, também, a participação das famílias é tão importante, para que essas pessoas não se sintam sozinhas”, destaca.
Atendimentos especializados no Caps
A coordenadora do Caps, Janine Palodetti, detalha que o Caps acolhe o paciente em sofrimento e cada caso é analisado coletivamente por um grupo de técnicos. Esses técnicos definirão, em conjunto com o usuário, as melhores estratégias que irão compor o projeto terapêutico singular (PTS) de tratamento. “No PTS pode ser indicado o acompanhamento psiquiátrico, a psicoterapia, a orientação de um assistente social, a participação em oficinas e grupos terapêuticos, entre outras medidas”, afirma.
O Caps é uma política pública criada no Brasil na década de 1980, como substituição à institucionalização à qual as pessoas com doenças mentais eram submetidas, com internação compulsória em hospitais psiquiátricos e privadas de liberdade. “Agora, o cuidado é feito em liberdade. Ajudamos essas pessoas a terem maior controle da sua vida através do acolhimento com esse olhar humanizado, trabalhando o cuidado em todas as esferas e com a família junto dando apoio”, relata Janine. A participação da família no tratamento, inclusive, é uma das ferramentas que apresenta maior taxa de sucesso no tratamento, pois o paciente não se sente sozinho.
Quando há necessidade, a equipe do Caps também pode encaminhar o usuário para outros serviços do Município, a fim de auxiliar em áreas como educação e empregabilidade, por exemplo, para que possam se socializar. Os serviços mantêm canais de contato e em alguns casos também contam com o suporte do Poder Judiciário e da Rede de Apoio à Cidadania (RAC).
Emergências
Os casos mais graves envolvendo saúde mental, em geral, são atendidos no HCC, para onde são enviados os pacientes em emergência – crises e tentativa de tirar a própria vida. Em todos os casos é feito o acolhimento e tratamento e, depois desse primeiro momento, a equipe de profissionais busca entender se esse usuário pode seguir o cuidado em leitos de saúde mental em hospitais gerais regulados pelo Gerenciamento de Internações Hospitalares do Estado, para os casos mais graves e complexos, ou em atendimento ambulatorial.
Conforme explica a enfermeira Maria Cecília, o HCC dispõe apenas de leitos comuns para atender casos psiquiátricos. Em razão do aumento do número de casos envolvendo situações de saúde mental, já existe um movimento interno na instituição para preparar espaços físicos e qualificar as equipes para lidar com esse tipo de paciente. “Eles demandam um olhar diferenciado por parte da equipe, pois o sofrimento mental não pode ser medido por números, como é possível em outras situações de saúde”, afirma.
Você não está sozinho: procure ajuda!
Se estiver passando por uma situação de sofrimento mental ou conhece alguém que precisa de ajuda com suas emoções, saiba que não está sozinho. Canela conta com uma rede de atenção psicossocial que pode auxiliar. Confira abaixo os contatos:
Centro de Valorização da Vida (CVV) – Disque 188
Caps – Rua São Francisco, 180, Centro, (54)3282-5159
UBS São Luiz – Rua Cézar Pedro Raymundo, 48, Bom Jesus, (54) 3282-5115
UBS Canelinha – Rua Adalberto Wortmann, 20, Canelinha, (54) 3282-5116
UBS Santa Marta – Rua Primeiro de Janeiro, 909, Santa Marta, (54) 3282-5115
UBS Leodoro Azevedo – Rua Tio Elias, 385, Leodoro de Azevedo, (54) 3282-5117
UBS Central – Rua Sete de Setembro, 340, Centro, (54) 3282-5119