A Operação da Polícia Civil, que investiga crimes de corrupção na Administração Pública de Canela, chegou a sua 11ª fase na manhã de terça-feira (9). E o foco agora é Leandro Gralha, secretário da Saúde e interventor do HCC. Ele e outros servidores foram ouvidos nesta semana e precisam dar explicações sobre desvio de material de construção (pisos para uma igreja e tinta para uma residência), além de favorecimentos nos atendimentos da saúde para familiares, amigos e correligionários emedebistas.
Por atrapalhar as investigações, o delegado Vladimir Medeiros pediu a prisão preventiva de Gralha, o que foi aceito pelo juiz Vancarlo Anacleto. Na terça, no final do dia, logo após a audiência de custódia, Gralha foi levado direto para o presídio. Além da decisão judicial que determina o afastamento dele por 120 dias, no dia seguinte à prisão, o prefeito em exercício de Canela, Jefferson de Oliveira, assinou a exoneração de Gralha das funções públicas.
E o caráter pedagógico?
Podia ser cômico. Mas não é. No despacho do juiz tem um detalhe que faço questão de compartilhar:
“Chama a atenção que o Poder Executivo de Canela, já há meses, vem sendo objeto de inúmeras investigações policiais pela prática de vários crimes envolvendo agentes públicos de alto escalão, inclusive com decreto de prisões, por este juízo, de secretários municipais, sendo que, pelo que demonstram os indícios trazidos pela autoridade policial, ao invés de ter-se o absoluto zelo com os cofres públicos e as instituições públicas, agindo com legalidade, impessoalidade, transparência e eficiência, segue havendo práticas ilícitos na Administração Pública canelense (…) Ou seja, não há o mínimo caráter pedagógico assimilado pelo investigado que, tendo plena ciência de que as investigações policiais e a atuação do Ministério Público e Poder Judiciário geram responsabilização daqueles que usam do Poder Público de Canela para praticar crimes, assume importantes funções na Prefeitura e Hospital para dar seguimento a práticas ilícitas”.
De novo…
E o caráter pedagógico?
Tchê! A investigação desta 11ª fase da Cáritas aponta, novamente, para desvio de materiais do HCC para outros fins. E foi exatamente isso que fez nascer a Operação Cáritas em Canela em 9 de abril de 2021, quando a 1ª fase veio à público. Ou seja, não basta errar, tem que repetir… É brabo!
Uma mexida no cenário
Não tem como esse assunto não dar uma boa mexida no cenário político-eleitoral deste ano. Constantino quer fazer a sucessão e a prisão de Gralha é mais um golpeaço nessa intenção. O cenário político eleitoral está apenas se desenhando, ainda tem muita água para cruzar essa ponte, inclusive dentro da Operação Cáritas.
Na semana passada, em troca de mensagens que esta coluna teve exatamente com Leandro Gralha, questionamos sobre sua pré-candidatura a vereador, ao que confirmou que pretendia concorrer novamente.
À parte disso, é natural que essa fase da Cáritas atiça uma terceira via. Não acha? Eu escrevo sobre isso adiante…
Janela partidária
A janela partidária abre no dia 7 de março e fecha em 5 de abril. Dentro deste período é permitido que os políticos das esferas municipais possam trocar de partido sem perder o mandato. Em Canela, o Alfredo usará essa janela para migrar do PSDB para o PL, e o Jone trocará o PDT pelo PSD. Ademais, quem ainda está amadurecendo a ideia de mudar de partido é a vereadora Carla, que está no MDB. Mas as migrações vão além da Câmara. Tem mais político com cargo expressivo pensando em mudar…
Republicanos
Cada partido terá um limite de 12 candidatos a vereador em Canela, sendo 8 homens e 4 mulheres, ou vice-versa. E quem estará com nominata completa é o Republicanos, que surpreendeu na eleição passada. Criado na cidade no limite do calendário eleitoral de 2020, o partido foi para o páreo com nominata completa (eram 17 nomes naquela eleição) e somou um total de 2.135 votos, o suficiente para garantir uma cadeira na Câmara, a qual é ocupada pela Emília Guedes Fulcher que foi a mais votada da legenda com 576 votos.
Com o MDB, nem pensar
A criação do Republicanos em Canela foi articulada por Marcelo Drehmer, o Tiririca, que foi vereador pelo MDB na legislatura anterior e chegou a ser presidente da Câmara em 2017. E já na sua primeira eleição municipal liderando um partido conseguiu eleger uma vereadora, a Emília, que também estava no MDB. Por isso, mas especialmente por causa de Constantino Orsolin, o partido apoiou a reeleição emedebista em 2020.
Na eleição deste ano, o MDB não deve receber o apoio Republicano. Drehmer, que é o primeiro suplente da Emília e atual presidente do partido, garante que não há chances de caminhar ao lado do MDB neste ano. E sobram justificativas para isso. Uma delas é que Drehmer, quando foi diretor de esportes, largou o Departamento ao percebeu que estava dando “murro em ponta de faca” e que não haveria investimentos em estrutura esportiva.
O outro motivo é a Operação Cáritas. “Indiferentemente do candidato, o Republicanos não vai andar com o MDB nessa eleição”, me disse o Tiririca nessa semana.
Terceira via
E o Republicanos é um dos que acredita na terceira via. Marcelo Savi (MDB) e Alfredo Schaffer (no PL) devem formar a chapa de sucessão à Constantino. Gilberto Cezar (PSDB) com alguém do PDT (será mesmo?), de vice, deve fazer frente como oposição. O Republicanos está tentando viabilizar uma terceira candidatura à prefeito.
Hoje os principais nomes do partido são a vereadora Emília e o ex-vereador Drehmer. E Tiririca garante que está articulando a chegada de bons nomes para formar uma chapa majoritária, podendo ser cabeça ou mesmo de vice, e engrenar uma candidatura. A sigla, inclusive, já foi procurada pelas duas vias que estão postas no cenário. “Nenhum destes dois lados nos representa, por isso pensamos sério na terceira via”, afirma Marcelo.
Mas quem seriam os nomes? Poderia trazer à baila o nome do ex-secretário de Obras, Ratinho? Nada impede. Poderia ser o atual secretário da Fazenda, Luciano Melo? Nada impede. Poderia ser o nome de algum empresário? Nada impede. Ou o nome de alguém ligado à área da educação? Nada impede.
Agora ainda é tempo de articulação. Nós teremos um panorama mais claro no início de abril, quando se encerra a janela partidária.
Em tempo: Emília e Tiririca devem concorrer novamente a uma vaga na Câmara Municipal.