Coluna publicada no dia 30/09.
Está em tramitação na Câmara de Vereadores o Projeto de Lei nº 75/2025, que autoriza a Prefeitura de Canela a contratar operação de crédito de até R$ 41 milhões junto à Caixa Econômica Federal, dentro do Programa FINISA. É uma carta de crédito: o município poderá acessar o valor se precisar, mas não é dinheiro imediato na conta. O prefeito Gilberto Cezar explicou que a aprovação é uma permissão, não uma obrigação de uso integral.
Destino
O quadro de aplicação previsto é o seguinte:
- Pavimentação – R$ 25 milhões
- Habitação – R$ 5 milhões
- Esporte/lazer – R$ 5 milhões
- Saúde – R$ 2 milhões
- Segurança – R$ 1 milhão
- Outros – R$ 3 milhões
O detalhe de quais ruas, praças e prédios não aparecem na lei.
Debate
Para o vereador Alberi Dias, o ponto central do debate é se o município deve assumir esse novo compromisso. O vereador questionou: se já existe uma autorização de R$ 17 milhões aprovada em 2024, por que assumir mais uma? Essa foi a provocação dele.
Já o presidente da Câmara, Felipe Caputo, se frisou uma hipocrisia para comentar as críticas. Lembrou que no governo passado se fazia abertura de crédito e aquilo era tratado como grande solução, mas hoje alguns apontam como problema. Caputo admitiu que ele mesmo criticava antes, mas justificou: criticava porque, segundo ele, naquela época era só isso, não havia projetos concretos. Agora, defendeu, a abertura de crédito é apenas mais uma ferramenta, não a única.
Ruptura
O vereador Leandro Gralha subiu à tribuna para tratar de um assunto delicado: a ameaça de expulsão do MDB, como a coluna adiantou ontem, em edição extraordinária. Ele mesmo confirmou que o tema foi cogitado dentro do partido e não se esquivou: “Seria até um favor se isso acontecesse, porque eu não estou satisfeito dentro do partido”. Gralha reforçou que sempre vai se manter sincero com a comunidade, mesmo que isso custe sua permanência na sigla.
Aqui cabe uma observação importante: se o vereador for expulso do partido, ele não perde automaticamente o mandato. A jurisprudência do Tribunal Superior Eleitoral é clara. Funciona assim: pela regra de fidelidade partidária, o mandato é considerado do partido e não apenas da pessoa eleita. Por isso, quando o parlamentar sai voluntariamente, sem justa causa, o partido pode pedir a cassação e a cadeira vai para o suplente. Mas no caso de expulsão, entende-se que a decisão não partiu do vereador. Nesse cenário, não há perda de mandato e o vereador pode se filiar a outra legenda sem risco de cassação.
Inclusive, perguntei ao próprio Gralha se havia alguma conversa para uma eventual filiação ao PSD, partido do prefeito, por exemplo. A resposta foi direta: não, não existe conversa nesse sentido.
Durante o discurso, ele também recordou a época em que esteve à frente do hospital de Canela. Citou o esforço para tirar a instituição do Cadin, o trabalho para entregar o novo CME e até a busca por equipamentos básicos como carrinhos de anestesia e camas hospitalares. “Será que eu fui tão ruim assim lá atrás? Eu sei muito bem o que fiz”, disse, lembrando que o hospital que assumiu tinha dívidas e estruturas precárias. Também mencionou o lixo acumulado no terreno, que chegou a somar mais de 40 caçambas retiradas na época.
Gralha mesclou o desabafo pessoal com o posicionamento político. Reconheceu amizades dentro do MDB, mas deixou claro que não se sente mais confortável no partido. “Eu deixo bem à vontade a decisão do MDB. Se quiserem me tirar amanhã, fiquem à vontade. Eu não vou deixar de ser amigo de ninguém, mas eu não estou satisfeito”, resumiu.
Desabafo
O vereador Cabo Antônio também marcou a sessão com um discurso forte sobre presença em plenário. Sem citar nomes, criticou colegas que deixam a Câmara antes do encerramento das sessões: “Não concordo com a atitude de certos vereadores aqui dentro dessa Casa que faltam com respeito com o voto lá na rua da sua comunidade”.
Ele reforçou que o vereador é pago para estar ali, para ouvir, debater e votar. “Tudo bem, deu algum problema de saúde na família, teve que sair correndo, mas pelo amor de Deus, a gente é pago para isso, para exercer a função do vereador aqui dentro, para debater, para escutar. E nós vamos ficar de braço cruzado vendo isso aí?”, questionou.
Cabo Antônio também defendeu a aplicação de medidas mais duras: “O salário dele é pago integralmente. Agora, se nós começarmos a descontar as vezes que ele saiu antes de terminar a sessão, vai doer no bolso”. O discurso foi direto, apontando para a necessidade de rever até o regimento interno da Câmara para coibir a prática. Para ele, a postura de alguns vereadores fere a seriedade da Casa e desrespeita quem confiou o voto. Para quem vocês acham que foi esse discurso?