Mesmo não atuando diretamente dentro das unidades hospitalares, os profissionais do Corpo de Bombeiros também estão sentindo a situação dramática, pois seguem realizando os atendimentos para a população, independente do dia, horário e as causas apresentadas pelo paciente. O terceiro sargento Flaviano Azevedo dos Santos, que atua na corporação em Gramado revelou que a exemplo dos profissionais da Saúde, a blindagem psicológica criada pelos colegas há cerca de um ano, aos poucos está se degradando.
JI: Como está para você e equipe da corporação, principalmente nesta parte psicológica e a tensão em estar na linha de frente, neste período de pandemia e principalmente nestas últimas semanas com o número crescente de casos?
Flaviano: Depois de um certo tempo na atividade de bombeiro, criamos uma espécie de “casca”, uma blindagem passageira em relação aos eventos mais impactantes que atendemos, precisamos disto para bem desempenhar a função. Isto talvez nos deixe psicologicamente mais fortes para as adversidades. A pandemia por sua característica de longevidade vem aos poucos degradando esta resistência natural, a exemplo do que acontece com todos os profissionais da saúde envolvidos.
JI: Os bombeiros estão ajudando a cuidar das pessoas que solicitam atendimento, mas em casa tem seus familiares. Como é também esta parte de sair de casa e voltar com o temor de estar infectado?
Flaviano: Quando faço a leitura da cronologia desta pandemia no nosso país onde houveram desinformações e os responsáveis nas três esferas da nação com posições diferentes, até conflitantes para o mesmo problema. Pessoas com um comportamento alienado em relação a um problema tão sério, sinto que somos impotentes e ao mesmo tempo temos um dever de cuidar com humanidade, sem pré-julgamentos. Isto tem que ser mais forte para a cada dia, cumprirmos nossa missão, nos restando adotar de forma disciplinada todos os cuidados conhecidos desde que saímos da nossa casa até o retorno.
JI: Gostaria que deixasse uma mensagem para a população de ter a consciência dos cuidados necessários para evitar a proliferação do vírus.
Flaviano – Existe um esforço nacional com orientações de autoridades em saúde, as quais as pessoas de bem estão observando, portanto, me ocorre que talvez seja válido mudarmos a abordagem, e quem sabe se nos dirigíssemos diretamente àqueles que não estão dando importância às orientações. Que interiorizem a mensagem de que se continuarem com aglomerações, festas, ignorando o uso de máscaras, regras de higiene, num determinado momento de suas vidas se sentirão responsáveis pela morte de pais, avós, amigos, parentes, e este sentimento irá acompanhá-los pela vida afora.
Texto: Tiago Manique – [email protected]