CANELA – Vladimir Ferreira, 57 anos, casado com Carla e pai de três filhos: Cauê (33), Davi (20) e Estevam (18). Foi desportista profissional de alto rendimento e possui uma galeria de títulos em inúmeras competições, inclusive como campeão gaúcho de judô. Com um perfil de atleta, ninguém diria que Vladimir viesse a ser acometido de uma doença cardíaca que o colocou entre a vida e a morte e na fila para um transplante de coração.
Há dois anos, nas vésperas do Natal de 2019, a família de Vladimir recebeu a notícia tão aguardada: Havia um coração compatível para o transplante. Era 18 de dezembro e o anúncio que encheu a família Ferreira de alegria, significou dor e sofrimento para os Baumarth, que choravam a morte de Vinicius aos 22 anos.
Naquele dia, ainda dentro do hospital, quando Paulo Baumarth e Silvia Rosane dos Santos Reis tentavam entender a perda prematura do filho, foram questionados se havia interesse em doar os órgãos e juntos decidiram pela doação. “Nós nunca falamos com ele sobre isso, mas temos certeza que ele aceitaria”, comentou Silvia. “Não foi fácil decidir ali na hora, mas pensamos que aquilo ajudaria outras famílias, então permitimos”, acrescentou Paulo.
Conforme orientações médicas, a família doadora não recebe nenhuma informação sobre quem receberá o órgão e quem recebe também não sabe de onde veio. Neste caso, por meio de amigos, foi possível desvendar quem salvou e quem foi salvo. Inicialmente houve um contato por telefone e a pandemia de Covid impediu uma aproximação. Mas neste mês de dezembro, dois anos após o transplante, Vladimir, com o coração do Vini batendo em seu peito, pôde conhecer Paulo e Silvia.
“Conhecer o Vlad foi emocionante, me senti muito grato. O coração do Vini não podia ter ido para uma pessoa melhor. É uma pessoa do bem”, descreveu Paulo. O jeito alegre e extrovertido de Vladimir fez com que Silvia lembrasse muito do próprio filho, que também tinha alegria de viver. “Foi emocionante, ele é brincalhão como o Vini era. É o coração dele batendo ali. Foi um momento muito marcante. Olhar para a pessoa e saber que um pedacinho do seu filho está ali é uma bênção. Quando nos conhecemos ele perguntava bastante coisas sobre o Vini, das coisas que ele gostava”, acrescentou Silvia.
“É difícil perder o filho e ter que tomar uma decisão tão rapidamente, mas fizemos a coisa certa. Hoje o Vini está em outro plano, está bem, e com a doação de órgãos salvou seis pessoas. Por mais difícil que seja, valeu muito à pena ter tomado essa decisão”, conscientizou Paulo.

A dura espera na fila por transplante
Estar na fila aguardando doação de órgãos é estar em uma ininterrupta corrida contra o tempo. No Rio Grande do Sul, conforme dados de outubro de 2021, quase 20 mil gaúchos aguardavam por um órgão compatível. A maior das filas é para transplante de rins com 8.832 pacientes em espera. Em seguida vem demandas como córnea (5.124), medula óssea (2.885), fígado (1.464), pulmão (906) e coração (150).
Quando Vinicius morreu, em 18 de dezembro de 2019, outras cinco pessoas que podiam ter doado seus órgãos também vieram à óbito. “Naquele dia morreram seis pessoas. Só o Vini doou”, relatou Vladimir.
Ferreira, acostumado a lutar contra seus adversários no tatame, contraiu um vírus chamado Miocardite que enfraquece o coração. Foram 14 anos de luta contra o maior dos seus adversários e a doença vinha ganhando combate após combate até colocá-lo na fila para um transplante. Sua única chance era um novo coração. “Para você ficar feliz, alguém precisa estar triste. Alguém comemora enquanto que alguém está sentindo muita dor. Eu estava morto e o Paulo e a Silvia me proporcionaram a vida com o coração do seu filho. Hoje represento uma parte da vida do Vini”, pondera Vladimir.
Sua espera durou meses, três deles em um leito de UTI, e a esposa Carla descreve o pior momento nesta longa espera. “10 de dezembro foi o pior dia de nossas vidas. Ele estava muito mal e os filhos foram chamados para vê-lo. Os esforços da equipe médica permitiram que ele ficasse vivo até chegar a notícia de um coração que poderia ser compatível. A partir dali foi milagre em cima de milagre. No dia seguinte (19), às 9h, todos os exames mostraram que era compatível, meio dia fomos para o bloco cirúrgico e às 19h um novo coração estava batendo no peito dele”, relembra, alegre por ter conseguido reunir toda a família para passar aquele ano novo em casa.
Vladimir e Carla moram no litoral catarinense, em São Francisco do Sul. A extração do coração ocorreu no Hospital Arcanjo São Miguel em Gramado e o transplante foi realizado no Clínicas em Porto Alegre, tudo por meio do Sistema Único de Saúde. Aposentado, Vladimir e a esposa fazem pelo menos duas horas de caminhadas diárias e exames periódicos.
Vladimir está recebendo incentivo para contar essa história em um livro. A cidade onde mora deve incluir em seu calendário anual uma atividade com intuito de conscientização para doação de órgãos. Com o coração de um canelense batendo em seu peito, Vladimir sonha em promover ações de conscientização também em Canela. “Quando a gente enfrenta situações como essa, damos mais valor para a vida, os valores mudam”, confirma.
Texto: Fernando Gusen | [email protected]

Acho que vc deve escrever um livro mesmo.Conheço o casal Ferreira faz uns 12 anos.Eles são pessoas do bem, mesmo com esses problemas, sempre passam pras pessoas coisas boas.Vida de superação.Parabens aos pais do Vini! Deus os abençoe!