InícioGeralGramado e Canela“O Dom mudou a minha vida”

“O Dom mudou a minha vida”

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REGIÃO – Para celebrar o Dia Mundial de Conscientização sobre o Autismo a reportagem do Jornal Integração entrevistou Bruna Strack Tomazewski, mãe do Dominick, diagnosticado com o Transtorno do Espectro Autista (TEA) aos três anos de idade. Ela falou sobre os desafios e cuidados com o filho diariamente, a importância de locais públicos ou privados com o símbolo mundial do Autismo nas placas de atendimento prioritário e de que forma Dom mudou a vida da família, entre outros assuntos. Bruna é pedagoga e casada com Maurício Zanardi, pai de Dom.

Rotina, desafios e estudo
“Uma coisa que eu sempre digo é que, antes de tudo, o Dom é uma criança que precisa de amor, atenção e cuidados, como qualquer criança. Porém, além de todos estes pontos que são básicos, existe toda uma dinâmica de tratamento que vai, além disso. Acredito que assim como eu, as mães de crianças com TEA, buscam ter uma rotina muito organizada, buscando sempre atender as demandas pessoais das crianças, e também de todo o tratamento que elas necessitem realizar, como fonoaudióloga, terapia ocupacional, psicóloga, fisioterapeuta, dentre outros”, descreveu.
Bruna cita que o tratamento deve ser norteado por um profissional. Dom recebe o acompanhamento de pediatra e neuropediatra, mas ela destaca que o método muda de um paciente para outro.
“Devo ressaltar que além de todos os cuidados básicos e de tratamento, a família ainda precisa estimulá-la em casa, seja em atividades que proporcionem maior autonomia para a criança, atividades que aperfeiçoem o seu tratamento, indicadas pelos profissionais que a atendem, bem como, em atividades voltadas para o seu futuro, como seus sonhos e seus desejos”, sublinhou.
A canelense lembra a situação que mais causa tristeza relacionada à Dom e o TEA. Normalmente, pessoas com a doença têm algumas particularidades, como executar movimentos repetitivos por conta do excesso de luz ou barulho, dificuldade de interação, alteração das funções motoras, entre outros. Bruna explica que a repetição de movimentos é uma espécie de crise em que o autista busca se acalmar.
“O que particularmente mais me afeta, são os olhares de desaprovação ou estranheza de algumas pessoas em espaços públicos, ou em estabelecimentos durante um momento de crise, de desorganização ou até mesmo, enquanto ele faz alguns movimentos repetitivos (estereotipias) buscando se organizar e se acalmar devido aos diversos estímulos que o local possui como barulho, iluminação ou simplesmente por não conseguir aguardar para ser atendido”, descreveu.
Ela discorre que o Autismo não é identificado de forma simples pelas outras pessoas. “Se tivéssemos 10 mães de crianças com TEA aqui, e perguntássemos a elas, a maioria, senão todas, diriam que já passaram por algo parecido”, afirma.
Dominick estuda na Escola Municipal de Educação Infantil e Fundamental Especial Rodolfo Schlieper, em Canela, que funciona junto a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae), desde que tinha cinco anos.

O ingresso ocorreu em 2020, quando a pandemia do Covid-19 assolou o mundo e inviabilizou as aulas presenciais. A mãe salientou o trabalho do educandário e da Apae, que mesmo com as aulas remotas, mantiveram a maestria, citando o empenho dos profissionais lotados nas distintas, mas unidas, instituições.

“A escola sempre foi impecável no atendimento aos alunos, os professores são extremamente competentes e acolhedores, estavam sempre empenhados a auxiliar os pais na realização das atividades das crianças em casa. Quando os alunos puderam retornar de forma presencial, esse compromisso da equipe com os educandos ficou ainda mais evidente para mim. Os profissionais, realmente, amam o que fazem, são extremamente competentes e amam os alunos. O resultado disso é esse trabalho maravilhoso que vejo acontecer com o meu filho e com tantos outros alunos”, comentou. O educandário atende 89 alunos e completou 45 anos no dia 31 de marco.

O diagnóstico de Dom

Dominick foi diagnosticado aos três anos de idade com o TEA. Os sinais começaram a ficar evidentes aos dois anos, quando atrasos significativos na linguagem e dificuldades de interação fizeram o instinto de mãe de Bruna apitar. “Na época eu estava fazendo a minha graduação e, por coincidência, estudando sobre o tema, então ali foi um sinal de alerta. A partir daí, começamos a investigar o que poderia ser com vários profissionais. É um processo bem lento, desgastante e muito angustiante, pois como não há um exame que possa constatar o TEA, o diagnóstico é feito de forma clínica, por uma equipe multidisciplinar, então é necessária muita paciência e perseverança”, contou.

