Coluna publicada no dia 15/08.
Guilherme Dettmer Drago. Sócio de Reimann & Drago Advogados. Professor Universitário.
Anuncia-se, com pompa e microfones, que em sete curtos anos — o que, em termos brasileiros, equivale a dois pontificados — será possível ir de Porto Alegre a Gramado num trem reluzente.
O investimento, dizem, é de R$ 4,5 bilhões, inteiramente privado, e aqui cabe o elogio: se fosse com verba pública, o valor final da obra estaria além de qualquer cálculo humano, com direito a aditivos contratuais que fariam corar empreiteiro experiente.
A ideia é, de fato, boa!
A Serra Gaúcha é um destino turístico de peso. Todavia, o trânsito lembra uma procissão de Páscoa!
Mas, como manda o manual do realismo tropical, é preciso lembrar que entre o anúncio e o apito inaugural existe um pântano viscoso chamado “licenciamento ambiental”, ladeado por cartórios, órgãos fiscalizadores, audiências públicas e, claro, a necessidade de convencer cada proprietário de que vender o seu terreno é um ato patriótico — ainda que o preço de mercado possivelmente triplique após este anúncio do projeto.
Fala-se também em mais de 22 mil empregos gerados, o que soa animador.
Mas convém observar que boa parte disso será temporária, encerrando-se assim que a última pedra britada for despejada. Depois, restará o desafio de operar o trem com eficiência e preços que não transformem o bilhete numa peça de luxo, mais cara que o próprio fondue.
Talvez, no final, a viagem dure menos de duas horas! Talvez seja confortável, panorâmica e pontual!
Talvez, em um dia ensolarado de 2032, possamos comprar uma passagem online e embarcar sem filas, sem atrasos e sem burocracia!
Talvez!
Afinal, como todo bom brasileiro sabe, “sete anos” é apenas a unidade oficial para medir a distância entre um sonho e um protocolo de intenções.