CANELA –Shows cancelados, incertezas e temor para trabalhar roteirizaram a semana nas imediações públicas. A 10ª fase da Operação Caritas, que movimentou mais de 90 policiais, prendeu três investigados e afastou outros três funcionários públicos, na semana passada, continua a apontar irregularidades, segundo o delegado Vladimir Medeiros.
A equipe da Polícia Civil deve encaminhar o inquérito ao Judiciário hoje (23), quando se esgota o prazo para a entrega. “Estamos trabalhando para concluir esta fase das investigações e remeter o inquérito. Novas irregularidades apuradas”, revelou o delegado, que não deu mais detalhes sobre a investigação.
Personalidades da Secretaria de Turismo foram depor na Delegacia esta semana, incluindo a atual secretária de Turismo, Carla Reis. Dois dos CCsafastados semana passada se recusaram a depor.
Autos de Natal e shows de réveillon cancelados
A reportagem do Jornal Integração recebeu a informação ainda na segunda (19), sobre a possibilidade de cancelamento dos shows e a informação foi confirmada pela Prefeitura na terça (20), justificando, apenas, que a decisão é da própria Administração.
A informação apurada pelo JI dá conta que a empresa responsável por realizar o Auto de Natal tem ligação com a atual secretária de Turismo, Carla Reis. Inclusive ela é citada no inquérito policial como sócia-proprietária da empresa responsável pelo show em 2018, 2019 e 2020.
Ainda, na residência dela, há uma empresa cadastrada no nome de Carlos Eduardo, um dos servidores afastados da pasta e que seria o ‘homem de confiança’ do ex-secretário Ângelo preso na semana passada.
De acordo com a Polícia Civil, “este fato, por si, deveria excluir que Carlos Eduardo tivesse qualquer participação ativa na Pasta, especialmente fiscalizando eventos – ou gastos públicos – autorizados ou comandados pela atual Secretária de Turismo”.
Festa da Colônia e o gerador não utilizado
Carlos Eduardo aparece novamente no inquérito como um dos fiscais de um contrato que não foi seguido da forma que deveria. O contrato, ainda, é alvo da investigação por conta de um suposto favorecimento, já que o responsável por operá-lo é antigo companheiro de Carlos Eduardo em outra empresa, onde seriam sócios informais.
Ocorre que um gerador deveria ficar ligado durante todo o evento, o que não aconteceu, resultando em uma economia de R$ 60 mil. “Como o aparelho não foi utilizado como previsto no contrato (sendo utilizada energia da rede pública, paga justamente, e não por acaso, pela Prefeitura Municipal, houve uma economia de cerca de sessenta mil reais por parte da empresa vencedora do pregão eletrônico APENAS neste item, e sem que houvesse qualquer tipo de fiscalização do contrato por parte do poder público (o que era de prévio conhecimento da empresa vencedora, ou seja, sabedora de que não teria este item – e outros – não fiscalizados)”, diz um trecho do inquérito.
A PC constatou que a economia representa cerca de 20% do custo total do contrato, que teve outros pontos onde também foi afetado. A investigação aponta que a empresa era sabedora que não sofreria com ações de fiscalização, já que Carlos Eduardo ‘facilitaria’. Ou seja, a Prefeitura gastou duas vezes e a empresa lucrou por ser paga por um trabalho não feito.
O inquérito ainda diz que os dois identificavam onde os gastos poderiam ser evitados, a fim de diminuir os valores de orçamentos facilitando participação nas licitações. Segundo a PC, a atuação é classificada como desleal em relação aos concorrentes.
Pagamento de comissão
Em uma conversa que a PC teve acesso, Ângelo Sanches indica que Carlos Eduardo recebia comissões de 10% acerca dos valores desviados. Leia o conteúdo da mensagem:
“Oi Dudu td bem. Amigo,vc recebeu os 20 mil, certo? Destes vc vai tirar seus 10% ai vc vai depositar 9.500 na minha conta aí que te enviei. E os 8.500 nesta conta abaixo ok irmão” (sic).
Em seguida, o ex-secretário encaminha duas contas para serem realizados os depósitos. Foi comprovado pela Polícia que Dudu repassava valores oriundos da Prefeitura diretamente para as contas do antigo chefe do Turismo canelense. Em uma das oportunidades, até transferências para pagamentos de veículos foram executadas.
O ex-secretário de Turismo, Ângelo Sanches, segue preso, enquanto os empresários José Fernando Marques e Elias da Rosa tiveram suas prisões relaxadas ainda na última sexta-feira (16).
Superfaturamento na contratação de banda
A PC também apontou possível superfaturamento na contratação da banda de forró Falamansa, que tocou na Festa Junina de 2018. O coletivo tocou em outras cidades próximas naquela ocasião, quando foram contemplados contratos de R$ 20 mil a R$ 30 mil, mais baratos do que em Canela. O valor repassado pela Prefeitura canelense para a banda foi de R$ 95 mil e o acordo foi feito por inexigibilidade de licitação.