O autismo é separado em três níveis. O primeiro é considerado leve, onde o paciente não necessita de tanto suporte. O segundo é moderado, quando a atenção sobre o indivíduo deve ser maior. E por fim, o terceiro, quando o suporte deve ser constante, já que o transtorno é severo.

Além dos sintomas que o menino apresentou, o autismo também pode causar dificuldade de manter contato visual, não compartilhamento de atenção, apego a objetos, dificuldade na adaptação de mudanças, aceitação de regras, entre outras características.

Bruna explica que o filho está entre os níveis um e o dois do autismo, já que para algumas atividades como tomar banho, comer e se vestir não necessita de tanta ajuda. Mas, por exemplo, para atravessar a rua e esperar o ônibus que o leva para escola precisa de atenção constante dos responsáveis.
Aos oito anos, Dom recebe atendimentos na Apae, onde diversos profissionais acompanham o caso. A pedagoga completou classificando o tratamento como solitário e cheio de incertezas.
“Não é fácil. Muitas vezes, solitário. Muito difícil viver um dia de cada vez, sem ter muita certeza de como será o seu futuro, se, e como ele irá evoluir, como será sua vida adulta, esses questionamentos ecoam na minha mente com frequência, mas procuro não me deixar abater e sigo firme e forte fazendo o melhor que posso”, atesta.
Segundo ela, a família entende as particularidades do pequeno e compartilha da luta para que ele cultive a vida com naturalidade. Apesar de ser um diagnóstico difícil de aceitar, Bruna ressalta que a lamentação não será positiva para Dom e busca seguir insistindo em adquirir conhecimento para auxiliá-lo.
“Duvidar desse diagnóstico não traz nenhum benefício para o meu filho e é assim que eu encaro este fato. Fico triste, sim, algumas vezes, porém sempre lutando, buscando conhecimento, sendo positiva e criativa para auxiliar o meu filho em tudo que ele precisar, para que lá no futuro, se um dia ele não conseguir realizar alguma coisa que deseje, eu saiba que fiz de tudo o que esteve ao meu alcance para que ele tivesse ao menos uma chance de conseguir”, explana.

Símbolo do autismo no atendimento prioritário
Para a mãe, é indispensável que os estabelecimentos como restaurantes, farmácias, supermercados, bancos e lojas em geral, possuam o símbolo mundial do Autismo gravado nas placas de atendimento prioritário.
“O símbolo mostra para as pessoas que também temos o direito ao atendimento preferencial e isso facilita muito a vida das famílias que assim como eu, precisam fazer compras e/ou resolver assuntos em vários lugares acompanhados dos filhos e não conseguem aguardar por um longo período. É uma grande conquista para a causa”, lembrou.
De acordo com a Lei Berenice Piana, de 27 de dezembro de 2012, que institui a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista, as pessoas com o transtorno são consideradas deficientes, tendo todos os direitos previstos em lei para o grupo, incluindo o atendimento prioritário.

Em Gramado, uma lei que dispõe acerca do assunto está em vigor desde 9 de agosto de 2021, obrigando que estabelecimentos comerciais e de serviços públicos e privados possuam o símbolo. Em Canela, a mesma lei está em vigor desde o dia 23 de junho de 2021.

As unidades do mercado Super Rissul, por exemplo, possuem a indicação de atendimento prioritário para pessoas com TEA há mais de três anos.

Dom e Bruna – Arquivo Pessoal

“Ele me tornou uma pessoa melhor”
O relato emocionante de Bruna descreve Dominick como uma criança iluminada, alegre, criativa, amorosa, e que apresentou uma nova perspectiva de vida para ela. “O Dom mudou a minha vida de tantas formas que é difícil de descrever sem me emocionar! Além de ter o TEA, ele já passou por muitas dificuldades de saúde ao longo da sua vida, e mesmo tão pequeno, e apesar de todos os “pesares”, ele nunca perdeu essa alegria de viver e é essa motivação que me faz levantar todos os dias e lutar por ele! Com toda certeza ele me tornou uma pessoa melhor, mais forte e mais feliz, ele me deu um propósito de vida que vai além da maternidade”, relata.
Para finalizar, a mãe explanou a paixão que tem pelo filho e que o transtorno faz parte de Dom. “O Dominick é um garotinho lindo de 8 anos, cheio de sonhos, cheio de vida, com um mundo inteiro de possibilidades ao seu redor! Ele é Autista, o autismo faz parte de quem ele é, e eu só o amo ainda mais por isso”, completou.

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