GRAMADO – Daiana Spengler é enfermeira e atualmente coordena o setor de Urgência e Emergência do Hospital Arcanjo São Miguel de Gramado. O estresse já é uma realidade diária em toda equipe. Com o aumento nos casos de coronavírus e a dramática situação de muitas famílias na espera do atendimento é também uma rotina a ser enfrentada, além de vivenciar amigos enfrentando o vírus e o risco de não resistirem a doença.
JI: Como está para você e equipe de enfermagem, principalmente na parte psicológica e a tensão em estar na linha de frente, neste período de pandemia e principalmente nas últimas semanas com o número crescente de casos?
Daiane: Num cenário de pandemia, o receio de se contaminar existe, mas acredito que o medo de transmissão para nossos familiares é ainda pior.
A tensão tem aumentado a cada dia frente ao número crescente de atendimentos, principalmente com os consequentes quadros mais graves, requerendo demanda de cuidados maiores. Nestes últimos dias tem sido comum a chegada de mais de um paciente simultaneamente com quadro crítico relacionado à Covid-19. Além disso, temos a demanda comum do setor de urgência e emergência (pacientes vitimas de acidentes veiculares, doenças isquêmicas, fraturas, cortes…). A equipe se organiza e se divide conforme a prioridade e gravidade de cada um, mas nem todos pacientes e familiares que aguardam atendimento entendem isso, o que acaba gerando mais estresse para toda equipe.
Outro fator importante e que afeta muito a enfermagem são os lamentos de pacientes, muitos choram porque querem estar junto da sua família, assim como familiares choram a perda de seus entes queridos, é esse último tem aumentado cada vez mais. Com o aumento de casos e avanço da pandemia, também estamos atendendo conhecidos, amigos e familiares, lidando com a dor outro e também com a nossa própria dor.
JI: Os profissionais da Saúde estão ajudando a cuidar das pessoas que buscam atendimento, mas em casa tem seus familiares. Como é também esta parte de sair de casa e voltar com o temor de estar infectado?
Daiane: Sim, o medo de contaminar familiares é muito maior do que a nós mesmos, isso é fato. É um receio diário, mas além dos equipamentos de proteção individual, também deixamos no hospital toda a roupa que usamos durante o plantão e cada um de nós adaptou diversos cuidados a sua rotina para proteger a nós mesmos e consequentemente nossos familiares.
JI: Gostaria que deixasse uma mensagem para a população de ter a consciência dos cuidados necessários para evitar a proliferação do vírus.
Daiane: Lave suas mãos com frequência. Use sabão e água ou álcool em gel. Use máscara, evite aglomerações e se tiver qualquer sintoma gripal, procure atendimento médico na rede básica de saúde [Tenda]. Procure o hospital somente em caso de urgências, pois essas recomendações protegem você e as pessoas que você ama.