Coluna publicada no dia 13/11.
Guilherme Dettmer Drago. Sócio de Reimann & Drago Advogados Associados. Professor Universitário.
Segundo levantamento recente da Planejar em parceria com o Datafolha, 64% dos brasileiros afirmam planejar suas finanças sempre ou frequentemente. No entanto, quase quatro em cada dez gastaram mais do que ganharam em 2024. É o retrato exato de uma nação que se diz organizada, mas vive em permanente estado de improviso. Planejados? Só no discurso.
O Brasil é mestre na arte de se autoenganar. Aqui, planejar é sinônimo de “pensar em talvez fazer algo um dia”. É um verbo usado com entusiasmo e praticado com preguiça.
Falamos de “educação financeira” com a mesma naturalidade com que falamos de “fazer exercícios” ou “ler mais livros”: sabemos que é importante, fingimos que tentamos, mas no fundo esperamos que a boa sorte compense a falta de hábito.
O problema é que o dinheiro, diferente da sorte, não tem senso de humor. Ele foge rápido de quem o trata com descuido.
E o brasileiro, entre a planilha e o impulso, ainda prefere o impulso! Compra o que não pode, financia o que não precisa, ignora o extrato e depois se espanta com o vermelho no final do mês — como se fosse um acidente de percurso e não uma consequência previsível.
A cultura do improviso, tão celebrada como traço de criatividade nacional, é também o nosso calcanhar financeiro. A fé é grande, o planejamento é curto e o futuro, incerto.
Enquanto isso, a poupança de emergência continua sendo lenda urbana. A previdência privada é vista como capricho dos ricos. E o cartão de crédito segue funcionando como anestesia emocional: compra-se a sensação de conforto hoje e empurra-se o desconforto para a fatura de amanhã.
Planejar é um ato de humildade — reconhecer que o dinheiro é finito e o tempo, implacável. Exige disciplina, renúncia e método. Três palavras que soam estranhas a um país que prefere o otimismo vazio à realidade concreta. Porque o brasileiro não gosta de lidar com limites: nem os financeiros, nem os próprios!
A falta de planejamento não é apenas um problema econômico; é cultural. É o espelho de uma sociedade que adia tudo o que dá trabalho, que confunde desejo com necessidade e que transforma irresponsabilidade em estilo de vida. Somos o povo do “depois eu vejo”, o “mês que vem eu começo”, o “dessa vez vai dar certo”.
Enquanto isso, o tempo passa, as dívidas crescem e o discurso de planejamento segue firme — bonito, organizado e completamente inofensivo.
O Brasil, afinal, é um país de planejados… no papel!














Realmente esse é o retrato do Brasil,”amanhã eu vejo,amanhã eu começo, depois eu resolvo “, e assim o tempo vá passando as dívidas se acumulando, e qdo caímos na realidade, a velhice chegou,não há mis tempo…..