O cirurgião médico Maicon Antônio Carraro, diretor Técnico do Hospital de Caridade de Canela (HCC), se manifestou sobre o cenário diário na unidade hospitalar. Ele mencionou da forma repentina dos casos o que está ocasionando em um aceleramento nas demandas, sobrecarregando os profissionais da Saúde. Além disso, falou do temor dos pacientes com o vírus, assim como das pessoas que estão atuando nesta linha de frente no combate a pandemia.
JI: Como está para você e equipe médica, principalmente na parte psicológica e a tensão em estar na linha de frente, neste período de pandemia e principalmente nas últimas semanas com o número crescente de casos?
Maicon: A carga está muito pesada. Estávamos com um número relativamente estável de internados e de forma abrupta houve um boom nos atendimentos, nas internações e infelizmente nas mortes
JI: Os profissionais da Saúde estão ajudando a cuidar das pessoas que buscam atendimento, mas em casa tem seus familiares. Como é também esta parte de sair de casa e voltar com o temor de estar infectado?
Maicon: Isso é complicado, pois sempre temos o receio de espalhar a doença para os familiares. Ao mesmo tempo temos o dever de ajudar o próximo e fazer todo o esforço para salvar vidas.
JI: Além do coronavírus, tem outras doenças que os médicos também necessitam cuidar dos pacientes. Com estas demandas você teme que ocorra um colapso de faltar leitos para tratar não somente para quem tem Covid-19, mas outras comorbidades?
Maicon: Certamente. Nesse momento todos os esforços estão direcionados no combate ao Covid e as outras doenças continuam naturalmente existindo. Isso levará a um agravamento das doenças não Covid e haverá um represamento nessa demanda que terá que ser corrigida quando o coronavírus estiver controlado. Já estamos enfrentando muita dificuldade para transferência de outras doenças nesse momento. Ou seja, Covid ou não, todos acabam pagando o preço por causa da pandemia
JI: E os pacientes quando chegam para a internação, a tensão por parte deles neste momento é maior que em outros períodos?
Maicon: Sim. O Covid deixa os pacientes muito assustados. Todos ficam preocupados e muito ansiosos por estarem com uma doença perigosa como essa. As pessoas ficam com medo de virar uma estatística.
JI: Gostaria que deixasse uma mensagem para a população de ter a consciência dos cuidados necessários para evitar a proliferação do vírus.
Maicon: Nesse momento de gravidade a população tem que estar ciente que estamos vivendo o pior momento da pandemia. Estamos enfrentando o colapso do sistema de saúde. Diante desse cenário, a população tem que fazer sua parte: redobrar os cuidados com a doença, evitar aglomerações e não se expor. Isso é fundamental porque nesse momento se alguém precisar de leito de UTI talvez não consiga.