Coluna publicada no dia 14/07.
Na semana passada alguém comentou que essa poderia ser “a melhor Festa Colonial de todos os tempos”. Eu ouvi, guardei a frase e, sinceramente, depois de passar por lá nesse primeiro final de semana, acho que ela faz sentido. A estrutura montada, o movimento do público, a diversidade dos produtos, a programação cultural… tudo está funcionando. Mas o que mais chama atenção não é só o tamanho da festa. É o jeito como ela está sendo feita: com muitas mãos. Com colaboração verdadeira.
Na sexta-feira da abertura oficial, a Praça João Corrêa virou um ponto de encontro de autoridades. Tinha governador, deputados estaduais e federais, prefeitos de várias cidades vizinhas, secretários de governo e lideranças regionais. Esse tipo de mobilização não acontece por acaso. Isso é fruto de articulação, de convite direto, de telefonema, de construção de rede. E esse trabalho, nesse caso, tem sim o dedo do prefeito Gilberto Cezar, que conseguiu colocar Canela no centro do mapa político do Estado ao menos por um dia.
Independente de posição política, é preciso reconhecer: isso é importante pra cidade. Porque uma festa desse porte também é um espaço de articulação, de mostrar o que a cidade tem, o que está fazendo e onde quer chegar. Quem esteve ali não saiu de mãos abanando. Levou uma impressão positiva — e, em muitos casos, levou compromissos, contatos, possibilidades. E isso, lá na frente, pode virar apoio, investimento, parceria. Política se faz também com esse tipo de palco.
A manhã antes da festa
Na sexta pela manhã, ainda antes da abertura oficial, eu consegui dar uma passada na praça. A estrutura estava praticamente pronta, com alguns ajustes sendo feitos ali e aqui. Ainda tinha martelo batendo, cabos sendo testados, flores sendo arrumadas nas entradas dos pavilhões. Mas o clima já era de expectativa boa. O pessoal da organização, mesmo cansado, parecia animado. Os produtores, com aquele brilho no olhar de quem trabalhou muito, mas está prestes a ver tudo acontecer. E quem passava por ali já parava, perguntava, elogiava.
Era como se todo mundo soubesse que a festa ia ser um sucesso, mesmo antes de começar.
Todo mundo ajudando, cada um com seu papel
Talvez esse seja o ponto mais forte da edição deste ano. Todo mundo participou. Sindicato dos Trabalhadores Rurais, Prefeitura, produtores, voluntários, equipes técnicas etc. Cada um fez sua parte — e quando isso acontece, o resultado costuma aparecer. A Festa Colonial é um evento coletivo, e quando a cidade entende isso, tudo anda melhor.
Não é só uma feira. É um evento que representa o jeito de viver, produzir e celebrar de muitas famílias de Canela. Tem gente ali que planta, colhe, cozinha, embala e vende. Tem gente que se organiza durante meses, que investe, que aposta. E quando vê a praça cheia, o estande movimentado, a fila pra comprar cuca ou salame… isso tudo tem valor. Tem retorno. E tem motivo pra orgulho.
A praça como palco principal
Desde o ano passado, a Festa voltou a acontecer na Praça João Corrêa, bem no centro da cidade. É uma escolha que, apesar dos desafios, tem se mostrado acertada. Primeiro porque aproxima o evento da comunidade. Quem mora em Canela passa pela praça todos os dias. Ver a cidade viva, cheia, colorida, com música, movimento e cheiros bons, traz um sentimento diferente. A praça vira um símbolo — e nesse caso, vira também palco principal.
Segundo porque, neste momento, não há outro espaço disponível com as condições necessárias para receber um evento desse tamanho. O antigo Centro de Feiras está desativado, e por enquanto não há alternativa pronta. É claro que a cidade precisa, sim, de um novo espaço. Um centro de eventos bem estruturado, acessível, com infraestrutura adequada pra feiras, congressos, shows, encontros culturais. Isso é urgente. Mas até lá, a praça cumpre bem seu papel.
Aliás, talvez ela tenha virado mais do que palco. Talvez hoje ela seja o pulmão da cidade. Porque, se a igreja matriz ali ao lado é o coração — o símbolo da fé, da história e da identidade local — a Praça João Corrêa é o espaço onde a cidade respira, onde as coisas acontecem, onde o cotidiano vira celebração.
Turismo, sim. Mas também identidade
Muito se fala da Festa Colonial como evento turístico — e é verdade. Ela atrai visitantes, movimenta a economia local, coloca Canela na rota de quem busca experiências autênticas. Mas também é um evento de identidade. De quem mora aqui. De quem vive da agricultura. De quem cresceu com o cheiro de cuca no forno e com o som da bandinha nos finais de semana.
Esse é o grande mérito da festa: conseguir unir tradição com movimento, cultura com comércio, turismo com pertencimento. E isso só acontece quando todos os lados se envolvem. Quando os produtores confiam. Quando a Prefeitura organiza. Quando o Sindicato puxa junto. Quando a comunidade abraça. Quando a cidade acredita.
E ainda tem muito pela frente
A Festa Colonial segue até o dia 27 de julho. Ainda tem muita coisa pra acontecer. Tem mais atrações culturais, mais oficinas, mais produtos pra experimentar. E o melhor de tudo: ainda tem espaço pra encontrar pessoas, pra conversar com os produtores, pra ouvir histórias, pra olhar nos olhos de quem faz.
Esse contato direto, aliás, é uma das coisas mais bonitas da festa. Saber quem plantou a batata que virou o pão que tu tá comendo. Saber de onde veio o queijo, como foi feito o doce, quem bordou o pano de prato. Isso tudo cria valor. Cria relação. E valor e relação são coisas que nenhuma embalagem de mercado substitui.
E pra onde a gente vai daqui pra frente?
A pergunta que fica olhando pra tudo isso, é: onde essa festa deve acontecer no futuro? A Praça João Corrêa vai continuar sendo o palco ideal? Ou, se tivermos um novo centro de eventos, a festa deve migrar?
Minha opinião, por enquanto, é clara: hoje, a praça é o melhor lugar. Porque ela dá visibilidade, acessibilidade, e principalmente, proximidade com as pessoas. Mas isso não anula a necessidade de um espaço novo. Canela precisa de um centro de eventos. Precisa de um local à altura da força que tem — não só pra abrigar a Festa Colonial, mas tantos outros eventos que poderiam acontecer por aqui.
Quando esse espaço existir — e esperamos que não demore — aí sim será possível discutir com mais calma se a festa deve mudar de endereço. Mas até lá, a praça segue sendo o pulmão da cidade. E a Festa Colonial, uma vitrine que mostra tudo que Canela tem de bom.