Coluna publicada no dia 20/08.

O Parque São Lucas entrou em debate mais uma vez nesta semana na Câmara. Mais um daqueles espaços que foram revitalizados em Canela e que representam bem o dilema de Canela: a obra fica bonita, rende fotos e aplausos, mas depois surge a questão da manutenção.
Quem trouxe o assunto foi o vereador Roberto Danany. Ele citou também o campo do Tatu, lembrando que vai receber melhorias. Mas reforçou que não adianta nada revitalizar se não houver quem cuide depois.
A visita ao Parque

Eu estive no São Lucas nesta quarta (20). O lugar continua bonito, principalmente na área perto da ponte, junto ao lago. Dois guris estavam batendo bola, outro pedalava de canto, aproveitando o espaço. Mas o contraste aparece rápido: lixo espalhado, sanitários fechados, sinais de descuido.
É aquela sensação de promessa que perde força no dia a dia. A revitalização foi importante, mas o desafio maior é o depois.
O dilema da manutenção
E como manter esses lugares sempre organizados? Minha impressão é que sem alguém responsável, tipo um zelador 24 horas, fica quase impossível. Claro, isso gera custo extra para a máquina pública, mas talvez seja o único jeito de preservar espaços tão grandes.
Sempre entra a frase pronta: “a comunidade precisa colaborar”. É verdade, mas isso é cultural. Não muda de uma hora pra outra. Basta lembrar o que aconteceu no fim de semana no Parque do Lago. Houve situações que mostram que, sem mexer no bolso de quem estraga, dificilmente se muda comportamento.
O peso é dividido: poder público cuida, comunidade respeita. Só que, na prática, esse equilíbrio não se alcança.
O aluguel que nunca acaba
Outro ponto levantado na sessão veio do vereador Cabo Antônio. Ele usou uma expressão que resume bem o drama de muitas famílias: pagar o aluguel que “come, bebe e dorme”. Segundo ele, quem tem baixa renda vai passar a vida inteira nesse ciclo, porque nunca vai conseguir comprar um terreno ou uma casa na nossa região com os preços que estão hoje.
E ele tem razão. Basta olhar o mercado local: valores inflacionados, terrenos praticamente fora de alcance para quem ganha pouco.
O cálculo que não fecha
Eu concordo muito com o Cabo, mas acho que a discussão precisa ir além. Vamos a um exemplo simples: uma família que ganha R$ 6 mil por mês e paga R$ 2,5 mil de aluguel em uma casa de dois quartos. Sobra R$ 3,5 mil para todo o resto.
Agora, se essa mesma família pudesse guardar os R$ 2,5 mil do aluguel, em dez meses teria R$ 25 mil — que já serviria como entrada de uma casa financiada. Só que existe uma pergunta óbvia: como guardar esse dinheiro sem pagar aluguel? Vai morar onde? Na rua? É aí que mora o dilema.
O papel do poder público
Na semana passada, o prefeito Gilberto Cezar anunciou a vinda de 25 casas através do governo federal. É um avanço, sem dúvida, e algo inédito em Canela. Mas ainda está longe de resolver a questão habitacional.
A realidade é que, sem políticas públicas que facilitem a compra de terrenos e a construção de moradias populares, a maioria das famílias vai continuar presa ao aluguel eterno. O primeiro passo foi anunciado semana passada pelo prefeito.
A proposta da Grazi
Outro ponto que voltou à tona foi a questão de instalação de novos empreendimentos em Canela, por meio da indicação apresentada pela vereadora Graziela Hoffmann, nesta sessão. Já falamos disso em outras edições da coluna, porque o debate começou há algumas semanas com o empresário Mateus Fachin, que enfrentou na prática os entraves da burocracia. Foi dali que nasceu a discussão sobre permitir a análise de projetos arquitetônicos ainda antes da Licença de Operação .
Conversei com a Graziela sobre essa proposta, e ela mesma destacou que “tem decisões que são complexas, que precisam de muito aprofundamento jurídico para se tornarem viáveis”. Mas, segundo ela, também existem medidas mais simples, capazes de melhorar o ambiente para quem quer empreender em Canela.
O que defende a vereadora
Na visão da Graziela, essa mudança não exige grandes revoluções. “Eu considero que essa é uma medida super simples e que já vai trazer uma diferença para muitas pessoas que querem entrar com um estudo de projeto na Prefeitura, mas que ficam esperando uma licença de operação que, na minha opinião, não tem necessidade”, disse ela.
Ela contou que já levou a demanda ao secretário Frozi (Meio Ambiente) e que foi bem recebida. “Ele parou, me escutou, e pelo que eu entendi, viu lógica no que eu estava defendendo. Pediu para eu encaminhar a indicação para que o jurídico analisasse a viabilidade”, explicou.
O impacto da ideia
Hoje, os empreendedores precisam esperar todas as etapas do licenciamento ambiental para só depois protocolar o projeto arquitetônico. Isso atrasa obras, encarece custos e segura a arrecadação do município. A indicação da Graziela busca inverter essa lógica: permitir que a análise comece já com a Licença Prévia e de Instalação em mãos, deixando o alvará de construção condicionado à Licença de Operação.
Ela mesma fez questão de ressaltar que isso já acontece em outros municípios. “Se eu não me engano, Lajeado já faz isso. Claro que não é porque outros fazem que é certo, mas mostra que é possível. O importante é consultar a viabilidade jurídica”, disse.
Um debate em andamento
O documento que a vereadora protocolou detalha bem as condições para essa antecipação: apresentação das licenças válidas, assinatura de um termo de responsabilidade e possibilidade de suspensão imediata em caso de irregularidade.
Na prática, isso traria benefícios diretos para o município, com antecipação de receitas, e para os empreendedores, que poderiam organizar melhor seus cronogramas. Graziela terminou a conversa otimista: “Acredito que vai dar certo e que o parecer vai ser favorável”.