Leonardo Santos
CANELA – A retirada do comércio irregular do entorno da Catedral de Pedra foi uma das ações mais marcantes dos últimos meses no município. A operação ocorreu após anos de reclamações da comunidade e críticas de visitantes. O secretário de Trânsito e Fiscalização, Adriel Buss, e o diretor de Fiscalização, Márcio Sauer Dias, detalharam os bastidores do trabalho que resultou na reorganização daquele espaço simbólico para a cidade em entrevista exclusiva ao Jornal Integração realizada na manhã de hoje, quinta-feira (4). Além da questão do comércio irregular, os dois também pincelaram sobre outros assuntos.
Operação histórica na Catedral
Segundo eles, a operação começou a ser desenhada logo após a eleição municipal de 2024. “No dia 7 de outubro já estávamos sendo cobrados. E no dia 16 de janeiro conseguimos compor toda a equipe. Desde lá iniciamos um processo jurídico, passo a passo, porque era necessário fechar todas as lacunas legais antes de agir”, explicou Buss.
Os dois ressaltaram que o comércio instalado ao redor da Catedral não tinha ligação direta com o artesanato indígena, como chegou a ser divulgado. “Não havia artesanato. Se houvesse, teria ficado com eles. O que existia era venda de produtos industrializados, muitos de origem estrangeira. O problema nunca foi cultural, foi comercial e irregular”, destacou Márcio.
A estratégia envolveu notificações previstas no Código de Posturas, diálogo com Ministério Público Estadual e Federal e acompanhamento da Polícia Federal, que confirmou a tese da Prefeitura. “Se tivesse alguma brecha jurídica, em 10 dias já teriam ingressado com pedido para reverter. Mas não havia. Fechamos todos os espaços legais e realizamos a operação de forma firme e correta”, disse Buss.
Além da retirada, a Prefeitura buscou embelezar o espaço. Foram instalados vasos ao redor da Catedral, ação simbólica para marcar a mudança. “O investidor que chega em Canela olha primeiro para a Catedral. É o cartão de visitas da cidade. Não havia como manter aquele cenário de desorganização ali”, acrescentou Márcio.
Impacto pessoal e ameaças
O trabalho de enfrentamento ao comércio irregular e às abordagens também trouxe reflexos pessoais para os gestores. Tanto Buss quanto Márcio relataram situações de perseguição e ameaças.
Buss destacou que, desde janeiro, já foram quase 10 boletins de ocorrência registrados por conta de intimidações. “Domingo passado fui a um evento de carros antigos com minha família e havia dois veículos nos seguindo. Depois começaram a tirar fotos nossas. Precisamos acionar a Brigada. Isso mostra como a função extrapola o campo profissional e passa a mexer com a família”, contou.
Buss reforçou a gravidade dessas situações. “Eu tenho 18 anos e meio de Polícia Militar e sempre consegui passear com minha família em Canela. Hoje não posso mais. Estamos pagando um preço alto”.
Márcio continuou. “Quando atinge a família, a gente repensa. Mas seguimos firmes porque sabemos que estamos do lado da lei”.
O secretário frisou ainda que a equipe não está na Prefeitura por interesse financeiro. “Não estamos aqui por salário. Se fosse por isso, eu teria continuado minhas consultorias. Estamos porque acreditamos que Canela merece uma cidade melhor para as nossas famílias e para a comunidade”, afirmou.
Monitoramento e integração com forças de segurança
Outro ponto enfatizado por Buss e Márcio foi o fortalecimento do monitoramento em Canela. A cidade conta hoje com uma central que funciona 24 horas, produzindo provas que são usadas em processos administrativos e judiciais.
“A abordagem irregular não é combatida só com multa. Hoje a multa mínima é de R$ 18 mil, depois dobra. Mas além disso, há advertências, processos civis, criminais e relatórios enviados ao Ministério Público. O monitoramento registra tudo em vídeo e foto, e esse material é encaminhado para a Justiça. Não é perseguição, é aplicação da lei”, disse Márcio.
