Coluna publicada no dia 26/08.
A discussão sobre o futuro ginásio municipal voltou à pauta na sessão da Câmara. O vereador Roberto Danany levantou a necessidade de uma nova audiência pública para decidir o local. Segundo ele, a comunidade já havia apontado anteriormente o bairro Celulose como destino, mas agora a escolha oficial é ao lado do posto do Canelinha.
Olha, vou te dizer: já escrevi aqui mais de uma vez que a explicação do prefeito é clara e, na minha visão, faz sentido. Mas confesso que resolvi dar uma perguntada e ouvir algumas pessoas de fora da bolha política, porque às vezes a rua é mais sábia que o plenário.
A primeira resposta que recebi foi curta e grossa: “Tendo um ginásio decente, que dê pra bater no peito e dizer ‘esse é o ginásio de Canela’, pouco importa onde vai ser”. A segunda pessoa foi na mesma linha: “Hoje a gente atravessa a cidade para ir até o Santa Marta naquele ginásio meia boca. Se o novo for bom, tanto faz o lugar”.
E aí está a verdade que às vezes passa batida. Canela não tem nada hoje. Nada que dê orgulho. Então, se já foi escolhido um espaço ao lado do posto do Canelinha, na beira da ERS-235, de fácil acesso, não me parece uma má decisão. É central, é visível, é prático. Quem nunca teve nada precisa primeiro agradecer pelo que está vindo. Claro, não sou dono da razão, mas enxergo nisso uma oportunidade. Melhor abraçar o projeto e ver ele sair do papel do que travar mais alguns anos em debates infindáveis sobre CEP.
O peso da fala do Alberi
No meio de tantas pautas, confesso que uma indicação do vereador Alberi Dias chamou demais a minha atenção. Ele sugeriu um estudo para que sejam implementadas creches aos finais de semana e feriados. Pode parecer uma ideia simples, mas é de uma profundidade absurda.
Quem vive do turismo sabe o que é trabalhar sem folga, sem feriado, sem final de semana. Essa é a realidade de Canela. E aí entra o drama de pais e mães que não têm onde deixar seus filhos pequenos quando precisam bater ponto. Alberi foi direto: às vezes as escolas param numa quinta-feira e só retornam na segunda. O que faz a família que não pode parar?
Não adianta a gente criar discursos enormes sobre desenvolvimento se a base, que é a segurança das crianças, não está resolvida. E mais: o perigo de deixar pequenos com terceiros, vizinhos ou conhecidos de última hora é real. É um risco que muita gente corre porque não há outra opção.
Na minha opinião, essa ideia não pode morrer. Tem que andar. Tem que sair do papel. Canela precisa de soluções práticas, e essa é uma das mais relevantes que ouvi nos últimos tempos dentro da Câmara.
O impasse da regularização
Outro ponto levantado por Alberi foi a questão da regularização de áreas, com destaque para o loteamento Adão Mirote. Ele criticou que nos 12 anos em que o MDB esteve no poder nada foi feito ali, e agora o governo atual também precisa olhar para isso.
Foi então que o presidente da Câmara, Felipe Caputo, rebateu: se não resolveram em 12 anos, não vai ser nos primeiros sete meses de gestão que as coisas vão acontecer. Tecnicamente, ele não está errado. Mas, na prática, esse tipo de discurso não resolve nada.
Eu mesmo já fui pessoalmente ao loteamento e vi de perto a realidade. Famílias de bem, batalhadoras, que não merecem viver sob a sombra da incerteza. Gente que construiu sua vida ali e não sabe quando ou se terá a tranquilidade de ter a escritura em mãos.
A pergunta não é quem deixou de fazer. A pergunta é: quando vamos fazer? O debate político, de empurra-empurra entre partidos, não paga conta, não garante título, não traz dignidade. Essa discussão sobre quem deve ou não resolver não interessa pra ninguém. O que interessa é resolver.
Quadra sintética
Na semana passada, o vereador Jone Wulff trouxe uma notícia boa: Canela deverá receber uma quadra sintética, conquistada através de articulação com o deputado Darlei Hinterholz. Agora o desafio é onde colocar.
O lago parece uma opção interessante. Mas, sendo bem sincero, mais importante que o endereço é a pergunta: como cuidar dessa quadra? Receber esse tipo de presente é uma benção, mas de nada adianta se em poucos meses virar sucata por falta de manutenção.
Já temos exemplos de espaços públicos que foram inaugurados com pompa e hoje são subutilizados ou maltratados. A quadra sintética precisa de zelo, de cuidado contínuo. Não adianta esperar que a Prefeitura faça tudo. E aí entramos numa questão maior: de quem é a responsabilidade pelo cuidado de cada espaço?
Quem cuida do que é de todos?
Semana passada escrevi sobre a ideia de termos guardas fixos em determinados pontos. Mas pensando melhor, talvez a solução não precise passar necessariamente por isso.
Cada bairro de Canela tem lideranças fortes, associações atuantes, gente que conhece a realidade e vive o dia a dia. Talvez seja hora de dar autonomia para que cada comunidade assuma a responsabilidade de cuidar dos espaços que lhes pertencem. Não precisa ser uma vigilância formal, mas sim um compromisso de fiscalização e preservação.
Um espaço público bem cuidado gera pertencimento. Quando a comunidade abraça um ginásio, uma praça ou uma quadra, ela se torna parte viva daquele patrimônio. A sensação de dono coletivo é muito mais forte que a de mero usuário.
Esse é o ponto que precisamos amadurecer. O poder público constrói, mas é a comunidade que precisa cuidar. E, juntos, esse ciclo fecha.