Coluna publicada no dia 10/10.
Sentei na frente de uma pessoa pra conversar sobre o estacionamento rotativo. Ele queria só dividir a opinião dele, sem polêmica, sem pauta marcada.
Confesso que nunca fui muito fã do sistema. Na minha cabeça, ter ou não ter dá quase na mesma. Na prática, o cara paga o papelzinho e deixa o carro ali o dia inteiro. Ou seja, o tal “rotativo” não gira, não faz jus ao nome. Mas essa pessoa pensa diferente. Para ele, tirar o rotativo seria, se não o caos, algo bem perto disso. Eu resumo: “ruim com ele, pior sem ele.”
Ele explicou com calma. Na visão dele, o sistema realmente traz rotatividade. Faz com que as pessoas consigam estacionar, resolver o que têm pra resolver e liberar o espaço para o próximo. Isso ajuda o comércio, mantém o movimento nas lojas, faz as pessoas entrarem e saírem o tempo todo. Se cada um deixasse o carro ali o dia inteiro, ninguém mais estacionaria em lugar nenhum.
No fundo, é aquela velha história: toda cidade precisa de regras, e o rotativo é uma dessas tentativas de organizar o trânsito urbano. Mas, como todo sistema humano, não é perfeito. Tem quem reclame, tem quem adore, e tem quem só ache um incômodo.
Papel no vidro
Todo mundo conhece o funcionamento do Rek Park: você estaciona, vai até o totem, paga, pega o papel e deixa no vidro. Ou faz pelo aplicativo, que hoje é bem mais prático. O fiscal passa, confere a placa e vê que está tudo certo. Parece simples, mas muita gente se enrola, esquece ou simplesmente não vê vantagem.
O trabalhador que precisa do carro o dia todo é quem mais sofre. Garçons, atendentes, funcionários de lojas ou salões… eles chegam cedo, estacionam perto do trabalho, pagam e ficam ali o dia inteiro, são os relatos que eu recebo. Não há como sair a cada duas horas só pra “cumprir o nome do sistema”. Resultado: o rotativo existe, é cobrado, mas não cumpre seu propósito principal — rotatividade.
Recentemente, o vereador Adir Denardi apresentou um projeto sugerindo isentar todo cidadão canelense dos primeiros 60 minutos — uma hora de cortesia por dia. Passou desse tempo, começa a cobrança. Achei a proposta interessante, porque conversa com a realidade da cidade. Canela não é uma metrópole com escassez absurda de vagas, mas também não dá pra deixar tudo solto.
E tem ainda outra realidade: muita gente evita o rotativo porque consegue ir a pé até o destino. Seja uma loja, um mercado, um banco, ou mesmo o trabalho, caminhar é mais prático. Essa é uma faceta que raramente aparece nas discussões sobre estacionamento, mas que revela como diferentes realidades coexistem na mesma cidade.
Entre o ideal e o real
O ponto de equilíbrio é justamente isso: o rotativo ajuda o comércio, mas pesa pro idoso, por exemplo, que não tem muita facilidade com essas “modernidades”. Se deixarmos o sistema como está, ele serve para uns, atrapalha outros e não satisfaz ninguém completamente.
Essa pessoa com quem conversei tinha razão quando dizia que ele ajuda a manter o movimento nas lojas. Quando alguém encontra vaga com facilidade, acaba entrando no comércio, comprando, consumindo.
Por outro lado, quem consegue ir a pé não sente necessidade de pagar pelo rotativo. Essa diferença de experiências mostra que não existe solução única, e que qualquer mudança precisa considerar múltiplos pontos de vista.
O que poderia mudar
Revisar a lógica do estacionamento rotativo parece mais do que necessário. Uma possibilidade seria criar áreas específicas para permanência longa — para trabalhadores que precisam do carro o dia inteiro — e outras de curta duração — para quem só quer parar rápido e resolver algo.
Outra alternativa, já adotada em cidades menores e grandes, é o rotativo inteligente. Sistemas que identificam o tempo de cada carro, leem a placa e cobram proporcionalmente. Tecnologia existe, o custo é baixo, e a estrutura já está presente.
Também dá pra pensar em ajustes no horário de fiscalização, promoções para incentivar rotatividade em horários de pico, e até em aplicativos que avisem vagas disponíveis em tempo real. São ideias simples, que poderiam aliviar para todos.
Enquanto isso, seguimos entre o desconforto e a necessidade. O rotativo em Canela virou aquele assunto que ninguém ama, ninguém odeia, mas todo mundo reclama. É o tipo de tema que gera mais conversa de mesa de café do que soluções concretas, e talvez seja justamente aí que mora a complexidade: equilibrar interesses diferentes sem prejudicar ninguém.
Sobre o caso Alberi
Mudando um pouco de tema, todo mundo em Canela já sabe da sentença da Operação Cáritas, que condenou o vereador Alberi Galvani Dias e um empreiteiro. A decisão é de primeira instância e ainda cabe recurso, mas gerou uma dúvida que chamou atenção: Alberi perde o mandato imediatamente?
Não. A pena foi de 1 ano e 9 meses de reclusão, substituída integralmente por prestação de serviços comunitários e pagamento pecuniário. Não há prisão, e a condenação não é definitiva. O próprio Alberi divulgou nota à comunidade afirmando que vai contestar a decisão e reforçando que ainda não é sentença final. Ele segue exercendo normalmente o mandato enquanto aguarda o julgamento do recurso no Tribunal de Justiça.
Vale lembrar que ninguém perde mandato automaticamente por uma sentença ainda não transitada em julgado. Só quando todas as instâncias se esgotam, e a condenação se torna definitiva, é que podem surgir repercussões políticas ou eleitorais.













