Coluna publicada no dia 06/11.
Guilherme Dettmer Drago. Professor Universitário. Sócio de Reimann & Drago Advogados.
O Banco Central manteve a taxa Selic em 15%, e há quem torça o nariz. Afinal, juros altos são o retrato de um país que cobra caro para emprestar dinheiro até para quem só queria reformar o banheiro.
Mas, convenhamos: desta vez, o BC merece aplausos — ainda que irônicos. Não pela taxa em si, mas pela coragem de enfrentar o verdadeiro problema: o descontrole fiscal que vem das bandas de Brasília, onde gastar virou sinônimo de governar.
É curioso notar como o pobre é sempre o personagem secundário dessa novela econômica. Ele não lê a ata do Copom — e nem poderia. Ninguém o ensinou o que é meta de inflação, nem porque o IPCA precisa caber num gráfico.
Enquanto isso, o crédito no carnê e no cartão de loja sobe junto com os juros. Paga-se mais caro não porque o Banco Central seja malvado, mas porque o governo resolveu brincar de Papai Noel fora de época, distribuindo presentes fiscais sem olhar o saldo da conta.
E há um toque de ironia fina nesse enredo: o presidente do Banco Central foi indicado por Lula — o mesmo que passou boa parte da vida política acusando o Banco Central de ser insensível, neoliberal e cúmplice do “mercado”.
Agora, o indicado de Lula mantém a Selic firme e forte, e o presidente, curiosamente, não diz uma palavra. Parece que a política tem um poder transformador — ou anestésico. Quando o aliado é o autor da decisão, o discurso muda: o vilão vira técnico e o remédio amargo ganha sabor de responsabilidade.
O comunicado do Copom, aliás, veio até otimista, dentro do possível. Falou em “trajetória de moderação” da atividade, reconheceu “algum arrefecimento” da inflação, e manteve o tom sereno de quem sabe que mexer na taxa agora seria brincar com fogo.
A projeção do IPCA até caiu um décimo, de 3,4% para 3,3%, mas segue acima da meta — o que, convenhamos, é o jeito educado de dizer: “ainda não está bom”.
Enquanto isso, o povão segue a vida, sem saber que seus boletos e prestações estão diretamente ligados a esses tais “15%”.
E é assim que o Brasil vai: o Banco Central segura as pontas, o governo solta os gastos, e o cidadão, este sim, paga a conta — com juros compostos, ironia simples e muita paciência.












