Coluna publicada no dia 25/07.
Guilherme Dettmer Drago. Sócio de Reimann & Drago Advogados. Professor Universitário.
Há algo de místico entre Gramado e Canela: um trajeto de apenas 7 quilômetros se converte, nos meses de julho e nas semanas natalinas, em uma jornada épica de 1 hora — ou mais, dependendo do humor das rotatórias e da disposição das retroescavadeiras.
É o tipo de fenômeno que desafia as leis da física e da paciência humana. Tudo em nome do turismo, claro! E sim, sejamos justos: ele é vital! Os turistas são essenciais para a economia local. São eles que sustentam o comércio, lotam restaurantes e aquecem até mesmo o coração mais rabugento dos moradores. Mas o caos, esse, ninguém pediu!
Enquanto famílias inteiras tentam curtir o charme da Serra Gaúcha, são recebidas por um balé macabro de buzinas, freadas e aplicativos de trânsito apontando rotas mirabolantes por ruas que, adivinhe, também estão bloqueadas!
Aparentemente, o planejamento urbano foi substituído por uma roleta russa de obras públicas, onde todos os setores — concessionárias de água, luz, gás e as terceirizadas que pavimentam as ruas – e talvez até a empresa de pipoca da esquina — decidem intervir ao mesmo tempo. É quase comovente a união entre os prestadores de serviço público……. para atrapalhar.
A comunicação entre eles? Um boato! Planejamento escalonado? Ficção científica! Em Gramado e Canela, parece que cada órgão trabalha como se estivesse sozinho no planeta, sem saber da existência do vizinho — ou fingindo não saber, o que é ainda pior.
Falar que a situação é inaceitável soa quase como um eufemismo! Porque o mínimo que se espera de gestões públicas — especialmente em regiões cuja vocação turística é alardeada com tanto orgulho — é que pensem! Planejem! Coordenem! Antecipem os efeitos colaterais do próprio progresso.
O fluxo de visitantes deve ser motivo de celebração, nunca de colapso. Se a presença de turistas — algo previsível, recorrente e desejável — se transforma em sinônimo de engarrafamento, então temos um problema estrutural sério.
Sim, as atrações de inverno encantam! Mas não há espetáculo que resista ao cansaço de quem levou 1 hora para percorrer 7 km e perdeu o compromisso preso atrás de um caminhão de obra que decidiu atravessar a Avenida das Hortênsias às 18h de uma sexta-feira – e em julho!!
Portanto, fica o apelo: que os responsáveis por nossas cidades finalmente se falem. E que entendam que o sucesso do turismo exige, antes de tudo, respeito pelo tempo das pessoas — sejam elas visitantes ou moradores.