Quem é ela?
Advogada na Reis Advogados e presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) Canela Gramado
Como se define?
Uma pessoa resiliente e com um forte desejo de deixar marcas, de deixar um legado. Que enxerga a vida onde só é possível viver num mundo mais saudável, se cada um tiver a consciência da sua parte.
RELATO PESSOAL:
Anne Grahl Müller é natural de Porto Alegre (RS). Nasceu em 23 de setembro de 1985. É filha de Vera Grahl e de João Raymundo Beck Müller e tem 5 irmãos: Fátima, Cristina, André, Edgar e Eduardo.
Sua trajetória escolar iniciou na Escola Estadual João Corrêa, depois seguiu seus estudos no Colégio Marista Maria Imaculada, onde concluiu o ensino médio e, dando sequência aos estudos cursou Direito pela UCS – campus Hortênsias. Hoje, concluinte da terceira pós-graduação, pela Esmafe do Paraná.
Anne mora em Canela e trabalha em Gramado, na Reis Advogados. É casada com Rafael Zimmermann e eles não tem filhos.
Seu sonho de menina e o que marcou sua infância?
De minha fase de infância não tenho muitas boas memórias, foi uma época difícil e conflituosa. Certamente do que mais me marcou foram os momentos com a minha vó… que como neta de alemã, para mim era a Oma, de quem sinto uma saudade enorme. Também os grandes sonhos de liberdade e independência. Foi uma fase difícil, mas que hoje tenho certeza que me fez muito mais forte. Lembro da curiosidade pelos livros. Desde muito cedo já lendo algo. Lembro do primeiro livro que a minha mãe me deu quando eu ainda nem sabia ler, Reinações de Narizinho, do Monteiro Lobato e o quanto isso despertava em mim a vontade de ter conhecimento. De saber que o que se aprende ninguém me tiraria e eu faria do limão uma limonada.
Profissional:
Quando e como você sentiu despertar o interesse pela sua profissão?
Comecei a faculdade de Direito sem saber muito se me encontraria. Sempre conto que minha vontade de adolescente era ser jornalista. Como financeiramente não era possível, tinha a expectativa de que o curso de Direito me abriria muitas possibilidades e a chance de uma carreira pública por meio de concurso. Acho que fui me apaixonar de verdade pela advocacia depois de formada. Hoje, sou uma pessoa apaixonada pelo que eu faço, e isso me consome boa parte da vida, do que eu não reclamo, apenas agradeço. Fazer a diferença na vida das pessoas, buscar Justiça e ser remunerada para isso faz com que eu não me imagine em nenhuma outra profissão. E tenha desistido completamente da ideia de fazer concursos.
O início de tudo:
Comecei logo nos primeiros semestres da faculdade a fazer estágio no escritório do Dr. Paulo Ricardo Pinós da Silva. Trabalhei lá por quase 15 anos e foi uma grande escola. De estagiária a advogada associada, sempre aprendendo a rotina da profissão, as dores e os momentos bons. Na época da faculdade via aquilo como uma etapa, mas o bichinho do conhecimento me picou. Me formei e tive muita saudade de voltar a estudar. Então alguns anos depois voltei à UCS para fazer minha primeira pós- graduação, em Direito Processual Civil.
Logo depois de formada passei na primeira prova da OAB que prestei e de lá pra cá se vão 11 anos. Quando eu achava que a advocacia já me realizava o suficiente veio a oportunidade de estar à frente da Subseção da OAB. E como eu digo, recebi uma procuração para representar mais de 600 colegas entre as duas cidades. Isso me tornou uma profissional mais completa e focada.
A responsabilidade:
Eu tenho um senso de responsabilidade social muito forte. Tive muitos privilégios, mas também já passei por muitos perrengues. Como eu falei, a consciência de quem eu sou e do que eu posso entregar ao mundo me faz trabalhar com mais empatia pelos clientes que buscam um benefício previdenciário. Me faz buscar por mais participação da OAB na sociedade. Afinal, temos um papel inscrito na Constituição Federal. Diz a nossa Lei Maior que “o advogado é indispensável à administração da Justiça”. Como não tomar essa responsabilidade em sentido amplo e tentar amenizar dores e contribuir para um futuro mais igualitário?
Seus maiores desafios:
Meu maior desafio hoje é entregar o que me é proposto e confiado com a maior eficiência. Tenho sempre mil planos e projetos, seja na gestão do escritório, nos próximos passos profissionais, mas principalmente nas demandas envolvidas pela OAB. Já conseguimos tantos resultados bons, fizemos campanhas de Páscoa, de conscientização do fim da violência contra a mulher. Ajudamos a estruturar a Casa Vitória e prestamos auxílio jurídico às vítimas dentre tantas outras coisas que foram possíveis de fazer nos três anos de gestão, com uma pandemia. Isso me mostrou que com boa vontade e muito trabalho é possível fazer coisas muito legais. Meu desafio é aumentar o ritmo do que podemos fazer e sempre fortalecer a advocacia entre os Poderes, a sociedade e os próprios advogados. Garantir o respeito às prerrogativas profissionais, acolher e incentivar os jovens advogados.
Como você consegue conciliar a vida pessoal com a profissional?
Dizem que a gente dá conta de tudo, mas nem sempre é assim. Há fases que a questão profissional demanda mais isso e traz mais ausência em casa, com os amigos e família. Há fases que é necessário desacelerar e olhar mais para dentro. De verdade, eu ainda não tenho a fórmula. Acho que sim, é possível, mas ainda é um objetivo que busco. No dia a dia tento equilibrar as demandas do escritório e dos clientes, com as demandas da OAB e a vida social. Essa sem dúvidas é a que eu tenho menos problemas porque adoro me relacionar e sair para uma conversa com as amigas.
Suas maiores conquistas:
Minha maior conquista é eu ter me tornado quem eu sou. Se paro para pensar na Anne de 8, 9 anos de idade tenho um baita orgulho. De ter trilhado o meu caminho, sem herança ou sobrenome, consciente das minhas escolhas e das consequências. De ter conquistado meu espaço profissional, de estar construindo uma carreira. Conquistar o respeito dos colegas a ponto de representa-los formalmente dentro de uma instituição tão forte quanto a OAB nunca esteve nos planos, mas hoje vejo que foi um acerto em ter aceitado o desafio. O aprendizado que vem com o dia a dia e as renúncias necessárias me tornaram mais capaz para a vida. Me fizeram crescer e pensar no coletivo.
Sua mensagem:
Eu vivo minha vida lembrando sempre de uma frase que atribuem a Chico Xavier: “Aos outros, dou o direito de ser como são. A mim, dou o dever de ser cada dia melhor.”
Respeitando meu espaço e minhas vontades, assim ensinando aos outros como devem me tratar. Mas principalmente julgando a parte que cabe só a mim. Exercitando diariamente o não julgamento quanto às escolhas dos outros, afinal, são dos outros. Tento entregar o mesmo respeito que cobro. Parece bobagem, mas a gente cresce quando entende que só pode mudar a si mesmo e deixar os outros em paz é essencial.