Coluna publicada no dia 09/10.
Começo por onde tudo devia começar mesmo: pela alegria. E foi justamente isso que tomou conta do Teatrão, na quarta-feira, quando mais de 600 alunos de escolas municipais de Canela foram assistir ao espetáculo “Abracadabra Magic Show”. Dá até um calor bom no peito só de imaginar aquele mundaréu de crianças vibrando com cada truque, cada risada, cada aplauso. É o tipo de coisa simples, mas que marca pra vida toda.
E olha que não é exagero, não. Pensa comigo: quantas vezes uma criança tem a chance de entrar num teatro, sentir aquele cheirinho de palco, ver as cortinas se abrindo, as luzes se apagando e um mágico surgindo? É diferente de qualquer outra coisa. A gente fala tanto de educação, de conteúdo, de livro e de nota, mas às vezes o que mais ensina é justamente o que foge da rotina da sala de aula. É sair, ver, sentir. Isso também é aprendizado.
Eu lembro bem — e nem faz tanto tempo assim, afinal, tenho 25 — de quando a gente quase não tinha esses momentos fora da escola. Fui uma vez na Casa de Pedra, umas poucas vezes no próprio Teatrão, e deu. E olha que sempre foi pertinho, né? Aquele prédio enorme ali, de portas fechadas, parecia um castelo de outro mundo. Por isso que eu achei tão simbólico ver o Teatrão recebendo centenas de crianças de novo. É o tipo de uso que dá sentido pra um espaço público: quando ele é tomado de vida, de barulho, de alegria.
O poder de um espaço vivo
E é aí que entra o ponto: um espaço público vazio não é só um prédio parado. É uma oportunidade perdida. Canela tem lugares lindos, mas alguns ficaram pelo caminho, quase esquecidos. O Teatrão agora tá sendo bem usado, ainda bem, mas e o Centro de Feiras? E a Casa de Pedra? Dois lugares com um baita potencial, que por um motivo ou outro acabaram adormecendo no tempo.
Sobre o Centro de Feiras, a gente sabe que o prefeito Gilberto Cezar tem intenção de dar um novo rumo praquilo lá — e tomara que aconteça logo, porque espaço parado é prejuízo. Já a Casa de Pedra é outra história. Um ícone, um símbolo da cidade, que já viveu tanta coisa e hoje ninguém entra. E quando eu digo “ninguém”, é real: tem criança de 10, 12 anos que nunca viu a Casa de Pedra por dentro.
Parece pouco, mas é grave. A gente corre o risco de formar gerações que só conhecem a história da cidade por foto antiga, sem nunca ter pisado num desses lugares que carregam a memória viva do município. E aí, quando essa ligação se perde, a cidade perde um pedaço de si também.
A gente precisa devolver vida a esses espaços. Seja pra um espetáculo, uma exposição, uma roda de conversa, o que for. O importante é não deixar morrer. Porque quando o prédio fica fechado, o tempo vai comendo pelas beiradas — e não só o reboco, mas o significado.
Fio desencapado
A Secretaria de Trânsito, Transportes e Fiscalização decidiu apertar o cerco contra as empresas responsáveis pela bagunça nos postes da cidade. Foi expedida uma nova notificação pra RGE Sul, pra Mercúrio (que presta serviço pra RGE) e também pra todas as operadoras de internet e telefonia que usam a rede de cabeamento urbano.
E olha, até que houve paciência. Porque quem anda por Canela vê o cenário de perto: fios pendurados, emaranhados, sobrando nas esquinas, passando rente às cabeças das pessoas, cruzando calçadas e, às vezes, até encostando em carros. Eu mesmo já passei pela Augusto Pestana com a Dona Carlinda e vi fio deslizando no capô do carro. E se é chato pra quem tá dirigindo, imagina o perigo pra quem passa a pé, de bicicleta ou de moto.
A Prefeitura já tinha alertado, já tinha feito reunião, já tinha cobrado — e nada de resolver. Agora, com base na Constituição, no Código de Trânsito e na lei municipal, veio a medida mais dura: suspensão de novas obras e intervenções até regularizarem tudo. É o tipo de decisão que, sinceramente, precisa ser tomada de vez em quando. Não dá pra tratar segurança pública e urbana como se fosse um favor.












