Leonardo Santos
GRAMADO – A Corsan/AEGEA iniciou oficialmente o maior plano de investimentos em esgotamento sanitário da história do município. Com um aporte de R$ 155 milhões nos próximos quatro anos, o município receberá mais de 70 quilômetros de rede coletora de esgoto e terá a capacidade de tratamento ampliada em diferentes frentes.
As obras começaram hoje, segunda-feira (29) pela rua Leopoldo Tissot, Várzea Grande, e marcam o início de um processo que vai atingir praticamente toda a cidade, incluindo Dutra, Mato Queimado e a parte Oeste, em direção a Nova Petrópolis.

“Estamos falando de um sonho antigo, que agora começa a virar realidade, com investimentos robustos e um compromisso assumido com a comunidade”, afirmou o prefeito Nestor Tissot.
Problema histórico
O déficit de saneamento em Gramado é acompanhado pelo Ministério Público há décadas. O promotor Max Guazelli lembrou que há inquéritos ainda dos anos 1990 sobre a situação do esgoto no município. Desde que chegou à cidade, em 2011, ele tem trabalhado na área:

“Certamente é o trabalho mais complicado que a promotoria de Justiça de Gramado tem. Desde 2011, acompanho inúmeros inquéritos, ações civis públicas, sempre buscando uma solução. Pela primeira vez vemos um investimento real, concreto, com a Corsan colocando recursos para resolver esse passivo histórico.”
Guazelli destacou ainda a gravidade dos impactos da falta de esgoto tratado: “É questão de saúde pública. Hoje, temos arroios que nascem na área urbana totalmente poluídos por esgoto. Isso é uma vergonha. Gramado não seria mais um destino turístico se essa realidade não começasse a mudar”.
Projeto de impacto histórico
O diretor-executivo de operações da Corsan, Rodrigo Lacerda, explicou que o plano foi construído ao longo do último ano em parceria com a Prefeitura, o Ministério Público e o empresariado. Segundo ele, o grande diferencial é a antecipação do marco da universalização:

“Hoje anunciamos o início de um projeto que vai investir cerca de R$ 155 milhões. Vamos implantar mais de 70 quilômetros de rede coletora de esgoto e ampliar as estações de tratamento. A meta é ousada: antecipar de 2033 para 2029 a universalização em Gramado. Isso significa chegar a 90% de cobertura em apenas quatro anos.”
Ele ressaltou que a cidade vive um momento histórico: “Passamos da etapa de estudos e concepções. Agora é realidade. Vamos executar com sinalização, pavimentação adequada e todo o cuidado que Gramado merece. Não existe um momento perfeito para iniciar uma obra aqui, porque a cidade está sempre em alta temporada. Mas estamos preparados para fazer da melhor forma.”
Onde as obras acontecem

O plano foi dividido em quatro blocos principais:
- Várzea Grande – primeira região a receber as obras, já em andamento na rua Leopoldo Tissot.
- Mato Queimado – início previsto para a segunda quinzena de novembro.
- Dutra – início programado para janeiro de 2026.
- Parte Oeste (em direção a Nova Petrópolis) – deve começar no primeiro trimestre de 2026.
O prefeito Nestor Tissot destacou que as obras chegam em áreas que há muito tempo aguardavam solução:
“Lá em 1992, quando eu era vereador, já se tinha essa preocupação. O esgoto era jogado em qualquer lugar, no meio da rua. Depois vieram as fossas, mas nunca foi um destino correto. Agora, com esse investimento, podemos garantir: o sonho do destino legal e definitivo para o esgoto vai se tornar realidade.”
Além das áreas de expansão, o centro de Gramado também será contemplado. O projeto prevê a regularização de ligações irregulares e a adequação das estações de tratamento, com atenção especial para pontos críticos onde restaurantes e prédios comerciais sobrecarregam o sistema.
Saúde pública e meio ambiente
Para o promotor Max Guazelli, o avanço é decisivo para a saúde da população:
“Recebo diariamente reclamações de moradores. Pátios alagados com esgoto do vizinho de cima, fossas que não funcionam no nosso solo. Como explicar isso a uma família? O investimento em rede coletiva é o único caminho. Não é apenas infraestrutura, é saúde, é dignidade, é qualidade de vida.”
O prefeito reforçou que a universalização também é um compromisso ambiental:
“Os nossos arroios, que deveriam ser limpos, estão poluídos. Isso não combina com Gramado. O turista vem aqui pela beleza da cidade, mas, acima de tudo, nós precisamos cuidar da população que vive aqui. Esse investimento é pela saúde do nosso povo.”
Recursos e responsabilidades
A estrutura financeira do projeto prevê que 80% dos recursos serão aplicados diretamente pela Corsan, com participação dos empreendedores locais nos novos loteamentos e edificações. Segundo Rodrigo Lacerda, mais de 33 empreendimentos já aderiram ao programa, atingindo uma taxa de adesão superior a 90%.
“Esse pacto com os empreendedores foi essencial. A cidade cresceu muito rápido, especialmente em áreas como Várzea Grande e Mato Queimado. Com a adesão do setor privado, conseguimos antecipar obras que estavam previstas só para uma segunda etapa”, destacou Lacerda.
Comunicação e transtornos
As autoridades reconheceram que o volume de obras será intenso e que a cidade precisará conviver com transtornos nos próximos anos. “Teremos ruas rompidas, obras simultâneas em diferentes bairros, atingindo até 80% da cidade. É natural que surjam reclamações. Mas precisamos ter paciência, porque o benefício final será muito maior”, afirmou o prefeito Nestor Tissot.
Para minimizar os impactos, a Corsan estruturou um plano de comunicação. Equipes sociais vão de casa em casa explicar o que será feito, reuniões com líderes de bairro serão realizadas, e haverá ampla divulgação em redes sociais e imprensa.
Rodrigo Lacerda destacou que também houve mudanças na execução:
“Tivemos problemas de pavimentação no passado. Agora, contratamos empresas especializadas em recomposição asfáltica e um laboratório de qualidade para fiscalizar cada obra. Não vamos aceitar acabamento malfeito em Gramado.”
Expectativas para os próximos anos
O cronograma prevê que Gramado passe de 37% de cobertura atual para 70% em 2028 e alcance 90% em 2029, consolidando a universalização do esgoto. Para o prefeito Nestor Tissot, trata-se de um marco histórico:
“Já vivemos períodos em que não havia expectativa nenhuma de solução. Hoje, posso garantir à comunidade: vamos resolver. Gramado será pioneiro, será referência para outros municípios do Brasil.”
O promotor Max Guazelli reforçou que o Ministério Público seguirá acompanhando de perto:
“Foram dezenas de ações civis públicas nesses anos todos. Agora, pela primeira vez, vemos um projeto consistente, com recursos garantidos e cronograma definido. A população vai precisar ter paciência, mas o resultado será transformador.”
Como resumiu o diretor-executivo Rodrigo Lacerda: “É um projeto ganha-ganha. É bom para a população, é bom para o município, é bom para os empreendedores. E, principalmente, é bom para a saúde e para o meio ambiente. Gramado está saindo na frente.”