Buss complementou que as operações contam com apoio da Brigada Militar, Polícia Civil e Receita Federal. “Temos planejamento estratégico para que, em no máximo três horas, uma equipe completa esteja pronta para agir em qualquer ponto da cidade. É um trabalho integrado com todas as forças de segurança”, explicou.
Defesa da legalidade e pequenas ações
Ambos reforçaram que a atual gestão tem como marca o cumprimento da lei e a atenção às pequenas demandas da cidade. “Durante anos Canela não cumpria sua própria legislação. Agora cumpre. Isso dá segurança para investidores e para a população”, destacou Buss.
Buss citou exemplos simples, mas simbólicos: “Quando a gente viu pela primeira vez a calçada da igreja sendo lavada ou vasos da praça João Corrêa reorganizados, percebeu que há um cuidado com os detalhes. Pequenas ações constroem grandes resultados. E a equipe do prefeito Gilberto Cézar tem mostrado isso no dia a dia”, afirmou.
Planejamento e crescimento de Canela
O secretário Adriel Buss também falou sobre a necessidade de pensar Canela a longo prazo. “A cidade sempre foi planejada apenas em ciclos de quatro anos. Isso é um erro. Canela vai crescer muito, tem espaço para expansão em direção a São Francisco e outras regiões. Precisamos pensar em 20, 30 anos à frente, e não só no mandato”, observou.
Ele destacou que o prefeito exigiu planejamento desde a campanha. “É isso que estamos fazendo agora: revendo o plano de mobilidade urbana, identificando falhas e ajustando investimentos. Não podemos repetir erros do passado”, disse.
Mobilidade urbana e desafios no trânsito
Entre os maiores desafios, está a mobilidade urbana. Buss explicou que o plano está sendo reavaliado e que mudanças estruturais precisarão ser feitas. “Canela tem ruas estreitas, pontos de congestionamento e apenas uma entrada principal. Durante o Sonho de Natal, isso vai gerar problemas”, afirmou.
Ele citou que algumas ruas, talvez, precisarão ter estacionamento proibido em um dos lados para melhorar a fluidez, enquanto outras deverão adotar sistema binário, com sentido único. “Não é simples mudar o trânsito. Se eu alterar o sentido de uma rua sem estudo, posso inviabilizar o comércio local ou complicar a saída da rodoviária. São decisões que impactam a cidade por décadas”, alertou.
Outro ponto será a retirada do tráfego pesado do Centro. “Não faz sentido caminhões atravessarem a Júlio de Castilhos em pleno horário de pico. Precisaremos estabelecer horários específicos para carga e descarga, como acontece em cidades turísticas do mundo inteiro”, acrescentou.
Márcio fez ainda uma analogia com Porto Alegre. “A Avenida Farrapos perdeu comércio depois da implantação do corredor de ônibus e supressão dos estacionamentos. Não podemos repetir isso aqui. Se tirarmos estacionamento da Júlio, por exemplo, o canelense deixa de comprar ali. Temos que pensar no impacto para os próximos 20, 30 anos”, completou.
Segurança pública no horizonte
Por fim, Adriel Buss comentou sobre a evolução da Secretaria de Trânsito e Fiscalização que deverá passar a ser Secretaria de Segurança Pública. “Se tudo se encaminhar como planejamos, a partir do próximo ano teremos também a missão de Secretaria de Segurança Pública. É uma demanda que cresce em Canela e vamos preparar a estrutura para isso”, revelou. Buss completou o assunto esclarecendo que não deverá haver adição de cargos a Secretaria deverá somente mudar a nomenclatura e ter mais atribuições legais.
A entrevista completa pode ser conferida no Facebook do Jornal Integração na aba vídeos ou clicando neste link https://www.facebook.com/jornalintegracaohortensias/videos/1788763472519219
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