Carla Jaqueline Dias Pinto é enfermeira e responsável técnica no Hospital de Caridade de Canela (HCC). A realidade diária dela é também dos demais profissionais que atuam pelo país. O ritmo estressante do trabalho, a angústia dos pacientes na luta pela vida e o medo de contrair o vírus e principalmente contaminar a sua filha com quem mora, entre outras situações relatadas por ela.
JI: Como está para você e equipe de enfermagem, principalmente na parte psicológica e a tensão em estar na linha de frente, neste período de pandemia e principalmente nas últimas semanas com o número crescente de casos?
Carla: Sou responsável técnica pela equipe de enfermagem, mas nesse momento, várias vezes vou para a Tenda Covid, ajudar na assistência, bem como meus colegas, pois a todo momento, principalmente, desde inicio de fevereiro, chegam pacientes graves, na parte respiratória já necessitando de oxigênio. Saturando baixo, com o pulmão comprometido. Aumentamos o número de leitos na Tenda, mudamos a logística de atendimento, porém nunca chega. Todo dia vem mais pessoas em estado ruim a crítico, que necessitam de internação. É muito triste e frustrante para nós, todos os dias, ver as pessoas com angústia para conseguir respirarem sozinhas.
A parte psicológica de muitos colegas está abalada. Não tem como ser diferente pela sobrecarga de trabalho, estresse, cansaço físico e mental. Todo dia, tem alguém, chorando que está cansado. Na semana passada, tive um episódio destes. Além do cansaço, diariamente pacientes, ao qual nós nos apegamos ou que já eram nossos amigos, conhecidos ou familiares, acabam indo a óbito. Alguns se recuperam o que conforta nossos corações um pouco.
JI: Os profissionais da Saúde estão ajudando a cuidar das pessoas que buscam atendimento, mas em casa tem seus familiares. Como é também esta parte de sair de casa e voltar com o temor de estar infectado?
Carla: Moro com a minha filha adolescente, antes trabalhava na atenção básica, tinha horário de chegada e saída, mas por opção, estou no hospital agora com apenas horário de chegada. Trabalho mais horas por dia e ela [filha] acaba fazendo as tarefas da casa sozinha. Tenho muito medo de passar esse vírus para ela. Cuido muito, quando chego em casa tiro toda a minha roupa, tomo banho e lavo separado, todos os dias. Deixo de estar com a minha filha, mas ela entende. Claro que sente falta, mas a gente conversa bastante sabemos da importância do nosso trabalho nesse momento.
JI: Gostaria que deixasse uma mensagem para a população de ter a consciência dos cuidados necessários para evitar a proliferação do vírus.
Carla: A minha mensagem principal para a população nesse momento, que é o mais crítico que estamos vivendo, é que respeitem a solicitação de ficar em casa, evitem sair desnecessariamente. Esse vírus está mesmo mais forte agora, as pessoas estão realmente, se contaminando mais e ficando piores, não temos leitos suficientes de UTI para todos no nosso estado inteiro. O momento é realmente crítico. Para os que acham, que é mentira, sensacionalismo, vejam a situação das pessoas que estão lutando para viver no nosso hospital. Respeitem o isolamento em casa. Ajudem-nos a ajudar vocês!