Coluna publicada no dia 28/08.
Se alguém ainda acha que a operação de segunda-feira, que retirou os índios e o comércio irregular do entorno da Catedral de Pedra, foi coisa decidida de um dia para o outro, precisa rever o conceito. O que veio a público no Câmara Cast desta semana mostra que havia meses de preparo, articulação e, principalmente, de tensão acumulada. O secretário de Trânsito e Fiscalização, Adriel Buss, e o diretor do departamento, Márcio Sauer Dias, abriram o jogo. Não só contaram que o trabalho começou lá atrás, logo depois das eleições, em outubro, como revelaram que a pressão era diária, que havia ameaças e até agressões antes mesmo da operação.
Não se tratou de um estalar de dedos. Foram oito meses de montagem jurídica, de construção de um dossiê, de alinhamento com Polícia Civil, Brigada Militar, Receita Federal e até contatos com a Polícia Federal. E quando veio a resposta da PF de que aquilo não tinha nada a ver com questão indígena, mas sim com comércio irregular, a luz verde acendeu de vez. A operação só foi possível porque havia toda essa base pronta.
Essa parte é importante de frisar: a Prefeitura não quis correr risco de mais uma tentativa frustrada. E ao mesmo tempo, não dá pra negar que havia quem torcesse para dar errado. Adriel e Márcio falaram das provocações, das tentativas de transformar o ato em palco de martírio, das acusações de violência direcionadas às forças de segurança. Mas eles afirmam que tudo estava previsto: sabiam que haveria reação, sabiam que viriam as câmeras, sabiam que parte da narrativa ia sair cortada. Ainda assim, sustentam que a operação foi perfeita — porque seguiu cada passo planejado.
Pressão, ameaça e desgaste
Um ponto que talvez muita gente desconhecia era o grau de ameaça vivido nos bastidores. Márcio contou que já tinha sido agredido no passado por um dos mesmos envolvidos. E que em 2023 chegaram a rondar a casa dele. Não é pouco. É coisa que mexe com família, com rotina, com o psicológico. Adriel relatou que até em reuniões oficiais houve intimidações, inclusive diante de promotor federal.
Isso não passa na tela do celular. Quem vê só um vídeo de confronto isolado não enxerga a novela inteira que vinha antes. E talvez aqui esteja o ponto central: não dá pra resumir em 30 segundos de gravação a complexidade de meses de tratativas, de estudos jurídicos, de tensão crescente. A operação não foi política, garantem eles. Foi técnica, planejada, respaldada. E com participação de várias secretarias além da de Fiscalização: Obras, Educação, Turismo, Procuradoria-Geral do Município.
No fim das contas, foi uma ação que mexeu com a cidade. De um lado, gente que aplaudiu. Do outro, gente que criticou. Mas ninguém ficou indiferente. E quando isso acontece é porque o assunto realmente toca em algo sensível: a ocupação do espaço público, o limite entre direito de comercializar e o dever de respeitar regras. Quem saiu ganhando? Todos nós, canelenses e turistas.
O que ficou no entorno da Catedral
Depois da retirada, começou a revitalização. Vasos, reforma do piso tátil, conserto do calçamento. A Prefeitura correu para mostrar que o entorno não ficaria um vazio, mas sim um cartão-postal preservado. E Adriel disse no podcast: há monitoramento 24 horas, câmeras exclusivas na frente da igreja e articulação pronta caso tentem voltar.
Outro detalhe que eles fizeram questão de enfatizar: não havia produto indígena apreendido. Tudo industrializado, de origem estrangeira. Bonecos, eletrônicos, coisas que em nada lembram artesanato guarani, caingangue ou qualquer outro. Esse foi o ponto usado para sustentar a tese de que não havia relação com tradição cultural, mas sim com comércio irregular.
Claro que vai ter quem discorde, quem aponte excessos, quem enxergue a ação por outro ângulo. Mas a partir do que foi dito, fica evidente que o Executivo tentou blindar a operação juridicamente, para que não restasse dúvida sobre o que estava em jogo.
O interior também se mexe

Na manhã desta quinta-feira, 28, enquanto eu e o Claudio Scherer fazíamos o programa Chimarrão & Atualidades, o vereador Adir De Nardi estava acompanhando os trabalhos de melhoria na drenagem da estrada que liga a Linha São Paulo à localidade de Canastra Alta, no interior de Canela.
A ação, realizada pela Secretaria de Obras, Serviços Urbanos e Agricultura, contempla a instalação de um novo bueiro, atendendo uma antiga demanda da comunidade local. Os canos, que estavam no local há mais de um ano, finalmente foram utilizados na obra, que visa resolver problemas recorrentes de alagamentos causados pelo escoamento inadequado da água.
Segundo o vereador, a estrutura anterior já não suportava o volume de água em períodos de chuva intensa, o que comprometia o tráfego de veículos e trazia transtornos aos moradores e produtores rurais da região.
“É indispensável apoiar nossos agricultores e famílias do interior, garantindo acesso de qualidade para que possam transportar seus produtos e comercializá-los com segurança”, destacou Adir De Nardi.