Coluna publicada no dia 23/06.
A frase do prefeito Gilberto Cezar foi curta, mas carregada de expectativa: “Mais uma etapa vencida”. E, olha, a gente entende. Cada avanço, por menor que pareça, precisa ser valorizado — ainda mais quando se trata de um processo enrolado, demorado e cheio de obstáculos como esse da reconstrução da Rota Panorâmica. Receber o secretário nacional da Defesa Civil, Wolnei Wolf, aqui em Canela, é sinal de que pelo menos estão olhando pra nós. E isso, infelizmente, já é mais do que acontecia em outros tempos.
Agora, claro, olhar não resolve. Visita técnica é só o começo. O que a gente precisa mesmo é que saiam de Canela com vontade de fazer, de aprovar projeto, de liberar recurso, de agir. Porque quem vê de perto o estado daquela estrada, quem pisa na terra solta, sente o risco na pele. Eu torço que essa visita tenha tocado o coração do secretário. Porque emoção ajuda, sim. Mas o que resolve mesmo é caneta e ação.
Diferenças
E aqui eu abro um parêntese pra falar dessa diferença de trato que a gente tá vendo. No governo Constantino, diz que esse tipo de visita era rara que nem encontrar paciência em motorista de temporada. Já no do Gilberto, parece que o povo de Brasília tá se chegando mais. E muito disso se deve, sim, à presença dos deputados como Joel Wilhelm, que ajuda a abrir as porteiras lá pros lados do Planalto.
Mas vou deixar claro aqui: não tô falando que o outro era ruim ou que esse é bom. Só tô dizendo que agora pelo menos tão escutando. Se vão resolver, é outros quinhentos. Mas que ouvir, tão ouvindo. E isso já é meio caminho andado.
10 anos na mesma
Mudando de assunto, fui olhar umas fotos antigas. E não é que achei registros de 2015 de indígenas vendendo artesanato em frente à Catedral de Pedra? Dez anos, minha gente. Dez anos da mesma cena. Muda o governo, muda o padre, muda até o piso do calçadão, mas a situação ali continua igual.
E aí circula um vídeo nas redes, mostrando os indígenas ali, debaixo de chuva, firmes e fortes. Será que veremos isso até quando? Ainda acredito no diretor do Departamento de Fiscalização, Márcio Sauer, que pretende solucionar a questão. Bom, a Temporada de Inverno está chegando…
A novela da família Tomasi

E aí, quando a gente pensa que já viu de tudo… vem de novo a situação da família Tomasi, no bairro Maggi. Lembra deles? Aquela casa onde o esgoto resolve dar as caras sempre que São Pedro resolve abrir um bocadinho a torneira lá em cima. A foto é deste final de semana depois de toda a chuva que a região recebeu desde a semana passada. A água transbordando.
Bah, mas o que essa família passa é coisa de fazer o vivente perder o sono. Com um pingo de chuva, o esgoto brota do chão que nem erva daninha. Vai escorrendo pátio abaixo, invadindo a casa, espalhando fedor, doença, medo. E segue assim há décadas! Não é exagero, não. A mãe da família já teve que recusar serviço com medo da casa desabar enquanto ela tá fora.
E ninguém resolve, ninguém se responsabiliza, ninguém dá resposta. A Elisete, que trabalha como diarista, disse que não consegue mais sair de casa. A Eduarda, filha dela, já perdeu a esperança. Porque não é só questão de saúde pública. É de humanidade, tchê. De empatia. De vergonha na cara.
Quanto tempo mais?
A família já teve diarreia, vômito, dor de cabeça. E eu te pergunto: cadê a ação concreta? Cadê a máquina trabalhando? Cadê o engenheiro? Cadê o cano novo? Ou será que vão esperar morrer alguém ali ou a casa cair pra poder dizer “agora sim é prioridade”?
Essa situação é antiga, escancarada e extremamente perigosa. O cheiro é insuportável, as rachaduras nas paredes são visíveis, e o medo da Elisete não é frescura: é pavor real. Já pensou tu sair pra trabalhar e voltar com a casa no chão? Não é exagero. É o que ela vive todos os dias.
A gente não pode mais normalizar isso. Não pode aceitar que Canela seja uma cidade dividida entre o cartão-postal e o esgoto a céu aberto. Entre o turista de chapéu de feltro e a mãe de família desesperada por uma resolução.