Leonardo Santos
CANELA – Com pouco mais de um mês no comando da 2ª Companhia da Brigada Militar de Canela, o capitão Montini retorna à cidade onde iniciou sua carreira na corporação há mais de duas décadas. Com um olhar atento aos desafios atuais da segurança pública, ele aposta na integração com a comunidade e com outros setores da sociedade para fortalecer o trabalho da polícia ostensiva. A reportagem o Jornal Integração foi até a sede da 2ª Companhia onde Montini cedeu entrevista exclusiva.
Trajetória marcada pelo retorno às origens
Montini ingressou na Brigada Militar em 2003 e começou sua atuação operacional em Canela, em 2004. “Trabalhei aqui por seis ou sete anos. No final de 2010, fui aprovado no concurso de sargento e fui para Montenegro fazer o curso”, recorda. Desde então, passou por diversos postos e unidades, incluindo a PATRAM de Canela, o 4º Batalhão de Polícia de Choque em Caxias do Sul e, mais recentemente, o município de Esteio.
“Voltar a Canela torna a administração mais fácil, porque conheço a cidade, sei da realidade, sei dos anseios da comunidade”, afirma Montini.
Estrutura e funcionamento da Brigada na região
A companhia comandada por Montini é responsável pelo policiamento ostensivo em Canela, São Francisco de Paula e Cambará do Sul. O efetivo atua em regime de plantão, atendendo às chamadas do 190. Além disso, a Força Tática com base em Gramado e o Batalhão de Polícia de Choque de Caxias do Sul apoiam as operações locais.
“A Força Tática nos auxilia e o Batalhão de Choque é acionado em ocorrências mais graves. Eles são os que vemos geralmente em estádios ou grandes eventos, mas também atuam em outras situações que exigem reforço.”
Desafios à frente do comando
A alta demanda por policiamento e a escassez de efetivo são desafios persistentes. Além disso, o capitão cita a drogadição como uma das maiores preocupações.
“Tráfico de entorpecentes não é uma mazela local, é nacional. Mas enfrentamos com afinco. E temos que lembrar que isso não é só questão de polícia. A segurança pública depende da integração com assistência social, saúde e educação.”
Montini também destacou o número crescente de reclamações por perturbação do sossego: “Grande parte da população de Canela trabalha no turismo, que não tem horário. Então, estamos planejando operações específicas para coibir esse tipo de ocorrência”.
A importância da prevenção e dos projetos sociais
A Brigada Militar de Canela mantém projetos sociais com foco na prevenção. Um dos mais consolidados é o PROERD (Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência), que atua com crianças de 10 a 11 anos.
“O soldado Jefferson desenvolve um excelente trabalho com as crianças. Elas passam a conhecer, desde cedo, os efeitos nocivos das drogas. É uma forma de prevenir e proteger não só a segurança pública, mas também a saúde e a assistência social.”
Outro programa importante é a Patrulha Maria da Penha, implementada em 2020. “Ela atua junto às mulheres que têm medidas protetivas determinadas pelo Judiciário. Os policiais fazem visitas regulares para acompanhar e garantir a segurança dessas vítimas”, explica Montini.
A questão do efetivo e o custo de vida
A dificuldade para manter policiais na região da Serra Gaúcha, segundo Montini, está diretamente ligada ao alto custo de vida. “Muitos ingressam na BM e são de outros estados. Mas acabam pedindo transferência porque o salário é o mesmo que receberiam em regiões com custo menor.”
Em busca de solução, ele revela conversas com o Executivo e o Legislativo municipal: “Estamos dialogando para a criação de um auxílio municipal que ajude a fixar esses profissionais aqui. Seria fundamental para mantermos um efetivo maior e um serviço melhor à população.”

Segurança e responsabilidade na comunicação
Montini também fez um alerta importante sobre o compartilhamento de informações sobre barreiras policiais nas redes sociais. “Quando divulgam blitz em grupos de WhatsApp, estão atrapalhando nosso trabalho. A pessoa que ia passar por ali, muda o trajeto, e podemos perder uma prisão importante. E isso é crime previsto no Código Penal”, advertiu.
A carga emocional do trabalho policial
Ao ser questionado sobre os impactos emocionais da profissão, o capitão foi direto: “Somos humanos como qualquer outra pessoa. O policial tem que lidar com ocorrências marcantes, envolvendo crianças, idosos, tragédias. Com o tempo, a gente acaba introjetando isso como rotina, mas não deixa de afetar.”
Segundo ele, a Brigada conta com o programa Anjos, que oferece apoio psicológico aos policiais: “Sempre que alguém se envolve em uma ocorrência grave ou precisa de apoio, há esse suporte institucional. Isso ajuda a manter a saúde mental em dia.”
Um comando com raízes e propósito
Escolher retornar a Canela foi uma decisão pessoal de Montini. “Eu quis voltar. E estar aqui facilita muito o desempenho da nossa missão. Estou imbuído dela, com força de vontade para realizar um trabalho de excelência.”
Em mensagem final, ele reforçou a importância do trabalho dos colegas de farda: “A Brigada Militar é a única instituição do Estado em que o cidadão pode ligar a qualquer hora e ser atendido. São os policiais que estão 24 horas por dia nas ruas, todos os dias da semana. A comunidade pode esperar muito trabalho de nossa parte.”